A sensação de vergonha do corpo é presente na vida de quase todas as mulheres. Quem nunca sentiu um incômodo com a forma do corpo, o cabelo, a altura, a musculatura (ou falta dela) e de suas características faciais?

Lembro dessa sensação quando tinha 8 anos. Era o casamento de uma tia, em uma capela franciscana, aos pés de Belo Horizonte. Foi quando me deparei, pela primeira vez, com esse “nó no estômago”. Envergonhei-me da minha forma física, do meu penteado, e me achava uma menina um tanto sem graça e meio rechonchuda.

Body shaming é uma expressão cada vez mais conhecida no nosso “cardápio” de expressões e palavras que povoam, principalmente, a mente feminina. O termo em inglês é para nomear atitudes destrutivas acerca do corpo de alguém a partir do olhar, comentário e ofensa. Infelizmente, o body shaming vem ganhando cada vez mais espaço nas mídias sociais.

A vergonha do corpo tem um escopo amplo que pode ser aplicado em diferentes faixas etárias. Por exemplo, entre os adolescentes, quando muito altos, o body shaming pode vir na descrição dos mesmos como desajeitados e esquisitos. Comentários assim podem, invariavelmente, trazer efeitos emocionais negativos, como autodepreciação, diminuição da autoestima e outros problemas como distúrbios alimentares, ansiedade e dismorfia corporal.

A literatura médica sobre o comportamento alimentar e autoavaliação corporal traz dados interessantes sobre o tema. Um levantamento sobre os filmes infantis, por exemplo, aponta diversas mensagens que enfatizam a atratividade física como uma parte importante dos relacionamentos, e que personagens obesos quase sempre são retratados como pouco atraentes, malvados e cruéis.

Outro artigo mostra que mais de 50% da população adulta inglesa já sentiu vergonha do seu peso ou cabelo. Nessa pesquisa realizada com 2000 adultos, 56% disseram que alguém já fez comentários desagradáveis sobre sua aparência, sendo que o peso era o alvo mais comum para a vergonha do corpo.

“Pesquisas mostram que em meio à maioria das mulheres que trabalham e têm sucesso existe uma subvida secreta que envenena nossa liberdade por conceitos de beleza, obsessões com o corpo e pânico de envelhecer”. Como fala Naomi Wolf no livro “O mito da beleza”.

No meu caso, a compreensão e sensação de pertencimento nesse corpo que agora habito é recente. Com a maternidade e maturidade, aprendi a aceitar minhas formas, meus contornos e minhas marcas. Todas elas fazem parte da construção do corpo feminino que deu à luz, sofreu de amor, cresceu, amamentou, fez dieta e comeu uma boa massa com vinho.

Como médica, mulher e mãe, meu convite é: reconecte-se com seu corpo. Escreva uma bela carta agradecendo tudo que ele te proporcionou. Nosso corpo é história. Escolha como quer dividi-la com o mundo.

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2 comentários
  1. Ótimo texto, assunto bem abordado e ainda há muito a discorrer sobre ele. A compreensão e sensação de pertencimento exigem tempo, paciência e uma conquista diária de me aceitar sendo quem sou. Importante desconstruir mitos de mulheres feitas pelo Photoshop e olhar pra si com compaixão .

  2. BODY SHAMING QUE GERA UM BULLYING NA ESCOLA. NOSSA! NAQUELA ÉPOCA ERA TÃO COMUM AQUELAS RODINHAS DE MENINOS QUE CAÇOAVAM DOS NOSSOS CORPOS. EU LEMBRO DE FUGIR DELES, POIS SEMPRE ME VIAM COMO A ESQUISITA, FEIA, ETC. ESSAS HISTÓRIAS DE VERGONHA COM O PRÓPRIO CORPO NOS ACOMPANHAM E, MESMO, QUANDO FINALMENTE ACEITAMOS A NOSSA GEOGRAFIA, AINDA ASSIM OS FANTASMAS FICAM ALÍ ESCONDIDOS. É UM CAMINHO ÁRDUO E NAOMI WOLF ESTÁ CERTA QUANDO DIZ: ” É MAIS UM PESO QUE COLOCAM EM NOSSOS OMBROS”. SÃO MUITAS AS PRESSÕES QUE SOFREMOS AO LONGO DA VIDA, MAS NO MOMENTO EM QUE DESPERTAMOS PARA ESSAS QUESTÕES vem também uma SENSAÇÃO DE LIBERDADE JAMAIS SENTIDA ANTES.

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