A primeira vez que minha filha me perguntou isso perguntei se tinha tecla SAP. Se você se identifica, bora mergulhar no léxico adolescente. Aliás, cada dia mais interessante para mim, à medida que passo mais tempo com minha filha. Nesse quesito, não posso mentir, tenho que agradecer a 2020 por esta oportunidade.
Shippa vem de “relacionamento”, em português. Ou seja, shippar duas pessoas, significa torcer para que elas formem um casal e sejam felizes, que desenvolvam um relacionamento.
A pessoa que pratica o ato de shippar é conhecida por shipper, e as pessoas envolvidas no ship (o casal) são chamados de shippados. Assim já podemos substituir a pergunta inicial para: – Mãe, você shippa (torce para que) drarry fiquem juntos? Ainda falta o entender o drarry para fazer sentido.
Acho que por falta de tempo (só pode), os adolescentes cada dia mais diminuem as palavras, unificam, criam uma nova linguagem escrita. São siglas que tenho que usar minha criatividade para descobrir, sem dar google. No caso do drarry não teve jeito, tive que pedir ajuda aos universitários.
A palavra “drarry”, neste caso, é a união de duas personagens da saga Harry Potter: Draco Malfoy e Harry Potter. Ou seja, há alguma discussão virtual sobre quererem que o Draco e o Harry formem um casal. Ainda não consegui entender bem se isso vale para as personagens ou atores. Minha filha diz que vale para os dois. Pois é, fiquei na mesma, sem entender.
Ainda para não deixar tudo simples e sem sal, o shippar vale para casais que estejam juntos ou não. Os fãs não precisam de fatos para apoiar ou não um casal. Apenas acreditam e criam apelidos para o par. Um exemplo de namorados na vida real que não são shippados pelos fãs, por não acreditarem que combinem, é o dos cantores Vitão e Luiza Sonsa. Um casal que foi muito shippado no passado recente foi o #Brumar, Bruna Marquezine e Neymar. Assim os apelidos e # são criadas. Nem os jornalistas Evaristo Costa e Sandra Annenberg ficaram de fora, podem dar google #Evarisandra, romance fictício, obviamente. O céu é o limite para a imaginação e o ato de shippar.
Mas nada disso importa. No fim do dia, o que eu mais acho bacana mesmo é o quanto podemos aprender a partir de uma simples pergunta, que vai muito além do significado de shippa e de drarry. Realmente as gerações posteriores à Y enxergam o mundo de outra maneira, com mais liberdade de expressão e de questionamento.
Primeiro pelo fato de torcerem por um casal homossexual, sendo que Harry é, ao menos na história, uma personagem heterossexual assumida, casando-se com a irmã do melhor amigo. Segundo, porque na teoria os dois seriam inimigos. Harry o herói, Draco, o vilão. Mas a interpretação não é mais maniqueísta, não existe o bem e o mal. Existem personagens que tiveram experiências diferentes e são pessoas por inteiro, boas e más ao mesmo tempo.
Essa maturidade eu não tinha na minha adolescência e muito menos interpretaria dessa forma um filme de maneira espontânea.