Sempre antes de escrever a coluna, converso com minha “personal teen”. “E aí qual o tema do momento? O que está pegando, filha?” Ela sempre me traz ótimas reflexões. Hoje é a vez do #StopAsianHate.

O ódio é um vírus que se manifesta de diferentes maneiras em cada um de nós, fato. O que eu não consigo entender é como a humanidade nunca quis buscar uma vacina pra ele. Cheguei a pesquisar mais para poder escrever aqui, mas percebi que o tema é muito mais complexo e eu não tenho conhecimento suficiente para me entranhar por essa via. Escolho, portanto, o caminho mais fácil: o de convidá-los a refletir o que temos vivido nestes longos meses desde que a pandemia nos acometeu.

Lembro que no meu segundo grau, início dos anos 1990, aprendi sobre a xenofobia após a queda do muro de Berlim – a liberdade que deveria ser celebrada, trouxe o ódio contra “àqueles alemães orientais que consumiam o dinheiro dos ocidentais trabalhadores”. O muro tinha caído fisicamente, mas não dentro da cabeça de algumas pessoas. Tive a oportunidade de fazer intercâmbio na Alemanha no auge dos meus 16 anos e visitar campos de concentração. À medida que fui crescendo, percebi o tanto que a xenofobia estava já entranhada em nossa cultura há séculos.

Enfim veio a pandemia. E se ela por si só já não bastasse pelo sofrimento que vem causando a milhares de famílias, vem o ser humano e pisa na ferida. O aumento de crimes contra a comunidade asiática, principalmente, nos Estados Unidos, é surpreendente. O New York Times publicou uma matéria que consolidou mais de 110 episódios desde março de 2020. As agressões expressavam hostilidade racial explícita verbal e sempre remetiam ao novo coronavírus. O ódio como motivo de uma agressão é difícil de se provar. São crimes na maioria das vezes subestimados e subnotificados. O que ficamos sabendo são os relatos mais chocantes.

Nas últimas semanas uma campanha tem crescido nas redes sociais com a hashtag #StopAsianHate (parem o ódio aos asiáticos) que pede pelo fim de ataques racistas contra comunidade asiática norte-americana, justamente após o assassinato de oito pessoas, seis das quais eram mulheres asiáticas terem ganhado as manchetes.

O aumento da xenofobia é desesperador: gera medo e reduz a essência de um indivíduo a estereótipos como todo tipo de preconceito. Os crimes contra asiáticos aumentaram quase 150% em 2020, de acordo o Centro para o Estudo do Ódio e Extremismo. Segundo o centro responsável por registrar as agressões contra asiáticos nos EUA, o Stop AAPI Hate, 3.975 casos foram relatados no último ano. A pesquisa também revelou que os incidentes afetam mulheres 2.3 vezes mais que homens (o que não é novidade o ódio contra a mulher!).

E o que nós brasileiros temos a ver com isso? Se você acha que esse ódio não existe aqui, engana-se. O Brasil é o segundo em número de japoneses fora do Japão e possui uma comunidade com mais de 300 mil chineses. E o preconceito é algo recorrente na vida deles. #StopAsianHate aqui também.

O Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) criou uma central de denúncias para reunir relatos de assédio à comunidade asiático-brasileira em todo o Brasil. Mais de 200 denúncias foram recebidas e segundo eles há indicativos de que este tipo de manifestação pode passar dos 300 mil casos desde janeiro de 2020. Qualquer pessoa que manifesta abertamente um pensamento racista ou xenofóbico estimula outras pessoas que pensam da mesma forma a se manifestarem, uma bola de neve.

Apesar da hashtag #StopAsianHate estar em alta, na prática, compartilhar não é suficiente. Acabar com preconceito é muito difícil quando ele está tão enraizado na sociedade, mas conversar sobre e admitir que existe um problema já é algo. A única coisa que reduz o racismo e o preconceito é o conhecimento. Quando conhecemos o outro, a história, passamos a entender que somos iguais, todos humanos.

E podemos além de compartilhar hashtags, como a própria #StopAsianHate, explicar e parar de propagar falas, frases e piadas que vêm com o preconceito enraizado e muitas vezes não percebemos. Eu tenho aprendido muito sobre isso depois que o K-Pop e os seriados coreanos e tailandeses invadiram minha casa. Deixo aqui algumas frases para não repetirmos e pensarmos sobre como pode impactar no outro. Mais amor por favor.

Sobre o povo asiático você já falou ou ouviu….
“São todos iguais”! – Essa frase reforça um estereótipo de que asiáticos tem a mesma cara. Cada indivíduo é único.
“Todo asiático é inteligente”. E deste estereótipo surgia a frase….
“Mate um japonês e garanta sua vaga na universidade”.
“Fala com o japa” – ao não chamar a pessoa pelo nome, reduzimos toda a personalidade em apenas uma característica física.
“Mas você enxerga bem com o olho rasgado, quase fechado?”
“Volte pra China! Foram vocês que inventaram o vírus e o trouxeram para cá”
“Chinês é sujo”
“Você é o vírus”. “Você está infectado.”
“Maria hashi” – atração por pessoas asiáticas. É literalmente objetificar a pessoa.

O que podemos fazer?
Denuncie casos de racismo em delegacias;
Quando perceber alguma agressão, alerte seus amigos e familiares sobre piadas racistas;
Se alguém te contar algo que sentiu como preconceito, não invalide, acolha
Compartilhe histórias e amplifique as vozes de pessoas asiáticas;
Diversifique quem você segue nas redes sociais e inclua ativistas e pessoas que falam sobre sua vivência; isso gera empatia ao compreender o problema do outro. Isso também vale para LGBTQ+, negros, pessoas com deficiência etc.
O Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) criou uma central de denúncias para reunir relatos de assédio à comunidade asiático-brasileira. O nome do canal é #RacismoNão e as pessoas podem fazer suas denúncias pelo e-mail racismonao@ibrachina.com.br. #StopAsianHate

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