A proximidade da morte incomoda, assusta. Acredito que todo mundo, eu, você, nossos vizinhos, literalmente todo mundo já pensou sobre a morte. Nem que tenha sido durante o enterro de uma pessoa querida. Aliás, ir a um cemitério é uma experiência que recomendo a todos. Não pelo passeio em túmulos de famosos, como muitos guias turísticos insistem, mas pela oportunidade de pensar em quão insignificante somos.
Pode ir a qualquer cemitério. Em São Paulo, Buenos Aires, Paris, Melbourne. Em todos o cenário será o mesmo. Pessoas e mais pessoas enterradas. Gente que, como nós, carregava preocupações amorosas, financeiras, que se estressavam com o chefe, que reclamavam do vizinho mala ou da falta de tesão do parceiro. Pessoas que surtavam diante de um trânsito caótico ou do atraso de um voo. Que tiveram seus corações despedaçados algumas vezes. Gente que passou anos estudando para um concurso público ou que sonhou em ser famoso.
No fim, quando chega a morte, nada disso importa. Tem um ditado que diz: caixão não tem gaveta. E não tem mesmo. Não levamos roupas, jóias, carros, casas, muito menos nosso ego. Fica tudo por aqui. Então, me pergunto: por que tanto estresse? Em um ano difícil como esse, com a pandemia da Covid-19 dizimando milhares de vidas pelo mundo, convido todos a refletirem sobre o que, de fato, faz sentido em suas vidas? Não seria melhor trocar o ter pelo ser?
Vamos deixar de lutar para ter o carro do ano e tentar resgatar o carinho pelos nossos parentes? Quando você disse que amava seu parceiro? seu amigo? A pandemia nos trancou em casa, nos obrigou a repensar nossos trabalhos, nossas prioridades. Não dá para passar por tudo isso e seguir sendo a mesma pessoa, fazer de conta que não há uma tragédia lá fora.
Não sei você, leitor, mas eu tive Covid-19 este ano, em junho. Uns meses antes, um parente faleceu da doença. É devastador. Apesar de não ter sido internada e só ter ido ao hospital para fazer a tomografia pulmonar, posso garantir: não foi bacana. Conviver todos os dias, por três longas semanas, sabendo que um vírus mortal estava em meu corpo foi bem assustador. A gente não tem muito a fazer, só observar os sintomas, tomar os remédios, beber muito líquido e torcer para o nosso sistema imunilógico debelar o vírus. No meu caso, que já tenho uma doença imune desde os 13 anos (que será tema de outra coluna), a preocupação foi dobrada.
E sabe o que é pior? Recuperada, fui fazer uns exames de rotina. Perdi TODOS os anticorpos que tinha. Isso mesmo. Sabe aquelas vacinas de rotina que tomamos? Perdi os anticorpos para estas doenças. Como? Nem os médicos sabem explicar. Parece que o coronavírus zerou meu sistema imune. Uma bosta,claro, mas não me sinto no direito de reclamar. Estou bem, estou viva e, melhor, repensei minhas prioridades, me coloquei na pele de outras pessoas, tracei novos rumos. E você? O que a morte já lhe ensinou?