Em tempos de Olimpíadas, que nossos olhos estão voltados para o Oriente e toda sua beleza e cultura, me deparei esses dias com uma palavra que não conhecia: Kintsugi.

Kintsugi é uma arte secular japonesa que consiste em reparar pedaços de cerâmica quebrada e que se constituiu em uma filosofia de vida.

A história dessa técnica artesanal iniciou-se há cinco séculos com o objetivo de reparar uma tigela de cerâmica quebrada. Seu proprietário, o xogum Ashikaga Yoshimasa, muito apegado a esse objeto mandou consertá-lo na China, porém ficou insatisfeito com o resultado.

Recorreu então aos artesãos de seu país, que propuseram o encaixe dos fragmentos com um verniz polvilhado com ouro, restaurando a forma original da cerâmica. Embora as cicatrizes douradas fossem visíveis, mostrando o desgaste do tempo sobre as coisas físicas, valorizou o valor da imperfeição.

A filosofia aplicada ao Kintsugi é interessante nos dias atuais onde a perfeição mostrada nas mídias sociais é antagônica à “vida real”, cheia de angústias, receios, dúvidas, fracassos, enganos e que todos somos vulneráveis física ou psiquicamente. Simone Biles, uma das ginastas favoritas ao quadro de medalhas de ouro deu um exemplo nestes jogos Olímpicos de coragem e demonstração de vulnerabilidade.

No processo do Kintsugi, a secagem é um fator determinante e pode demorar semanas ou meses para endurecer, sendo fundamental para garantir durabilidade. Aqui vai meu convite para que gostemos de nós como somos: quebrados, imperfeitos, únicos e que o tempo nos prepare para a mudança.

Fotografia da exposição de Francesca Azais no IED de Turim

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