Primeiramente, antes de partilhar a minha experiência mais dura e difícil no mês de agosto e trabalhosa no mês de setembro, não poderia começar essa coluna, sem antes agradecer a Claudia Arruga por terem a compreensão de minha ausência nesse período da plataforma e para ao time incrível de colunistas do Inconformidades pelo acolhimento e mensagens carinhosas que recebi durante esse período.
Então vamos lá…
Quem aqui não já escutou ou já falou (sem a plena consciência) a seguinte frase: “Seja feita a vossa vontade”.
Eu cheguei nesta frase no dia mais crucial e importante da vida minha mãe. Tudo começou no dia 01 de agosto deste ano quando eu, minha mãe e irmã fomos diagnosticadas com a Covid-19.
O meu quadro foi muito leve fisicamente, mas infelizmente foi bem complicado para minha mãe que dois dias depois manifestou os sintomas de uma forma bem agressiva e precisou de cara ser internada diretamente para UTI do hospital e na sequência três dias depois foi minha irmã.
De repente me vi em casa somente com o meu marido (ele não pegou e testou seis vezes), sem elas e precisando cuidar da minha covid, ao mesmo tempo, que compreendia que estava iniciando uma grande e difícil jornada de nossas vidas que envolvia a saúde e a cura do ponto de vista físico, mental, emocional e espiritual.
Em nenhum momento me questionei o porquê conosco, mas senti muito medo (não por mim) de perdê-las ao mesmo tempo, de conversar com Deus (aí foi o meu início com o encontro com o divino) diariamente por meio de orações, aquela conversa de filha para pai que pedi colo, força, acolhimento e expressa que está muito difícil ser forte.
Ainda tenta ser aquela filha provedora, controladora no sentindo de mitigar qualquer possibilidade de risco e agir prontamente para solucionar. Só que esta situação era diferente, porque não poderia fazer nada já que eu estava isolada em meu quarto sozinha e tentando de alguma forma ajudar meu marido, que foi um guerreiro, um anjo protetor e um ser humano incrível para todas nós.
Os dias foram passando, os boletins de UTIs (dois por dia), tentando passar controle (o que eu já não tinha), tentando atender via on-line meus queridos clientes de terapia, tentando ser forte, nutrir meu corpo etc.
Fisicamente fui melhorando, mas emocionalmente foi ladeira abaixo. A única coisa que me restava foi buscar apoio no campo espiritual de alguma forma. Mesmo muito cansada, eu não deixava de dobrar meus joelhos e estabelecer aquela conversa com o divino, entre choros retidos, dor no peito e muito medo.
Quando recebi alta, dois dias depois minha irmã saiu da UTI e foi para o quarto. Já mamãe havia saído da UTI, foi para o quarto, mas no seu 12º dia (foi o maior pico dela) precisou retornar para a unidade pela piora.
Neste dia altamente fatídico, porque chorei de alegria pela minha irmã e ao mesmo tempo pela piora da mãe.Ela estava fazendo o uso de 100% da capacidade do aparelho de VNI (ventilação não intrusiva) e que os médicos informaram que dariam 6 horas para que o organismo dela fizesse um click (virada) para ter que ser entubada.
Lembro bem, que quando desliguei o telefone e a minha volta vi a estátua de bronze de Santa Catarina (estava no hospital para levar utensílios para minha irmã) e neste momento, eu senti uma fraqueza nas pernas e um choro tão forte me dominou que cai de joelhos na recepção e disse numa fala muito sincera de total redenção:
“Senhor, não tenho mais força para controlar nada! Ela é sua filha e minha mãe. Não era esse o fim que eu imaginava. Tenho muitos sonhos ainda com ela, mas me mostraste que o universo é superior e implacável.
Compreender essa lei divina é uma jornada dura de crescimento e total desapego. Se esse for o meu caminho, a minha cartilha de aprendizagem, eu aceito, acolho em meu peito. E hoje eu sinto o que é FÉ: “que seja feita a vossa vontade, pois nada está no meu controle. Que a melhor obra divina se estabeleça.”
Fui para casa e tentei de alguma forma me concentrar nos afazeres do fim do dia, dar atenção para minha filhota peluda, conversar com o meu marido, arrumar a casa e de alguma forma tentar me desapegar mesmo sentindo uma angústia muito grande. Quando chegou a noite, orei, meditei e sempre a frase presente: “que a melhor obra divina se estabeleça”.
Adormeci e na manhã seguinte não recebemos nenhuma ligação e às 13h00 o telefone tocou era do hospital não tive coragem de atender, meu peito voltou a doer e meu marido atendeu o telefone só escutou. Não aguentei ficar perto, quando de longe eu escutei a frase: “Que Maravilha, Graças a Deus!”
Sim meus queridos, mamãe reagiu! Os pulmões começaram a ter forças. A médica estava emocionada e toda equipe, porque sim o milagre aconteceu!
O que eu aprendi?
Que a mão da vida é implacável! Quando as adversidades batem a sua porta e lhe coloca diante da sua máxima fragilidade, vulnerabilidade só lhe resta compreender tudo isso e não se perguntar: “Por que Eu?” e sim “E agora?”
Acolher e compreender que tudo faz parte para seu crescimento e desenvolvimento requer inteligência espiritual. Segundo Danah Zohar, física, filósofa do MIT e psicóloga da Universidade de Harvard que é uma das pioneiras em promover a aceitação deste tema como mais uma competência a trabalhar.
Com base nisso, apresentou em seu livro “Connecting With Our Spiritual Intelligence”, com um propósito muito específico: delimitar e especificar os princípios que orquestram esse tipo de inteligência.
Tais como:
- Desenvolver uma consciência de nós mesmos. Saber quais são nossos valores, em que acreditamos, o que nos define.
- Aprender a ser receptivo ao que nos rodeia através de uma calma interior adequada, através do equilíbrio livre de medos, pensamentos obsessivos, preocupações…
- Agir a partir de nossos princípios e assumir as consequências.
- Ter um sentimento de integração, saber como se conectar com o que nos rodeia.
- Cultivar a compaixão e a empatia.
- Valorizar as pessoas pelo que são, aceitando o que nos diferencia.
- Defender nossas convicções e valores.
- Ser humilde.
- Não ter medo de fazer perguntas para saber o porquê das coisas.
- Ter perspectiva e senso crítico.
- Desenvolver a resiliência
- Ter vocação para alguma coisa.
Desenvolver esses pontos, permitem perceber conexões mais significativas entre a vida cotidiana, suas preocupações, eventos e lidar com as adversidades da vida com sabedoria.
Além disso, desenvolver essa inteligência nos ajuda a prestar atenção em aspectos que valem a pena trabalhar no que tem um significado, no que nos permite investir em uma vida com mais sentido de felicidade (subjetivo a cada indivíduo) e real.
Abraçar esse crescimento pessoal e espiritual me aproxima mais da minha existência humana, do melhor de mim e do pior também. O qual, possa espelhar o melhor de mim em diversos papéis que assumo minha vida de forma genuína, servindo aos outros e impactando de forma mais funcional na sociedade.
Desejo a todos uma vida cada vez mais real, bem vivida, genuína e com muita saúde!
Obs.: A família está curada e feliz!
2 comentários
👏👏👏 de pé!
Sempre querida Susanne, mesmo quando possamos achar que não tenhamos força. Mas como diz o ditado: “A fé remove montanhas “.