Se você ainda acha que Botox® é tratamento para rugas, te convido a continuar comigo nessa viagem pela história de um dos procedimentos estéticos mais antigos, seguros e solicitados na medicina estética.

Preciso começar dizendo que o nome Botox® é como dizer Gilette® ao invés de lâmina de barbear, ficou consagrado pelo uso, mas não é o nome do tratamento e sim uma excelente marca de Toxina Botulínica do laboratório Allergan, assim com Dysport® do laboratório Galderma e Xeomin® do laboratório Merz.

Todas essas toxinas botulínicas são ínfimas frações de proteína produzidas a partir do Clostridium botulinum, com técnicas modernas e seguras. Sua função é bloquear a passagem do estímulo nervoso no músculo, diminuindo sua movimentação. O tratamento com as três toxinas citadas têm duração semelhante demonstrada cientificamente em torno a 4 meses e meio ( há muito tempo já não se fala que dura 6 meses…) e a principal diferença entre elas é que o Xeomin® é considerado mais puro na literatura médica, por não possuir proteínas desnecessárias ao tratamento, evitando casos de resistência à toxina (evento também raro em torno de 0,5% dos tratamentos segundo referência cientifica, mas que implicaria no não funcionamento ou menor duração do tratamento.)

O uso estético da toxina botulínica veio de um “AHA moment”, na década de 1980, nos Estados Unidos quando, durante o uso para tratamento de estrabismo, a oftalmologista Dra Jean Carruthers (com quem tive o prazer de estar em Congressos algumas vezes e em aula online via Zoom dias atrás) notou que a região entre os olhos dos pacientes ficava lisinha e sem rugas.

Curiosamente, os pacientes que eram tratados por motivos oftalmológicos, se não obtivessem o benefício da fronte lisa, reclamavam. Foi aí que ela decidiu publicar um caso de tratamento de rugas, já em 1992 e apresentá-lo em um Congresso Médico. Ouviu que era um absurdo uma médica usar veneno em um paciente para solucionar algo tão frívolo quanto uma ruga. Replicando palavras da própria Dra Jean “a única forma de ser respeitada será injetando em mim mesma” quando pediu a seu marido Dr Alastair Carruthers que injetasse a toxina em sua fronte deixando o poder daquela descoberta estampado em seu rosto.

A partir daí, dermatologistas mundo afora iniciaram suas aplicações estéticas. No Brasil onde a toxina botulínica estava autorizada desde 1991 para tratamento de doenças, houve gradativamente a ampliação de indicações para rugas em glabela, fronte e perioculares.

E assim, nós médicos, tratamos os pacientes durante muitos anos, tirando rugas. Até que percebemos que tirar uma ruga muitas vezes não é suficiente para deixar uma pessoa mais bonita. Evolutivamente, com a melhoria de produtos e técnicas, atingimos um padrão diferenciado de aplicação da toxina onde buscamos não uma versão diferente de cada um, mas uma melhor versão, se possível: a melhor versão.

A toxina aplicada sob esses preceitos modernos, serve para miomodular quimicamente os músculos da mímica, ou seja, trabalhar esses músculos em prol da função e beleza. Sim, é preciso melhorar a função! Com o envelhecimento surgem as rugas, os olhos fecham, o nariz cai, a boca tende a ficar aberta, o pescoço repuxa até formar uma papada, o sorriso fica discreto.

É aí que a toxina entra! É possível modelar o formato e a altura das sobrancelhas, abrir o olhar, tirar estigmas como “cara de bravo”, tristeza, cansaço ou quanto dos dentes aparece no sorriso. Tratamos com frequência outros músculos importantes para um contorno bonito do rosto como o platisma, que fica no pescoço e tem a função de nos “puxar” para baixo, o chamado lifting de Nefertiti.

Também é utilizada para tratar o suor excessivo na axila, mãos e pés (hiperidrose). Em pacientes com muita tensão e bruxismo, pode ser usada no músculo da mastigação (masseter) para evitar o apertamento dos dentes assim como nos trapézios.

Usada em doses pequenas pode ser auxiliar no tratamento da rosácea, na melhoria de cicatrizes cirúrgicas por diminuir a tensão entre as bordas e pode servir até para as pessoas que fazem muito esporte e não desejam lavar os cabelos todos os dias, porque sim, é capaz de inibir o suor no couro cabeludo. É auxiliar no tratamento para enxaqueca, distúrbios de bexiga e outras tantas aplicações médicas.

Meu recado para você é que a aplicação de toxina botulínica é um dos tratamentos mais versáteis, de rápida realização e maior grau de satisfação dos pacientes, além de muito segura. Se ela já não é parte de seu arsenal, vale experimentar, e se quando você se trata, a finalidade é ficar esticadinha, valer rever os conceitos. Nas mãos de um profissional com expertise ela é capaz de trazer grande melhoria funcional e estética, afinal, saúde e beleza andam sempre juntas!

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