“Seja você mesma”, “Assuma seus brancos”….tem que ser assim? Convido a conhecermos um pouco mais de Brasil. E podemos começar por aqui. 

A minha mãe, que é dona de casa, de 2 em 2 meses pinta os cabelos. Os brancos insistem em aparecer constantemente, mas ela não se sente confortável, não gosta e não se sente bem para assumi-los, pelo menos não agora no auge dos seus 53 anos. E fica animada com as suas madeixas pretas!

A minha tia, que não sabe ler, é moradora do interiorzão do Piauí, daqueles de chão batido, da roça, eleva sua autoestima pintando seus cabelos. Um pouco do dinheirinho no final do mês também investido em algo que a faça bem. 

Há algo de errado nisso? Se dependesse de muitos nas REDES SOCIAIS, da generalização do “aceite-se total”, do “assuma seus brancos”, “não deixem que a sociedade imponha”, a minha mãe e minha tia estavam a cometer o crime na nova ordem. 

É uma nova ordem que simbolicamente se apresenta nas redes por “jovens tuiteiras” ditando que é preciso quebrar padrões, isso tomando por base uma realidade específica delas, nichos, regiões. “As mulheres precisam parar de reproduzir e perpetuar padrões” é o discurso que já vem na ponta da língua, ou dos dedos no teclado. Tomam por base uma generalização indistinta de comportamentos.

Imagina só falar “Temos que quebrar o padrão estético imposto pela sociedade” para a minha tia da roça que trabalha de sol a sol e vê no cuidado com a cor da cabeleira um sentir-se melhor. De acordo com ela, isso a faz bem. E ressaltando que “o assumir os brancos” é apenas a representação de outras questões que temos visto por aí sob a quebras de padrões.

É preciso que tomemos cuidado para que essa nova ordem não seja assim tão desconhecedora de uma realidade complexa como a brasileira. É preciso nos empoderar e empoderar as nossas sem apagar as individualidades femininas, sem deixar de lado os importantes recortes sociais, sem levar sempre em conta que fora dos caracteres há vida real. 

E a vida REAL, meus amigos, é bem diferente das nossas bolhas de redes sociais. É a minha mãe dona de casa, é a minha tia da roça, é a fulana que trabalha o dia todo de segunda a sábado no comércio, mas que no final de semana quer ter a oportunidade de ir ao salão escovar os cabelos, tirar os brancos, arrumar-se, fazer um agrado pessoal, um carinho na alma ao seu modo….aliás, cada uma a seu modo, não é? É a vida real das donas Marias, Franciscas, Socorros e Glórias também. 

E é assim que amo a Glória Pires, por exemplo, que apareceu nesta semana nas redes esbanjando seus brancos nos cabelos. Lindíssima, assim como muitas desconhecidas que resolveram assumir seus grisalhos. Mas amo também ver o sorriso da minha mãe depois de deixar seus cabelos mais pretinhos e se sentir bem com isso. Não vou estragar esse ponto de autoestima dela, sob a batuta de uma quebra de padrão que pode invalidar suas questões próprias e realidade sociocultural. 

E mais uma vez destacando que coloco esse exemplo de assumir os cabelos brancos como algo simbólico em torno de diversos outros assuntos que acabamos por colocar por aí sem um recorte da vida real.

Se por um lado conquistamos um pouco a maravilhosa possibilidade de sermos quem quisermos, temos tido mais liberdade de quebrar os chamados “padrões estéticos”, por outro, NÃO podemos assumir o mesmo patrulhamento que condenamos. 

Mãe, pode continuar aí a pintar seus cabelos, se quiser! E você que assumiu seus grisalhos, um viva também!

Sigamos….

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1 comentário
  1. Tenho 63 e nem pensar em cabelos brancos… nem morta, nem minha mae de 94 e minhas IRMÃS QUEREM. DANE-SE A MODA! Sou magra bem cuidada MaridÃo bonitão e modernInha….. xoooo caBelo branco

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