Quando tinha 7 anos de idade queria ser arqueólogo. Meus pais recomendaram que não seguisse esse caminho, já que no Brasil havia pouco campo para essa profissão. “Você vai passar fome”, diziam. Ao 10, depois de desistir da arqueologia, pensava ser historiador. Mas, meus pais me indicaram que no Brasil essa profissão, por mais honorável que fosse, era quase sempre mal-remunerada. “Você vai passar fome”, disseram novamente. Especulei então fazer o curso de Turismo…mas em Londrina, onde me criei, não existia tal carreira. Finalmente (e depois de ter feito um ano de Direito), decidi fazer Jornalismo.

“Que pena, Ariel! Você não conseguiu cumprir teu sonho de ser historiador e arqueólogo, nem de turismo?” me disse um amigo recentemente. Mas, parei, pensei e respondi: “no fim das contas sim, já que – como jornalista – cubro a História de cada dia. E como correspondente internacional, também tem a ver com turismo, já que viajo para cobrir notícias em vários países. E como jornalista também sou arqueólogo…tenho que lidar com políticos que são dinossauros, como se estivessem no Jurássico ainda!”

Em 1995 vim tentar (na louca) ser correspondente internacional em Buenos Aires. Vim com minha então namorada, da qual sou marido. 

E faço questão de dizer assim e não que “a Miriam é minha mulher”. Venho de uma família de mulheres independentes e abomino a visão machista que perdura ainda no planeta. Minha bisavó foi da primeira turma de obstetras da América Latina, formada em 1922. Sua mãe, minha trisavó, uma imigrante catalã, via a filha estudar e disse “vou estudar também!”. Deixou a vida de dona de casa e entrou na faculdade. 

Outros ostentam a modo de “troféus” condecorações e fotos com pessoas famosas em seus escritórios. Eu exibo os espéculos que minhas duas antepassadas usavam como obstetras.

Sou muito curioso (como a mulher da qual sou marido). E por isso, sempre que tive algum problema de saúde, por menor que fosse, perguntava todos os detalhes aos médicos. 

Em 2006 tive uma infecção colossal e fiquei quase três meses em cama. A infecção incluiu a próstata. E por isso, desde os 40 anos, sempre fiquei de olho nela, monitorando anualmente para ver se estava tudo OK.

E aí veio uma surpresa: a reação dos amigos sobre os exames. “Não precisa fazer, Ariel! Isso é para quem tem 70 anos…”. Qualquer assunto no Hemisfério Sul do corpo masculino é um tabu para os homens. Especialmente para os denominados “machos latinos”. A segunda surpresa: os médicos também esquivavam falar sobre o assunto. 

A mulher da qual sou marido entrou na menopausa. E percebi que ela tinha uma série de sintomas similares aos meus: cansaço, falta de libido, calores e frios. Fiz as consultas e descobri que estava na andropausa.

Os amigos? Nem sabiam o que era a andropausa. Os que sabiam não queriam falar sobre o assunto.

Os médicos? Minimizavam o assunto.

Ao contrário da mulher da qual sou marido, não sei vender. Mas sei explicar. E me tornei um “explicador” amador do assunto para os amigos (que começam a dar bola para o assunto) e também para os taxistas (e até o pessoal do armazém da esquina). 

E agora, com o Inconformidades, vou contar para vocês o que fui aprendendo, percebendo e vivendo com este e outros assuntos afins.

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Eu sou Silvia Marzagão

Silvia Felipe Marzagão é advogada especializada em direito de família e sucessões. É presidenta da Comissão Especial da Advocacia de Família e Sucessões da OAB/SP, além de engajada em várias associações que buscam a construção de um direito das famílias plural. Mestra em Direito Civil pela PUC/SP. Mãe e esposa (bela, porém não tão recatada e nem tão do lar).Irresignada, combativa, feminista, antirracista. Mulher em processo de (des)construção.