Sim, sou carioca. Aqui pipocam pancadões. Nos morros, nas ruas, nas praias. E eu mesma estou estendida no chão, de cara com o tiro do passar dos anos. Envelhecer no Rio de Janeiro é phueda, pois mesmo as balzacas são conservadas no formol.

Eu, já pelancuda em coxas e braços, sigo fazendo a linha blasê, inflando meu lado intelectual enquanto a bunda murcha a galope. E agora – perto do Natal – já me horrorizo com os quilos que ganharei com pernil, farofa de miúdos e rabanadas encharcadas de açúcar e leite moça.

Caraca, minha barriga pochette – herança da menopausa severa – ganhará dobrinhas sinuosas como o Morro Dois Irmãos. Isso sem falar na torta de nozes, na bala de côco e as novidades do mercado como banoffee e pipoca artesanal revestida de chocolate callebaut.

O Natal, aqui no Rio, é melação, pois seguimos copiando os friorentos, comendo intox gordurosos no bafo de 40 graus nesta cidade da alegria e do caos. Aliás, precisamos atualizar os versos da Fernandinha Abreu, afinal com o aquecimento global em Ipanema faz uns 45 graus e em Bangu já passou dos 60. E seguimos derretendo em motivos para enxergar que precisamos mudar esse Brasil.

No quesito envelhecimento entramos na pauta do etarismo. Tal qual a reparação ao racismo, misoginia, feminicídio, deficientes, gordos e violência sexual – os grisalhos estão ganhando voz.

Tanta voz que até a propaganda norueguesa dos correios de Oslo decidiu dar uma força ao movimento LGBTQIA+ e filmar um beijo gay, entre um homem maduro e o bom velhinho. Baphão! Abalou estruturas e já que é tempo de pedidos, vamos recorrer à Santa Claus e implorar por um país mais justo e menos violento em um ano próximo de eleições e ainda pós-pandêmico.

Se preciso de algo? Além de uma plástica no pescoço, quero mais espaço para a empregabilidade 50+, mais trabalhos para as influencers da maturidade, a entrada dos homens ageless neste debate e é claro, políticas públicas que tratem o adulto maduro e o idoso como gente. Que venha 2022!

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