Estamos comemorando o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, do movimento Modernista no Brasil e como vocês já devem ter notado a cidade está pipocando de eventos e mostras culturais bacanérrimas para quem quiser se aprofundar no tema. Deixo aqui uma relação, na minha percepção modesta, de 10 itens que nos influenciam até os dias de hoje:
- A partir da Semana de Arte Moderna, que aconteceu no Teatro Municipal em SP, deu-se início a todo um movimento de valorização das nossas raízes. Assim, o regionalismo brasileiro começou a ser bem explorado nas criações do modernismo. Essas histórias do cotidiano do povo brasileiro, como o sertão e a busca por uma identidade própria, são retratadas por um grande representante do movimento, Mário de Andrade com sua obra “Macunaíma”. Vejo essa forte inspiração manifestada em toda paleta de cores da estação. Seja nos tons terrosos do cerrado, nos verdes profundos da Amazônia ou num amarelo queimado ocre do sol do sertão. Cores essas utilizadas tanto na moda, como na decoração.
- Liberdade de expressão: O uso de uma linguagem simples também é resultado do movimento modernista. Essa liberdade na escrita usada coloquialmente nas obras da época, traz até os dias de hoje forte influência; ocasionalmente, criando inclusive vocábulos conforme a necessidade de designar algo novo na sociedade, bem como a adaptação da própria língua portuguesa para a linguagem neutra, por exemplo.
- Consciência crítica: além do regionalismo, diversas questões sociais, como a desigualdade e consequências da escravidão, começaram a ser mais exploradas. A título de exemplo, temos Graciliano Ramos com “Vidas Secas” que traduziu o resultado dessa renovação em um amadurecimento social. Nos dias de hoje, esse estímulo da consciência também abrange temas que estão sempre em pauta, como o racismo, os direitos das mulheres, e até o próprio etarismo.
- A Nova Literatura: após a Semana de Arte Moderna, houve uma renovação do gênero romance. Os artistas passaram a refletir mais sobre as dores psicológicas e sociais, retratando criticamente o país. Alguns representantes dessa nova literatura são Jorge Amado, Graciliano Ramos e Raquel de Queiroz. Esse novo romance trilhou o caminho das histórias contadas popularmente em programas da telinha, conhecidos como novelas e minisséries.
- Artes Plásticas: o movimento modernista teve grande influência na pintura. Questões relacionadas à cultura brasileira foram igualmente explorados por artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Cândido Portinari. A obra “Abaporu”, ademais, é uma das obras mais icônicas do período. Como citei anteriormente, é ou não é o moodboard do momento?
- A música brasileira teve seu maior expoente representado nas mãos do Maestro Villa-Lobos. Sua identidade musical bem particular fazia referência às rodas caipiras, cantos indígenas e aspectos culturais africanos. Suas obras repletas de misturas de ritmos e muita brasilidade tiveram reconhecimento internacional. Inúmeras gerações posteriores de compositores, como Chico Buarque de Holanda, Vinícius de Moraes e a Tropicália foram intimamente influenciadas por Heitor Villa-Lobos. O desdobramento dessas propostas musicais se manifesta nos dias de hoje na poesia marginal, na música de protesto (por exemplo rap), e na mistura de ritmos como baião, forró entre outros.
- Moda: a celebração do centenário da Semana de 22 inspirou vários estilistas a produzirem coleções em referência a obras de arte, por exemplo a Dobe – homenageia Di Cavalcanti. A Farm expressa cenas do Folclore brasileiro e a Água de Coco reuniu elementos da Flora e Fauna brasileira retratados por Tarsila do Amaral.
- A visão do moderno foi ampliada na arquitetura brasileira. Houve uma limpeza das formas onde aboliu-se o uso de ornamentos das fachadas e valorizou-se a materialidade. Com o avanço da indústria de materiais como aço, vidro e concreto, levaram mais luz e funcionalidade aos projetos. Houve uma conscientização do conceito “Casas Inteligentes” tão em alta nos dias de hoje. Construções sustentáveis onde usamos a tecnologia a favor da arquitetura. Grande destaque da arquitetura nacional Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Paulo Mendes da Rocha… eternas referencias e super modernos.
- Design: limpeza e sutileza nas formas e uso dos materiais, que abarca apenas o essencial, trazendo mais durabilidade aos móveis. A utilização de materiais de maneira franca, concreto e madeira na sua cor natural. Por isso, valorizamos o mobiliário moderno com leveza e sempre muito bem pensado, assim como o icônico Joaquin Tenreiro.
- Paisagismo: quer melhor exemplo que Burle Marx?! Grande pesquisador de espécies nativas, Burle Marx, que era artista plástico, fez seu primeiro projeto paisagístico por volta de 1930, na casa de Roberto Marinho no Rio, consagrando-se mundialmente com a valorização de plantas brasileiras e criando o jardim Tropical. Essa forma orgânica de projetar jardins com palmeiras, Ipês, philodendros e costelas-de-adão que tanto admiramos pelas mãos de Gilberto Elkis ou Hanazki, vieram do mestre.
2 comentários
Sou eu de novo! Reli o artigo e meu comentario, o corretivo nos enlouquece! Só nos resta esperar o próximo artigo da Adriana Giacometti. ?
Este texto tão abrangente , nos dá uma panorâmica deste evento tão marcante em nossa cultura. Interessante notarmos como influenciou, as gerações futuras, enriquecendo e plurifacetando as proprias producoes. Como professora que sou, este artigo sublinha a importância do estudo na nossa vida, ele abre a cabeça e cria novas ligações neurais. Agora sou nos resta esperar o próximo artigo da nossa arquiteta preferida!