Por Ricardo Mekitarian (@mekitarian)
“ …na mesma máscara negra
que esconde o seu rosto,
eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é Carnaval…”
(Jose Flores de Jesus, “Zé Keti”)
Carnaval nos anos 80…
A coisa que eu mais faço nesta época do ano é recusar qualquer convite para ir em baile de Carnaval.
Não é só devido á minha pouca paciência, mas Carnaval não é uma festa que ainda me encanta.
Nesses dias me vi perguntando o “porquê”, afinal Carnaval tem gente, música, festa e…bebida e eu gosto de tudo isso. Entao porque não gostar do carnaval?
Acho que é a “forma” que tudo isso tomou.
Quando eu penso em samba, festa, Mestre sala e escola de samba eu volto lá nos idos de 1980, com a minha avó, Dona Escolástica. Que mulher para gostar da vida e de uma festa!
Não foram poucas as ocasiôes de samba nos quintais do Bexiga quando ela fazia um estandarte com rodo e pano de prato e saia sambando os clássicos. Foi assim que eu ouvi “Trem das Onze”, “ Mascara Negra”, “Preciso ir”ou “Saudosa Maloca”.
Um belo dia, ela me tomou pela mão e, descendo a ladeira Veloso Guerra, demos na quadra da Vai – Vai e eu nunca mais vou esquecer a hora que aquela bateria começou a tocar. Arrepia até hoje.
Estas festas eram essencialmente regadas a cerveja Brahma e caipirinha. A gente só podia molhar o dedo.
Tenho um pouco disso em mim ainda. Dificilmente recuso um bom samba e quando toca no Eugênio ou no Quartinha logo caio na cantoria.
Brahma só chopp escuro e caipirinha às vezes. Outro dia pedi uma num boteco famoso, veio um copo que mais parecia uma banana split, não dá.
Fato é que fui crescendo e a festa em si me desinteressou. A ideia de entrar na montoeira de gente sem poder sair quando quer nunca me agradou.
Além do que, prezo pelo conforto de beber ouvindo música boa e poder ir em um banheiro decente quando da vontade!
Também acredito que o samba, aquele bom mesmo, veio morrendo. Antigamente tinha Jamelão, Neguinho da Beija Flor e dava a impressão que a coisa toda era mais harmônica, tinha melodia.
Hoje é uma gritaria só.
Nada contra quem gosta, por favor! Conheço, e admiro muita gente que até hoje encara um Carnaval de Salvador, Chiclete com Banana e coisa do gênero.
Talvez eu goste da essência, ou até um pouco da inocência do Carnaval (será que já foi inocente mesmo?).
As marchinhas que falavam de saudades, do Arlequim que beijou a Colombina no meio da multidão.
Hoje em dia tá dificil de reconhecer o Arlequim e a Colombina, e todo mundo beija todo mundo.
Gosto mesmo daquele beijo em que voce para no meio da multidao, que começa e termina olhando no olho. Depois de um desses nem precisa de outro.
…quando o beijo é bom, o tempo para.
Fica a saudade, das festas de quintal, do batuque na caixa de fósforo, das fantasias chiques da festa fechada ou das grosseiras dos blocos da Bela Vista.
Bebida? Cerveja trincando, tipo “canela de pedreiro” no copo americano.
E termino por aqui com Dalva de Oliveira e faço minha a letra de sua música:
Bandeira branca, amor, pela saudade que me invade, eu peço paz…
Cheers