Toda hora tem um assunto que é o mais falado no meu feed. Há um tempo atrás a bola da vez foi o rosto transformado da Madonna, li todos os posts e comentários que passaram pelos meus olhos e olha que o rosto da cantora rendeu muitas opiniões e debates. A maior parte das pessoas criticou, e muitas vezes a opinião vinha junto com a observação de que com o dinheiro que ela tem ela poderia ter contratado um médico melhor. 

Me peguei pensando o tanto que a beleza sempre esteve relacionada ao poder aquisitivo. 

madonna-seios-siliconados-botas-inconformidades

No passado a Vênus de Willendorf era bem voluptuosa, Marilyn, Sophia e Anita Ekberg seriam consideradas fora dos padrões de hoje, e no entanto todas eram consideradas padrões de beleza nos seus tempos. Por muito tempo ser voluptuosa era sinônimo de fartura a mesa, logo significava ter dinheiro. De repente surgiu Twiggy e Audrey com seus corpos magros, e viraram os novos símbolos de status. Para atingir a magreza ideal muitas mulheres entraram ( seguem entrando) em dietas insanas. Depois de um tempo a malhação entrou no circuito. Hoje em dia temos nutricionistas, procedimentos estéticos, vitaminas, shakes, chás e toda uma indústria para ajudar a mulher a chegar na magreza ideal. E quem tem acesso a tudo isso? Quem pode malhar 3 horas por dia, ter refeições cuidadosamente balanceadas e ainda fazer procedimentos? Além do custo financeiro, ainda é necessário ter tempo pra tudo isso. 

Só que de uns tempos pra cá a magreza não é mais suficiente, era necessário delimitar mais ainda quem tem realmente dinheiro e quem não tem. Então novos padrões de beleza foram surgindo, atualmente percebo que a boca carnuda tem estado bem em alta. Além claro do rosto sem nenhuma ruga. Hoje ter uma mesa farta não parece significar muita coisa, o novo símbolo de status é vencer o tempo. Não que querer driblar o tempo seja um desejo surgido agora, esse desejo de viver muito e com aparência jovem sempre esteve presente na humanidade. Cleópatra tomava banhos de semen para se manter jovem, por exemplo. Mas hoje parece que virou obsessão. Atualmente no lugar dos banhos temos preenchimentos, estimuladores de colágeno e etc… e tudo isso é exibido nos perfis das redes sociais, chutaria dizer que são exibidos com orgulho. Sem dúvida que a juventude aparente sempre custou caro, imagina o que era preciso pra conseguir uma banheira de semen… Fato é que hoje em dia, com as mídias sociais e a grande exposição pessoal, a juventude se tornou mais cobiçada ainda. E não envelhecer significa ter muito dinheiro para pagar por procedimentos que deixem a pessoa o mais dentro do molde imposto pela sociedade, mesmo que completamente artificial, e todas iguais. 

Voltando ao rosto da Madonna, completamente artificial, pergunto aqui com a maior sinceridade: qual a diferença entre o rosto construído e duas semi esferas completamente duras e artificiais que ocupam os lugares dos seios no corpo de tantas mulheres? 

Ambos são claramente artificiais mas acredito que já nos acostumamos com a estética das próteses de silicone. Enquanto alguns procedimentos faciais ainda estão sendo absorvidos pela sociedade. Alguns já são considerados bonitos e outros ainda não. Assim como a calça de cintura baixa, que quando fez o seu retorno causou uma onda de protestos e hoje muita gente já está jurando amor eterno. Acredito que temos uma tendência a torcer o nariz para o diferente, mas assim que o diferente se torna cotidiano aceitamos melhor. 

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Pensando em tudo isso me deparo com as novas botas MSCHF que transformam os pés de quem as calça em verdadeiros desenhos animados, elas são tão pouco anatômicas que é preciso amarrar os pés dentro para conseguir andar. Várias influenciadoras já estão usando, e usam porque rende engajamento, mesmo que com comentários negativos, e engajamento ajuda a viralizar. Viralizando a imagem vai se tornando mais rotineira e bingo, temos uma nova tendência, um novo padrão estético nasce. 

Padrões estéticos ou de beleza são construídos. Byung em seu livro “A Salvação do Belo”, fala sobre a beleza, pra ele o belo é liso, arredondado e se esgota em uma mera curtida. Já o sublime tem aderência e isso provoca o aprofundamento. O filósofo coreano diz: “O sujeito curte o belo, pois estimula a interação lúdica harmônica das faculdades do entendimento… Ao contrário do belo, o sublime não produz uma complacência imediata.”

Consumimos cada vez mais imagens e absorvemos cada vez mais estéticas. Acredito no impacto que isso terá na construção coletiva do conceito estético. Será que daqui a um tempo a estética do rosto da Madonna não vai ser a mais desejada? 

Olho todos esses movimentos e me pergunto se os adjetivos feio e bonito são os que realmente importam nos tempos atuais. Aparentemente me parecem ser os mais falados, fico com a sensação que falta é vocabulário.

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