Em tempos de isolamento social, a casa se tornou o nosso canto no mundo. Hábitos que outrora eram banais, agora, são cheios de significado. É neste espaço íntimo, que também criamos outros hábitos. Eu, por exemplo, criei fortes vínculos com as plantas, algo que jamais ocorrera antes; apesar de cultivar um solitário cacto, escondido, entre meus livros.

Posso afirmar que tem sido um fenômeno não só para mim, mas para muitos que estão atravessando esse período de isolamento e, consequentemente, despertando o olhar para tudo o que envolve e implica estar em casa.

Plantas
Foto: Natalie thomas

Li, outro dia, que as vendas de plantas e flores simplesmente dispararam no ano passado, algo que vem movimentando o mercado de uma forma positiva, ainda que às custas do aumento dos preços das plantinhas e da lei econômica da oferta e da procura.

Desde que tudo isso começou e se intensificou, me vejo cada vez mais comprando uma, duas, três plantas, e o faço já pensando nas aquisições do próximo mês. Leio, pergunto aos especialistas; cuido, grito de alegria quando nasce uma plantinha, canto e dou nome a todas.

Elas já fazem parte do meu lar, da minha intimidade, não imagino o meu espaço sem a presença e a vida delas. Minha mãe, que desde sempre foi apaixonada por plantas, está feliz por ter uma companhia na troca de mudas e acredita que a herança genética bateu mais forte. Entretanto, eu ainda me questiono: por que eu não vivo sem plantas?

Há pesquisas científicas que podem responder a esse questionamento pessoal. Uma delas é a chamada Teoria da Restauração da Atenção, dos psicólogos Stephen e Rachel Kaplan que diz, por exemplo, que ao observarmos a natureza tendemos a movimentar os olhos de modo diferente do que comumente acontece quando contemplamos o espaço urbano.

Acontece que quando colocamos um pedaço da natureza em nossa casa, os nossos aparelhos cognitivos vão sendo ativados de modo diferente, despertando para um senso de ordem e harmonia que, no mais das vezes, não vemos entre os objetos manufaturados e industrializados, resultando assim em um conjunto de efeitos prazerosos que preenchem tanto o espaço físico, como a esfera interior.

Diante de tantas notícias ruins, incertezas, estresse e ansiedade causados pela pandemia, o cultivo de plantas tem sido uma forma de terapia; um despertar para a gratuidade harmônica das coisas naturais e, sobretudo, um olhar sensível que, se voltando para algo aparentemente indefeso, nos revela também a beleza de nossas fragilidades.

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