Meu grito foi ouvido, as paredes tremeram, tamanha foi a fúria das palavras que escaparam da minha boca como lanças afiadas, certeiras, mortais, indiferentes às vítimas que derrubei pelo caminho. Dor, raiva, numa potência que nunca imaginei existir dentro de mim. Nem eles.
Destruí muito mais do que alguns poucos copos. E talvez fosse possível sim, me arrepender, se a minha razão conseguisse voltar submissa ao seu lugar cativo, ao silêncio do seu confinamento. Não foi o caso.
Restabelecer minha antiga performance e continuar satisfazendo a fantasia que coloca a casa em ordem, a sanidade de todos às custas da minha própria, não me parece mais provável. Ela partiu para nunca mais voltar.
Essa não é você, eles ainda tentaram, apavorados, me resgatar do que acharam ser loucura, sem nunca sequer terem desconfiado quem eu era, quem eu fui, o que desejo. Inúteis. Minha invisibilidade conveniente foi despida.
Sim, sou, completa, jogando o último prato da mesa ao chão, prolongando propositadamente o sofrimento de um almoço de domingo que começou servido pela outra. Ignorantes. O que será de vocês?
Eu a enterrei, tenho certeza, agora só nos resta eu.
Me revirei, pois estava ao avesso.
E hoje já não me interessa nada além da ira, solo seco, não quero desculpas, abraços, reconhecimento. Preciso queimar o pregresso, descansar a minha alma e deixar o tempo fazer o resto.
Estou morta até me sentir viva novamente.
Não me procurem até que eu me ache.
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