“I should never have switched from scotch to Martinis.” – Humphfrey Bogart
Este artigo está “encantado”. Escrevi um ótimo e na hora de salver perdi tudo… Agora é a segunda tentativa, vamos ver se vai. Deve ser coisa dos “spirits”… Dia desses, numa dessas deliciosas reuniões do Inconformidades, esbarramos no título para este artigo quando o colega do gin trouxe a pergunta; qual a diferença entre “drink” e “cocktail”? Sabia que todos são “spirits”?
Começemos por aí, a definição de “spirits”. O termo é usado para definir bebidas desde o tempo dos alquimistas. Era a época em que alquimia, bebida e religião se misturavam, cabendo aos alquimistas a manipulação do processo de extrair álcool de bebidas fermentadas – cerveja ou vinho – para uso medicinal ou ritual. Ao extrair a essência da bebida, dizia-se que estavam extraindo seu “espirito”.
Isso, aliado à algumas experiencias sob o efeito alucinógeno de substâncias com alto teor alcoólico, logo contribuiu para associação do termo ao “hard liquor” a ou álcool resultante do processo de destilação. Whisky, conhaque ou rum são alguns exemplos. Assim, bebidas alcoólicas passarem a ser chamadas de “spirits”…e o abuso eventual delas continuam trazendo experiencias trancedentais! Você não vai querer tomar mais do que umas duas doses de Absyntho, ou Mescal por exemplo.
A propósito todos são “drinks”. Então qual a diferença entre “drink” e “cocktail”? Drinks são bebidas prontas para consumo que não requerem maiores preparações. Água ou limonada são drinks, mas o termo está normalmente associado á bebidas alcoólicas. Quando perguntam: “do you drink?” normalmente é para saber se você toma algo alcoólico… Portanto, da próxima vez evite responder pedindo um suco, por favor! Vinho e whisky são drinks. Gin, vermouth ou vodka sem mistura também são.
Podemos entender o drink como a combinação básica; a bebida, o copo e quando muito, o gelo. Sem misturas ou elaborações. Pode-se dizer que é a bebida em sua essência, fermentada ou destilada para o bem estar das pessoas. Nosso amigo Bogart bebia drinks, nomalmente scotch e Drambuie, até mudar para Martinis. Consequência de uma “maturidade etílica”. Como Bogart, eu também mudei do scotch para Martinis, porém sem maiores arrependimentos na maioria das vezes! Adoro saborear um bom whisky quando estou quieto, ouvindo jazz. Mas quando saio minha escolha é por coquetéis clássicos. Normalmente Negroni ou Martinis, estes à noite.
Chama-se “cocktail” a cominação de uma bebida com outras substâncias – como cremes, frutas ou xaropes – ou com outras bebidas. O Negroni, por exemplo, é a combinação de três bebidas alcoólicas, bitter, gin e vermouth. Penso no cocktail como o drink elevado a outra categoria. É como uma outra “liga” de bebidas com combinações e resultados maravilhosos. É a elevação do drinks à algo extraordinário.
Uma Mercedes é um drink. Um Aston Martin um cocktail. Me atrevo a dizer que homens são drinks – básicos, binários e possivelmente agradáveis – enquanto mulheres são cocktails, deliciosamente complexas e únicas. Ambos tem seu valor, mas com os cocktails tem que ter mais cuidado e atenção! Gosto dos dois. Drinks e coquetéis, eu quis dizer!
Depois que passei a conhecer e aprender um pouco sobre os cocktails – minha tatuagem de negroni não nega – suas misturas e sabores me encantam. Cada cocktail é único. Duas pessoas podem seguir a mesma receita e ainda assim os drinks vão sair distintos, seja pela combinação das bebidas ou pela mão do bartender.
Alguns acham o drink mais prático e fácil de fazer do que montar um cocktail. Pode ser. Mas quando você aprende a fazer seu cocktail favorito, a preparação é tão gostosa quanto saboreá-lo e tudo se torna extremamente agradável. Gostoso checar em casa e fazer um Old Fashioned na hora ouvindo Springsteen ou Coldplay, tanto quanto um whisky com Chet Baker.
Com os cocktails voce ainda passa um tempão experimentando as deliciosas possibilidades de gins, bitters, vermouths que compõem as maravilhosas combinações de uma mesma receita. O mundo dos cocktails é tão fascinante quanto o dos melhores vinhos e whiskys. Você pode viajar o mundo todo atrás do cocktail perfeito ou explorando as diversas combinações do seu favorito.
Outro dia me perguntaram sobre minha bebida e o lugar favoritos… Hoje em dia a resposta complicou! Antigamente eu facilmente responderia com uma degustação de whisky na Escócia. Mas ai eu lembro do Martini do Carlisle em NY e caio em uma deliciosa dúvida etílica. Um Sazerac em New Orleans pode ser tão interessante quanto um garrafa de champagne no Plaza Ateneé em Paris. Degustar Negronis na Itália, uma experiência tão deliciosa quanto umas garrafas de Gran Cru na França.
Falemos a verdade, drink ou cocktail tanto faz. O importante mesmo é a companhia certa. Mas há de se ter cuidado com essa coisa de “spirits”, escolha sua bebida e saboreie com a atenção que cada uma merece, e se possível, sem moderação, que fica mais legal.
Quando ouço “spirit” sempre lembro daquele trecho de “Hotel California”.
“…So I called up the Captain
Please bring me my wine
He said, ‘We haven’t had that spirit here
Since 1969…’”
…No caso o “spirit” aqui é o drink, não o fantasma que assombrava o local. Se bem que esta letra é tão complexa que vale um artigo só sobre ela. A música ia se chamar “Mexican Reggae”. Já imaginou uma das musicas americanas mais icônicas com este título?!
Filmes e cocktails são outra história complexa e riquíssima. Comecei com o Humphrey, então vou ficar com “Casablanca” um dos clássicos que eu adoro, como Martini. A propósito, o drink da foto ali é um French 75, outra deliciosa combinação de champagne e gin que a gente também prepara aqui na @drinknthepot… Hummm… Uma degustação de French 75 em Paris… Alguém se habilita?
Cheers!