Assisti a um espetáculo de dança um dia desses. Que bonito ver e sentir o movimento dos corpos contando uma história. Tanta força, emoção, disciplina e dor para subir ao palco. Imaginei aqueles pés calejados, protegidos pelos seus próprios calos. Pensei na satisfação dos bailarinos, na sensação física do prazer de ter desempenhado tão bem o seu papel. A dor pouca importa nesse momento, sobra a vibração dos aplausos, a satisfação da entrega literal de corpo e alma à sua dança.

Fiquei pensando o quanto o corpo é o nosso maior e melhor instrumento de comunicação. Externa e interna, nos seus calos e nos sinais que ele nos manda. E o quanto é difícil manter essa comunicação interna ativa. Nunca prestamos atenção quando damos uma topada, mordemos a boca e insistimos em morder de novo no mesmo lugar, ou ainda, resfriados que aparecem e aquela ponta de dor de cabeça que não nos deixa esquecer da sua existência. Esse é o nosso corpo sussurrando atenção e autocuidado.

Ando interessada por psicossomática ultimamente, entender como a doença escolhe sua via de acesso. E ela escolhe. Escolhe se manifestar porque esquecemos da auto-observação. Escolhe um ponto fraco, não ao acaso; existe uma simbologia importante do corpo, seus sintomas e o processamento das nossas emoções.

Questões mal digeridas, deixadas debaixo do tapete, uma hora dão o ar da sua graça. Ou ainda, aprendizados empíricos que levamos para a vida, descobrimos que não fazem mais sentido. E hoje em dia, com a nossa saúde mental no fio na navalha, o corpo grita.

(Se quiserem conhecer mais do assunto de maneira didática sugiro a leitura do livro “A doença como caminho” )

Depois aparecem as dores de cabeça mais frequentes, a dor na lombar, uma travada aqui outra ali, um “acidente” doméstico mais sério, isso sem falar da nossa insônia de cada dia, que merece um capítulo à parte. Começamos a achar que é preciso desacelerar porque alguma coisa está fora dos trilhos. É o corpo falando mais alto, saindo do sussurro não escutado e outra vez pedindo cuidado. E, se não prestamos atenção, as doenças mais graves, dores crônicas e tudo que nos faz parar de verdade se instalam. É o corpo gritando.

Vivemos em estado de alerta. Aprendemos a viver assim. Colocamos a nossa atenção ao que literalmente nos salta aos olhos e o que não vemos ou sentimos com frequência deixamos para depois. O nosso corpo é um receptáculo de tudo isso que ficou para trás.

É difícil, mas importante escolhermos o que vamos ou não levar na nossa caminhada. Escolher do que e como queremos cuidar. Não existe juízo de valor, certo ou errado. Entender os sinais enviados como uma possibilidade de cura. Precisamos aprender a nos despedir dessa carga emocional que pesa no corpo e tira a leveza da alma.

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2 comentários
  1. Eu costumo dizer que nosso corpo é a casca da nossa alma. Se a nossa alma sOfre, o corpo sofre… obrigada pela excelente reflexão!

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