Me desculpem as Millennials, mas eu gostaria  de fazer um “viva” para a minha geração, a agora conhecida Geração X, que nessa época de isolamento social conseguiu tirar de letra as tardes longas e de espera. O tédio não nos apavora nem nos angustia, porque fomos forjadas com uma outra noção de tempo.

Nossa capacidade de nos entreter sozinhas não vem de um dia para o outro. Foi longamente cultivada por hábitos que desenvolvemos durante nossa infância e adolescência. 

Nós, nascidas entre 1965 e 1980, somos as crias da “Sessão da Tarde”. Quem não se lembra da programação inteira da TV Globo, que podíamos assistir logo depois do almoço? Filmes deliciosos que muitas vezes eram reprisados, e com toda a certeza produzidos nos anos 50 ou 60, eram o nosso cardápio diário.

Assistimos sem reclamar seriados também dos anos 60, como “Jeannie É Um Gênio” ou “ A Feiticeira”, talvez “Os  Três Patetas” ou “A Família Adams”, e a demanda por séries novas e atuais era impensável. Ah, eu também me contentava com “Speed Racer” e “Princesa Safiri”, que obviamente não obedecia uma ordem cronológica e saía da programação do canal sem nenhum aviso. Frustrante, mas sem canais de comunicação para reclamar.

E se chegássemos em casa e o filme predileto estivesse no fim, paciência. Com sorte, nos mês seguinte ele estaria na grade de um dos seis canais de televisão disponíveis.

Sim, eram apenas seis, sem controle remoto, talvez um BomBril na antena e uma programação surpresa. Era só esperar e quem sabe, um dia o seu filme querido apareceria na tela. Quantas tardes não esperei por “Ardida Como Pimenta”,  com minha musa Doris Day?

Nossa geração não tinha a pressão da produtividade, das atividades obrigatórias, dos cursos extracurriculares. O máximo do deleite era chegar do colégio, fazer a lição de casa e se jogar por tardes no sofá até a hora do jantar. Sem culpas ou remorsos, essa era a nossa rotina básica, porque somos filhas de pais nascidos no pós-guerra e que viveram o auge da liberação sexual do final dos anos 60. Que nos colocavam nos bancos do carro sem cinto de segurança e nos deram enlatados para comer e flans de caixinha.

Também estamos acostumadas a esperar. Nos postamos por horas na frente dos nossos gravadores só aguardando tocar “aquela” música no rádio, com o “Play” e o “Rec” preparados (essa dupla só quem é realmente uma Late Boomer sabe o que é). Mixamos Fitas K7 por tardes a fio, sem pressa, escolhendo com cuidado qual música iria entrar na nossa lista mais do que especial.

Vibramos quando lançou a máquina Polaroid, um objeto de desejo daqueles. Esperar pacientemente alguns minutos para que a foto fosse revelada não era um problema, mas sim uma solução. Pior do que isso era levar o negativo dos filmes para uma “fotótica’ e torcer para que todas saíssem boas, o que levava pelo menos uma semana. 

Somos geralmente pragmáticas, independentes e de baixa manutenção. Viajamos em carros sem bancos de couro e sem ar condicionado por horas, sem vidros automáticos e sem o menor conforto, então o que foi esperar por mais algumas semanas o fim do isolamento com Netflix e AppleTv à nossa disposição?

Para quem vibrou com o lançamento da MTV, um computador e um bom sinal de WiFi já nos deixa ocupadas e felizes. Alguns canais de TV à cabo, quem sabe mais algum canal de streaming para passear e uma boa taça de vinho no final do dia. Porque somos resilientes até para o álcool, que fique bem claro.

Talvez esse seja o final dos tempos como nós conhecemos, mas tenho certeza que a Geração X vai ficar bem. Afinal, paciência é uma palvra que conhecemos.

E ficar em casa, para quem já viveu tantas aventuras, é um prêmio mais do que merecido.

Um beijo e até a próxima!

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