Uma orientação divulgada no início deste ano pode literalmente salvar a vida de muitas mulheres. A recomendação é simples: todas as mulheres deveriam considerar a remoção das suas tubas uterinas (antigamente chamadas de trompas de Falópio) depois de já não desejarem mais ter filhos, para prevenir o câncer mais temido da ginecologia: o dos ovários.
O câncer de ovário é um dos mais traiçoeiros por sua alta letalidade: 70 a 80% das vezes em que é diagnosticado, já está em fase avançada. Há muitas décadas os pesquisadores tentam identificar alguma forma de diagnosticar precocemente este cancer, à semelhança das mamografias e papanicolau, eficazes para a prevenção dos canceres de mama e colo de útero. E até hoje não há nenhum exame de sangue ou de imagem útil para o rastreamento capaz de reduzir a mortalidade pelo câncer de ovário.
Por outro lado, as pesquisas modernas sobre o câncer de ovário trouxeram uma descoberta bastante relevante: na grande maioria dos casos, o cancer se desenvolve não no próprio órgão, mas a partir das células das trompas uterinas, que ficam ligadas aos ovários para captar o óvulo permitindo a fecundação.
Enquanto os ovários têm a função de produção hormonal até a menopausa, as trompas uterinas e o útero servem exclusivamente para a gravidez, deixando de ter qualquer utilidade após terminado o período reprodutivo da mulher.
Por esse motivo, já há alguns anos existe a recomendação mundial para mulheres sob maior risco genético ou familiar para câncer de ovário, de fazerem a remoção preventiva das suas trompas uterinas. Ou por exemplo, para mulheres que irão se submeter à laqueadura tubária (esterilização definitiva da mulher, equivalente à vasectomia no homem), já é considerada inadequada a forma clássica convencional de apenas obstruir as trompas: o mais indicado é a remoção completa delas, pelo motivo da prevenção do câncer.
Mas a notícia recente, divulgada no dia 1º de fevereiro de 2023 pela Aliança para Pesquisa do Cancer de Ovario (Ovarian Cancer Research Alliance – OCRA), é impactante porque agora se tornou universal: todas as mulheres devem considerar a remoção de suas trompas uterinas depois de terem filhos, como única forma existente de prevenir esse câncer tão agressivo.
Um grande estudo publicado no The Lancet em maio de 2021 foi o que motivou essa recomendação. Os resultados da pesquisa, feita com mais de 200.000 mulheres por uma média de 16 anos, mais uma vez confirmaram o que todos os estudos anteriores haviam mostrado: a impossibilidade de prevenir, diagnosticar precocemente ou reduzir o índice de mortalidade pelo câncer de ovários. Segue aqui uma explicação que dei no meu canal de YouTube, para alinhar ainda mais as expectativas e prognósticos.
Espero ter ajudado!
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