(Texto escrito com Débora Mateus)
A reciclagem é o reaproveitamento de materiais e tem ligação direta com a matéria prima. Atualmente, na moda, várias técnicas têm sido desenvolvidas para combater o impacto ambiental. Como o desfibramento de fios, feitos a partir de resíduos têxteis ou de embalagens descartadas. Um exemplo criativo é o Econyl, poliéster feito com o plástico coletado nos oceanos, adotado por marcas como a Adidas para a criação de tênis.
Até as sobras de alimentos estão sendo utilizadas para a confecção de roupas e acessórios. Como é o caso da seda vegana, desenvolvida pela empresa Orange Fiber, a partir da casca e bagaço dos sucos de laranja. Ela já criou peças para grifes de luxo como a Ferragamo e até para o fast fashion, com a H&M.
No upcycling, a peça base é pouco descaracterizada. Ela pode perder a função original, a forma ou ambas. Os materiais que seriam descartados ganham uma nova função, mas continuamos a identificar o DNA da peça. Por exemplo, montar uma calça feita com os cós de outras calças ou uma bolsa, a partir de materiais que iriam para o lixo. Apesar disso, existem algumas divergências. Os mais puristas não consideram a transformação de roupa em roupa. Ou seja, para eles só vale quando um estofado ou cortina vira uma vestimenta. Mas, para muita gente, transformar um casaco em saia já é upcycling.
Já na customização, a peça base ainda mantém muitas características originais, recebe modificações, novos detalhes ou ajustes. Como um paletó que vira colete quando as mangas são cortadas, ou uma bermuda criada depois de diminuir a barra de uma calça. A função da roupa não muda, apenas é repaginada, pode incluir tingimento, rendas, e bordados, até em reparos como num furo. Existe uma plataforma lançada há pouquíssimo tempo só para as pessoas compartilharem vídeos de suas customizações, a Fixing Fashion.
O objetivo desses três conceitos é prolongar a vida do que já existe. Estamos produzindo muito lixo. De 1950 até hoje, menos de 10% do plástico produzido foi reaproveitado. O resto continua poluindo a terra e os mares. Todos os anos, 500 mil toneladas de fios vão parar nos oceanos, de acordo com a ONU. A indústria da moda é uma das mais poluentes do planeta e por isso, grandes empresas do setor já estão investindo em soluções para diminuir esses efeitos.
Conglomerados do luxo como Kering e LVMH, os maiores no mundo, estão investindo em centros de pesquisa para a produção sustentável. Estão reunindo especialistas e startups voltados à inovação com biotecnologias, dados, práticas de redução de carbono e novos materiais.
Algumas empresas do fast fashion também já possuem ações que visam o desenvolvimento sustentável. Entre elas, medidas para a redução da emissão de carbono, desperdício de água e economia de energia em toda a cadeia de produção. E a substituição dos fios convencionais pelos orgânicos em suas peças de roupas. Algumas das marcas que já praticam os compromissos que assumiram são a Zara, H&M e Renner.
Na área da inovação, existem projetos em andamento que se destacam, como os desenvolvidos por duas startups indianas que usam a poluição do gás carbônico como fonte de produção de novos produtos. A Gravik Labs desenvolveu uma tinta, que foi usada, inclusive, para estampar roupas. A Carbon Craft Design combinou a tinta com lascas de mármore e produz azulejos para decoração. Ações como estas deveriam ser mais adotadas pela indústria da moda. Mas, é preciso tomar cuidado e ficar alerta com os discursos de marketing que usam termos em alta no momento, apenas para vender produtos, sem praticá-los e nem saber o que significam.
Cada vez mais, surgem novas empresas que fomentam esses conceitos. No Brasil, existem marcas de calçados veganos como a Linus, que produz sandálias livres de materiais pesados e 100% recicláveis. Outro exemplo é a Insecta, que cria palmilhas feitas com sobras de tecidos, solas com borrachas recicladas e o cabedal, que pode ser feito com roupas de reuso, garrafa pet ou algodão reciclado.
No segmento do vestuário, são diversas as marcas que priorizam a criação de roupas a partir do upcycle, como a Think Blue, Revoada e Brocki Brocki. Na confecção de fios sustentáveis, por exemplo, estão empresas como a Dalila Têxtil e Audaces.
O número de brechós também segue crescendo, deve alcançar um aumento de 20% até 2025, de acordo com pesquisas da consultoria BCG. O Abapha, por exemplo, é um brechó brasileiro que também ressignifica as peças manchadas, com tingimentos, dá uma repaginada muito bacana. Existem peças para todos os gostos e bolsos. Vale conferir.
Hoje em dia, falar sobre economia circular, peças de segunda mão, customização, upcycling e reciclagem não é pra quem tem falta de recursos. É pra quem não suporta mais jogar coisas fora porque já entendeu que é a única maneira de garantir um futuro neste planeta. Vamos descartar o descarte?
Débora Mateus @reframingwoman é jornalista e possui mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade Sorbonne (Paris, França).
4 comentários
Encontrei essa matéria faço esse trabalho há vinte três anos e venho estudando sempre já tive oportunidade de mostra em Portugal foi bem gratificante e aqui no Brasil estamos engatinhando ainda, pôr isso venho fazendo outras coisas que é no mesmo segmento mas não é o guê gostaria de fazer, Gratidão
Maravilhosas colocações! @bau.damoda trata disso além do patrimônio cultural brasileiro.
Concordo plenamente com vc : “Sigo acreditando que a vida é longa, mas a saia pode ser curta.” basta a alma não ser pequena.
Opa! O texto é de Débora. Mas o comentário segue válido .
Ana: bom saber que o número de empresas interessadas no produção e consumo consciente aumenta. Suas dicas sobre quem segue esta linha, que não é mais tendência é sim uma realidade e necessidade se quisermos um amanhã em um planeta melhor, são excelentes . Go a Head !