Neste mundo pandêmico, tenho a impressão que a maioria das pessoas fica presa em casa fazendo um ensaio de excessos -de ordem estética, pseudo-intelectual e fashion- além de especialização em assuntos irrelevantes. Quando esse povo sai, o bombardeio de artificialidade é algo impressionante.

Chego em casa precisando mais do que nunca de bons assuntos e inspirações a fim de ventilar a cabeça… e os olhos! Nessas, fui pego na semana pela série “Halston” (na Netflix) e pela música “Vincent” de Don McClean. Bálsamos para os neurônios.

Pessoalmente não conhecia a história de Roy Halston Frowick -muito bem representado por Ewan McGregor- estilista americano da década de 1960/70 que revolucionou, a grande custo pessoal, o mercado de moda americano com seu estilo minimalista e limpo. A estória de vida de gênios como Halston normalmente nos ensinam alguma coisa.

Estilo é um tema que sempre me agradou. Admiro os minimalistas por conseguirem, com poucos detalhes chegar a elegância e a sofisticação. Na arquitetura: Isay Weinfeld, Kogan, Bernardes, isso sem falar dos internacionais como Mies ou Richard Neutra. Na moda, Alexander Wang Ralph Lauren ou Jill Sander.

Ralph Lauren Downtown @stylejuicer

Sou fascinado pela habilidade de um arquiteto ou designer criar, a partir de um traço, coisas que vão durar anos e que as pessoas vão habitar, vestir, sentir.

O design, a poesia, a moda e a música sempre são minha fonte de inspiração e “recarga”. Quem acompanha a Drink’n the Pot Co. sabe que buscamos um pouco disso tudo e que a música está sempre presente.

Na música, como na poesia, o drama, o humor, a raiva, as saudades são componentes sutis e quando misturados na proporção correta, têm resultados deliciosos. A música me marcou desde cedo. Creio que ela e arquitetura chegaram juntas quando tinha lá meus 10 anos (faz tempo!!).

Na ocasião, me marcou o estilo “folk” porque meu pai gostava de ouvir Gordon Lightfoot. Quantos domingos não saímos de carro com ele ouvindo “If You Could Read my Mind” ou “Rosanna”, eu já totalmente envolvido pelo som do violão acústico… e pelo guaraná com Campari e laranja que ele, de quando em vez, oferecia.

Já adolescente, numa dessas viagens pro Guarujá –entre Pet Shop Boys, Joy Division e Depeche Mode- ouvi “American Pie” de Don McLean e desde então não parei de ouvir música “folk” americana ou canadense, normalmente acompanhada de um bom whisky, puro (sim, desde aquela época!).

Godfather cocktail @socialgoat

Don McLean é muitas vezes posto de lado em meio à tantos outros talentos. Seu estilo fica bem entre a música “de bar” dos anos 60 e as baladas introspectivas dos anos 70.

O que acho genial dele é a essência e o significado das músicas. A música “American Pie” fala sobre “o dia em que a música morreu…” Muitos pensam que uma referência à morte de Buddy Holly mas não é. McLean escreveu o primeiro verso “nas coxas” (literalmente) e o restante da letra veio como um “épico do rock’n’roll”.

O resultado é uma espetacular “estória da America”, das picapes na lama à James Dean, Beatles e Elvis Presley.

Já “Vincent” (1971) foi escrita como um tributo ao pintor Vincent Van Gogh. McLean conta a estória dele em uma melodia leve, destacando a influência das cores na sua obra, além de seu valor valoriza como artista e como pessoa, buscando “convencer o mundo de que ele não era um louco”… A mim, convence.

Pena que artistas e pessoas com esta extraordinária habilidade de fazer muito com pouco sejam cada vez mais raros.

É muita Piña Colada para pouco Dry Martini!

Mas sigo acreditando que, no mundo do excesso e da aparência, o menos é de fato, mais.

O trailer da Halston já vale a pena, como um Depeche Mode “de leve”.

E… Don McLean, Vincent.

Cheers!

Fontes:
www.songfacts.com
www.britannica.com/art/folk-music

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