Numa época de apelações e excessos, “chamar a atenção” parece ser a regra, e poucas pessoas ou grupos conseguem contribuir com discussões e temas interessantes de maneira elegante e consistente.
Inconformidades é assim: gente boa, divertida, inteligente falando de temas variados; do “capô do Fusca” até o Futuro, passando por Cazuza, divórcio, saúde e tudo mais. Todos os temas discutidos em uma agradável conversa de balcão, daquelas tão boas que até o vizinho de banco acaba se metendo.
Particularmente acho isso um “bálsamo”, pois aos 50, não tenho mais paciência para apelações e complicações, tampouco para os “especialistas de qualquer coisa” que andam por aí, ao vivo e nas redes sociais.
“Less is more”, mais do que nunca: simplicidade e ponderação inteligentes andam juntas. A essência da Drink’n the Pot Co. é, basicamente, esse trinômio: clássico – simplicidade – elegância. Os italianos têm um termo para isso; “sprezzatura”, a demonstração de graça sem esforço.
A palavra tem origem no Renascimento italiano por Baldassare Castiglione (1478-1529), escritor, diplomata, soldado e cortesão por excelência, ele forjou o tema em seu “Guia para o Comportamento Cortês Ideal”.
Ainda que a ênfase de Gastiglione fora voltada ao comportamento aristocrático, suas noções são bastante válidas. A ênfase aqui está em fazer tudo o que você faz parecer uma arte, evitando o superficial (por favor!)
Maestria e eufemismo andam de mãos dadas. A afetação dá lugar à prática de todas as coisas com certo “descuido”, de modo a ocultar a arte, e fazer com que tudo o que se diz ou se faça pareça sem esforço ou sem aparente reflexão.
A grande virtude da sprezzatura é que ela implica uma grandeza invisível, “um potencial implícito em suas sutilezas e falhas, uma força mantida em reserva”. É uma maneira de esconder o esforço por trás da aparência e da ação.
Não é tapeação, é “keep it simple”, aja naturalmente.
E isso é evidente nos drinks também.
A grande qualidade da maior parte dos coquetéis clássicos é alcançar o máximo de sabor e satisfação com combinações simples; Old Fashioned, Negroni, Martinis… não vão muito além do que três ingredientes, mas, na proporção certa, compõem uma experiência única. Sem adornos, guarda-chuvas, essência artificial ou espuma em excesso.
Mantém-se o minimalismo do Martini, e o equilíbrio do Fitzgerald, frescos, bem feitos, elegantes e naturalmente saborosos.
Vejam que “sprezzatura” vale para todas as áreas; um escritor que luta com sentenças e parágrafos e por fim consegue arrumar tudo de maneira clara e precisa em um texto incrível.
Nos esportes eu tenho meus ícones e com alguma chance de discordância, fico com Muhammad Ali; não importava o oponente, “ele era o maior”, sempre, construindo confiança antes e durante a luta.
Nas telas? Bem… Tem uma pessoa que para mim é a expressão de elegância natural e sprezzatura: Audrey Hepburn. Em qualquer momento da vida, jovem ou não, de chinelo ou gala, ela era tudo.
De todos os seus filmes, um de meus preferidos é “Charade” (1963) com amigo Cary Grant, a quem ela honra, impecável, com um discurso emocionante no Tributo a ele do Kennedy Center.
Audrey Hepburn @detikhot.com
Aos homens, o nomeado “Rei da Spezzatura”: Gianni Agnelli… Afinal quem mais pode usar um relógio de pulso por cima da camisa e ficar elegante?
Na música a tarefa é difícil, muitos talentos. Como o tema nos remete aos italianos, deixo o clássico “Volare”, mas na voz de David Bowie!
E…até o próximo drink!
Cheers!
Fontes:
www.thoughtco.com/what-is-sprezzatura-1691779
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1 comentário
Por mais sprezzatura! Que termo mais adequado, adorei de cara…
Li um pouco sobre a cultura do renascimento na Itália e, lá tem várias referências de Baldassare Castiglione. Lembro de ter visto que Essa manual de boas maneiras era visto como a maior forma de sociabilidade. Bom, Acredito também que a noção sprezzatura é bem válida, principalmente quando se tem referências tão boas. Confesso que Não entendo basicamente nada de coquetel (estou aprendendo os nomes aqui, com seus textos), mas acredito em uma coisa: na combinação de simplicidade! Acredito que menos é mais, nada de esforço, por que tudo deve fluir mesmo com naturalidade. E falando nisso…
Não posso discordar de nada em seu texto, muitas referências de sprezzatura por aqui ( de Fitzgerald à David Bowie)! Também Sou apaixonada pela pessoa da audrey. Ela tinha uma elegância que jamais vi em outra atriz: ela, de fato, foi um ser humano extraordinário… Gosto muito de Charade, mas o meu preferido mesmo é Sabrina ( acontece que amo vê-la com Humphrey Bogart).
Texto gostoso de se ler!
Parabéns!
Abraço,
Glaucia