Os palitinhos do teste de farmácia confirmaram: GRÁVIDA!

Fiquei atônita, gelada. Tive medo. Senti que o sangue tinha parado de pulsar em minhas veias. Um minuto depois o oposto. Coração acelerado, agitação, calor e emoção.

Mal sabia eu que essa montanha-russa de emoções passaria a ser parte da minha vida a partir daquele dia.

Nas primeiras 12 semanas de gestação, além do sono descomunal e um terrível enjoo matinal, aquela preocupação: será que está tudo bem, será que vai vingar? Ultrassom morfológico. Tensão. Ufa, está tudo bem!!!

Relaxei. Me senti a mulher mais abençoada do mundo. É muita força gerar uma vida dentro da gente. Poder imenso. Eu me sentia iluminada. Antes mesmo de a barriga aparecer, eu já fazia pose de grávida e fazia questão de usar a fila preferencial em todos os lugares que eu ia.

Junto com essa sensação deliciosa de encantamento que a primeira gestação traz, experimentei também a perda da paciência, o mau humor e a vontade de chorar por qualquer coisa. Uma sensação de deixar de ser você. De não ter ideia de como estará no próximo minuto.

A barriga aparece! Se antes achavam que você estava estranhamente rechonchuda, agora o mundo inteiro sabe que você está grávida. Começam os conselhos, os palpites e também as deliciosas manifestações de carinho e cuidados.

Em qualquer lugar que se vá, você será o centro das atenções. O mundo adora uma grávida. Todos se comovem ao ver a renovação da vida, ao constatar que apesar de tantas transformações na sociedade muitas mulheres continuam querendo ter filhos, optando por assumir esse ancestral papel.

É fato: você É a pessoa mais importante do mundo! Carrega com você a semente da renovação, a perpetuação da espécie.

E quando seu filho se mexe na sua barriga? Aquele movimento que só você pode sentir e, quando sente, o coração parece que vai transbordar. Sorriso brota no rosto, pensamento vai longe.

A gravidez vai chegando ao fim. A barriga está imensa, pesada. Dormir fica complicado, amarrar o cadarço do tênis é quase impossível. Apesar disso tudo, vai dando saudades antecipadas da barriga, daquele intimidade e cumplicidade que só você tem com seu filho.

A ansiedade começa a crescer e junto com o medo do desconhecido vem também uma vontade imensa de ver a carinha do bebê, de pegá-lo no colo, de cuidar, nutrir, beijar. Deixar transbordar esse amor que, sem saber, a gente alimenta desde quando embalava as bonecas no colo, preparava a comidinha e colocava para dormir aquelas menininhas de pano que semearam em muitas de nós a vontade de ser mãe.

Chegou a hora. Vai nascer!!! No meu caso esse momento chegou depois de 14h de trabalho de parto. Eu olhava em volta e via meu marido aflito por me ver com dor, as enfermeiras de lá prá cá, o anestesista ligando para o obstetra que estava preso no trânsito. Nada daquilo me abalava. Eu estava absolutamente embevecida. Tudo o que eu sentia era paz e tranquilidade.

Foi um momento mágico, iluminado. Definitivamente o mais especial de toda a vida.

Aquele pacotinho no teu colo. Aquela pessoinha que você nem conhecia e já ama mais que tudo.

Aí você passa três dias no hospital envolvida naquela névoa, aquele torpor delicioso. São muitas visitas, paparicos e todo carinho do mundo. Enfermeiras prestativas te explicam qual a melhor pegada do seio para amamentação, o departamento de nutrição prepara exatamente o que você deve comer nessa fase. O mundo inteiro está ali para te auxiliar a fazer daquele o momento mais confortável de sua trajetória, te auxiliando em tudo. E teu anjinho ali, no berço ao lado, puro amor.

Hora de ir embora para casa.

Minha mãe é daquelas mulheres que “nasceram para ser mãe”. Teve 4 filhos, nunca contou com a ajuda de uma babá e jamais demonstrou cansaço. Pelo contrário, ela sempre foi um poço de tranquilidade e é para nós o maior porto seguro até hoje.

Este era, portanto, o modelo que eu conhecia. Achei que para mim seria igualmente natural e absolutamente tranquilo agregar a maternidade à minha vida.

Não foi. E isso me frustrou demais.

Aquele bebê que era um santo na maternidade, parecia que agora só chorava, me fazendo sentir completamente incompetente por não conseguir contornar a situação e me desesperar por isso.

Na época eu achava que era o desconforto do meu filho que me descontrolava. Hoje tenho plena consciência de que o que me enlouquecia era a constatação da minha incapacidade de aceitar que nada mais estava sob meu controle. Que controle, aliás, passaria a ser uma palavra ausente do meu vocabulário por um bom tempo.

Eu, que conseguia dormir algumas horas na maternidade porque aquelas santas enfermeiras levavam o bebê para o berçário, me perguntava se algum dia voltaria a ter horas de sono tranquilo na vida.

Muitas vezes senti tristeza e chorei escondido. Se era difícil assumir para mim que com um filho saudável e desejado nos braços eu tinha esses momentos down, imagine para o resto do mundo?

Eu estava sempre com sono, mas muitas vezes troquei a cochilada entre mamadas por ficar simplesmente debruçada ao lado do berço, namorando aquela coisinha, contemplando cada movimento do meu filho recém-nascido.

Devagarinho fui entendendo que ser mãe é assim. O melhor exemplo da palavra “paradoxo”.

É ter medo e angústia, ficar devastada pelo cansaço físico e emocional. Perder o controle da própria vida e não ter mais nenhum domínio sobre sua agenda. Sentir culpa e se sentir devedora a cada vez que opta por fazer algo que não envolve teu filho.

Também é viver o maior amor do mundo, sentir que o coração pulsa fora do corpo. Se emocionar com cada conquista daquele pequeno e querer que ele seja melhor que você. É querer viver 100 anos para poder acompanhar toda a evolução dele. Se tornar um indivíduo melhor e mais tolerante. É conhecer na pele e no coração o significado da palavra altruísmo.

Também aprendi que ser mãe é uma experiência absolutamente individual. Que modelos pré-concebidos nos auxiliam como referências mas não podem ser jamais como guias imutáveis. É como vestir uma roupa que não nos cabe.

Somente quando entramos em contato com a NOSSA trajetória como mãe – pessoal, individual e intransferível – é que vivemos este papel de forma plena e segura.

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12 comentários
  1. Demais re! Me identifico mto com suas palavRas! O momento do parto para mim foi a melhor EXPERIÊNCIA da vida, me fez sentir a mulher maia foda do planeta!! E a perda do controle nossa essa e a maior verdade do mundo e me lembro bem quanso vc peSsoalmente me deu esse concelho! Me lembro dele todos os dias!!!

  2. ❤️❤️❤️❤️ os Detalhes mudam Um pouco mas os semtimentos muito paRecidos , que delicIa ser mUlher e Que delicia vivEr esse TURBILHÃO de emoçoes !!!!!

    1. Um turbilhão.
      Sem dúvida nenhuma é a aventura mais transformadora da vida, pela vida inteira!!
      A transformação nunca cessa, né?
      “com um filho nasce uma amãe”- e conforme ele cresçe, essa mãe também cresce, se molda, muda, vem e vai em constante movimento.
      Beijo!!!

  3. Como sempre a tua escrita é realmente encantadora. Eu que me tornei mãe RECENTEMENTE, me vi em 88% mais ou menos das tuas experiências.
    A maternidade é sem dúvida nenhuma uma montanha russa, como você descreveu.
    Estou amando acompanhar o que você expõe aqui.
    Bjos carinhosos!!!

  4. Que texto mais sincero e nada romantizado. Não sou mãe, mas penso muito em ser, vem as dúvidas, medos, sofro de ansiedade já. Lembro que li algo no mestrado sobre as diferenças de percepções que a mulher sente, é aquela coisa: a maternidade nunca é igual, cada mulher sente e percebe de modo diferente. Fiquei emocionada com essa trajetória belíssima, mas não como mãe e, sim, com um olhar de filha. Irei repassar o texto para a minha mãe, acho que ela vai gostar muito.

    Obrigada por esse relato.
    Abraço.
    Glaucia

    1. Claudia,
      Como tudo na vida, não existe uma forma única de viver a coisa.
      Os modelos e percepções do outro servem como guias, modelos ,mas não podem ser uma coisa rígida se não encaixotam e esmagam a gente.
      Eu tinha como paradigma a minha mãe, que para mim é a própria encarnação do sentido de “maternal”. Sempre disponível, ultra paciente, abdicando de si em prol dos filhos em 100% do tempo e com sorriso no rosto (claro que como filha eu não tinha ideia do que se passava dentro dela, do caminhão de frustrações que ela devia engolir, sei la).
      mas fato é que quando me tornei mãe imaginei que naturalmente seria o mesmo modelo de candura, amor e paciência sem fim.
      NÃO FUI!!!
      e no começo me culpei demais por isso. Mas devagarinho fui entendendo que antes de sermos mães diferentes, minha mãe e eu somos MULHERES muito diferentes. Com outras vontades, anseios e expectativas.
      O QUE FUNCIONA PARA UM NÃO FUNCIONA PRO OUTRO.
      E TUDO BEM!!!
      o mais importante para qualquer trajetória é o auto conhecimento. entender do que VOCÊ (ser individual) dá conta ou não dá, o que te realiza ou não realiza, o que é ou não é inegociável e por aí afora…
      Um beijo para você e obrigada por teu comentário

  5. Renata, que lindo texto, claro, objetivo e muito verdadeiro, EMOCIONANTE define!
    me fez Aflorar Toda a EMOÇÃO de ser mae, como se fosse ontem, apesar de 40 anos ja passados, foi Definitivamente a maior emocao da minha vida !!!
    Obrigada querida !!!
    Bjs

  6. Amei. Simplesmente tudo. Obrigada por colocar no paPel de forma tao singela essas emocoes que nos mulheres passamos ao ser mae.

    1. Susanne,
      Obrigada pela devolutiva. Sem dúvida a experiência mais transformadora da nossa vida, não?
      (também adoro acompanhar teus textos e tuas aventurAS!!!)
      QUANDO TUA HISTÓRIA ESTREAR NO CINEMA ESTAREI NO GARGAREJO…
      UM BEIJO, RENATA

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