Há uma conspiração nas ruas de Ipanema. Madames endinheiradas estão de conchavo com alguns porteiros interessados num troco para –juntos– retirarem as orquídeas naturais, plantadas em árvores nas ruas Nascimento Silva, Redentor e Barão de Jaguaribe. São todas ruas que dão acesso à praia ou a Lagoa e, em tese, um dos metros quadrados mais caros da Cidade Maravilhosa.

Eu no meu footing diário, nesta pandemia que nos leva no máximo a dar um rolé a pé, estou desde o ano passado encantada com as muitas flores, cores, aromas que brotam das árvores ipanemenses. Mas ao mesmo tempo em que me alegro, virei uma espécie de fiscal da natureza, como se esses trechos de rua fossem a minha Amazônia particular e eis que pá! Cadê aquela orquídea linda que estava aqui? Frondosa, imensa, muitos galhos em terminações coloridas que explodem em muguets, viram lindas flores e enfeitam nosso cotidiano banal neste vale de lágrimas chamado Brasil.

E não é que dei pra dar falta de muitas flores no meu trottoir? Fiquei bolada e, intuindo que algo estava errado, passei a conversar com porteiros, faxineiros, lavadores de carro e até mendigos que elegem uma parte do meio-fio para ganharem um dindin. Assim na lata, ouvi de um deles: “Ué, a gente aluga essas flores pras madames colocarem em casa. Muitas nos pagam e outras simplesmente pegam. Algumas devolvem e outras somem com as plantas na cara dura”.

Abismada estava, abismada fiquei. Coméquié? Tráfico de orquídeas? Peruas cariocas abusam da natureza local e surrupiam as plantas pra decorarem suas salas? Não sei se comento, se arrumo um piquete, se faço um barraco… Mas fiquei indignada. Por isso minha coluna de hoje é para extravasar minha pequena ira, afinal quem se importa com isso? Pensando bem acho que vou instaurar a CPI das orquídeas saqueadas por madames. A operação já tem nome: “Pra não dizer que não falei das flores”. Torce pra não murchar.

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1 comentário
  1. Nada mais me surPreende nesse país onde todos querem satisfazer sEus “direitos” . Imagine se fosse uma Mulher preta fazEndo a memsa coisa ?

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Eu sempre revisitei o meu passado através das músicas, misto de bússola com termômetro e confesso que quando morre um artista gigante, há uma fusão de lágrimas e sorrisos enquanto grudo meu ouvido no fone. E juro, posso contar minha vida não apenas pelos anos vividos mas pelas canções de Rita Lee.