Há voos e voos. Eu prefiro voar, literalmente, entre o mar e o céu. Nessa viagem chamada vida não há tempo para medos. Somos folhas ao vento.

Por Deva Heberlê

Os diferentes caminhos da vida me propuseram as mais diferentes aventuras, algumas planejadas e outras completamente inesperadas, por terra e mar. Mas ainda não havia experimentado a delícia de voar, de estar entre o céu e o mar. Pois não é que experimentei!                  

Com os pés fincados no chão e a cabeça repleta de ideias e muitas interrogações, sou uma mulher madura a enfrentar os desafios que a vida me impõe. Alguns deixam marcas profundas, mas sigo adiante.                                        Aos poucos, fui rompendo os laços com a adolescente obediente e passei a desobedecer solenemente todas as imposições que possam ameaçar minha liberdade. Esse rompimento com a obediência e os  medos chegou com um desafio interno e um profundo desejo de romper com tudo que me desse dores. Ainda tenho muito o que viver e desejo provar os sabores desta vida de sessentona. 

Com minhas tranças nagô enxerguei uma ancestralidade nunca vista antes. Agora, meu primeiro voo de paramotor, me deu de presente uma emoção ainda não sentida. Lá estava eu entre o azul do céu e o do mar, voando, com o vento brincando no meu rosto, a empurrar o paramotor para baixo e para cima – bem como a vida faz com a gente. 

Não há limites para se emocionar. Enquanto voava, admirava o encontro do mar e do céu, das águas com o Morro do Careca e com a Praia das Tartarugas (em Natal, Rio Grande do Norte) meu coração se enchia de gratidão, pois eu sabia de onde vinha aquela força . 

Eu me sentia uma folha a brincar com o vento, sem tempo de voltar ao chão. Por vários momentos fechei os olhos e repetia: se morrer é assim, não há o que temer. 

Aos 62 minutos de um segundo tempo, ou da prorrogação, ou dos pênaltis, eu quero muitas outras emoções. A de voar de paramotor foi só o começo . Voar foi uma celebração ao amor e a eterna aventureira que mora nesta mulher madura, com os pés no chão e a cabeça cheia de ideias para seguir esta viagem chamada vida.        

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