Mãe é Mãe e sempre sabe de tudo. A quem privilegia esse discurso? chegando o Dia das Mães, um olhar diferente sobre o tema

Por (@silfelipemarzagao)

Há um mantra enraizado na nossa sociedade de que mãe é mãe. Basta dizer só isso (ou tudo isso) e o recado está dado: se a mãe está fazendo, é o melhor para o filho ou, se ela está falando, é assim que deve ser. É algo que nos coloca, como mulheres mães, quase que em um lugar heroico, sagrado e intocável.

Como a realidade social é também introjetada em aplicações legislativas e judiciais, essa impressão – de quase sacralidade e “melhor jeito” para o cuidado – também se reflete nas discussões judiciais que tratam de guarda e convivência de filhos.

A presente mensagem do dia das Mães não tem nenhuma pretensão de trazer questionamentos subjetivos sobre a temática. Esse escrito é, acima de tudo, um convite a uma reflexão de forma aberta e sincera: a quem privilegia esse discurso e essa posição de extrema capacidade e cuidadora exclusiva que a sociedade impõe às mulheres? 

Com a proximidade do dia das Mães, vale questionarmos se, em alguma medida, essa percepção generalizada de que somente a mãe deve ser responsável pelas crianças nos privilegia como mulheres, especialmente se o ônus de se responsabilizar exclusivamente pelos filhos sobrecarrega demasiadamente quem o faz. 

A imposição de mãe super-heroína, que sabe tudo e que deve ser cuidadora primordial impõe dificuldades à mulher quanto à falta de tempo para suas atividades cotidianas, comprometimento de sua atualização profissional, trazendo desatenção com o cuidado de sua saúde física e emocional, bem como impossibilidade de boa alocação no mercado de trabalho. Em grande medida, ao normalizarmos o cuidado como algo somente feminino, afastamos as mulheres do exercício de espaços de poder e destaque.

Além disso, essa postura mantém como tabu o cuidado em mãos masculinas já que, mesmo quando pai, a sociedade espera do homem o papel de auxiliar e ajudante, nunca de cuidador principal. Pelo senso comum, cabe à mulher – e somente a ela – cuidar dos filhos. Na falta da mãe, cuida a avó, a babá ou outra cuidadora mulher. A imediata associação do cuidado ao gênero (somente as mulheres sabem cuidar) é marca social longínqua, talhada na carne de homens e mulheres por séculos. 

A noção de equiparação das figuras parentais desafia dogmas sociais e ainda precisará de algum tempo para ser aceita sem ressalvas. Somente o amadurecimento social e a necessária reflexão sobre a matéria é que permitirão o exercício do cuidado para além do gênero, permitindo participação igualitária de homens e mulheres na criação de filhos, circunstância que têm benefícios cientificamente comprovados advindos do equilíbrio no exercício das funções de seus parentais e da presença de ambos em suas vidas cotidianas.

Fica então o convite para usarmos essa mensagem do dia das Mães para uma reflexão profunda para uma possível transformação dos pesos e imposições da maternidade, de modo que ela seja repensada dentro de uma sistemática de participação ativa de homens e mulheres na criação e cuidado de filhos. 

Leia também: O que você quer de presente de dia das mães

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