Machismo Presidencial Sul Americano

Muitos líderes políticos, em vez de se ocuparem com a economia de seus países, dedicam parte de suas jornadas de trabalho a falar sobre o sexo de terceiros. Esse foi o caso do então presidente da Bolívia, Evo Morales, que durante um comício em 2015, ao ver que sua ministra da Saúde, Ariana Campero, não estava supostamente prestando atenção nele (e em seu discurso), interrompeu a fala para dirigir-se a ela:

 “Não quero pensar que você é lésbica, Ariana!” (no sentido de algo como se ele fosse um sex symbol a ser olhado sem parar). Os ministros riram. Campero esboçou um sorriso amarelo.

Associações de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais lamentaram as declarações de Morales, ressaltando que – mais uma vez – ele estava discriminando, ironizando sobre os direitos dos outros, neste caso, como se fosse um defeito ser lésbica.

As declarações de Morales tiveram repercussão negativa em todo o mundo.

Para tentar colocar panos quentes, o presidente argumentou: “ora, sou um feminista que conta piadas machistas!”. Meses depois, obcecado com o mundo gay, voltou ao assunto: “Não entendo como mulheres podem se casar com mulheres e homens com homens!”

Em 2010, em uma cidade do interior, do alto do palanque, Morales já havia dado uma de biólogo, pontificando que o suposto crescimento do número de homens gays no mundo devia-se à carne de frango transgênica. Na sequência, sustentou que a influência galinácea na opção sexual dos homens estava comprovada pela ciência. E, para arrematar, como se fosse um pastor pregando para seus fiéis em um templo sobre os “perigos satânicos”, Morales chamou a homossexualidade de “desvio”. Para deixar claro que é heterossexual, Morales rapidamente explicou que evitava comer frangos de granja. 

Morales sempre se posicionou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e contra a legalização do aborto.

Mas a misoginia não tem exclusividade ideológica. 

Em 2014, quando o atual presidente Maurício Macri era prefeito de Buenos Aires e já preparava sua candidatura presidencial, declarou que “todas as mulheres gostam de levar cantadas”. Na ocasião, Macri também havia ressaltado que as mulheres – segundo ele – gostam quando um homem “elogia sua bunda na rua, mesmo quando isso era acompanhado por uma grosseria”. 

Para arrematar, sustentou que não acreditava nas mulheres quando diziam que estavam ofendidas por isso. As declarações de Macri em 2014 desataram uma onda de críticas, e o então prefeito teve que pedir publicamente perdão por suas afirmações sobre as mulheres. 

O presidente chileno Sebastián Piñera é famoso por suas gafes nos mais variados âmbitos. Da política à cultura, das relações internacionais à sexualidade. Em 2017, em um breve discurso para seus partidários, tentou fazer humor sobre o assédio sexual exatamente na mesma época na qual o Parlamento estava barrando um projeto de lei para punir o assédio nas ruas.

“Bom, rapazes, acabam de me sugerir uma brincadeira divertida. É muito simples. Todas as mulheres se jogam no chão e fingem de mortas. E nós, nos arremessamos em cima e nos fazemos de vivos. O que acham?”, perguntou Piñera, encerrando o evento. 

Perante a saraivada de críticas disparadas contra ele, Piñera tentou argumentar com a clássica desculpa “era  só uma brincadeira”.

Durante uma cúpula de presidentes no México, Piñera disparou outro de seus comentários machistas: “Sabe qual é a diferença entre um político e uma dama? Quando o político diz ‘sim’, quer dizer ‘talvez’; quando diz ‘talvez’, quer dizer ‘não’, e quando diz ‘não’, não é um político! Quando uma dama diz que ‘não’, quer dizer ‘talvez’; quando diz ‘talvez’, quer dizer ‘sim’, e quando diz ‘sim’, não é uma dama”.

Famoso por seus comentários machistas e misóginos e por sua pose de latin lover, Hugo Chávez, presidente da Venezuela entre 1999 e 2013 (ano de sua morte), estava realizando seu programa de rádio ¨Alô, presidente¨ no dia de São Valentim, no 14 de fevereiro do no ano 2000, quando enviou um recado para sua esposa na época, Marisabel:

“Se prepara, Marisabel, que hoje à noite te dou aquilo que você gosta!” 

Depois, com milhões de ouvintes atentos às declarações de ¨El Comandante Supremo¨, Chávez arrematou:

“E aí, lembra aquela noite no Fusca?”A seu lado, seus ministros e secretários, aplaudiram as frases de Chávez. 

Seu sucessor, Nicolás Maduro, dias atrás, disparou outra frase digna de entrar na antologia do machismo presidencial latino-americano. Durante um discurso em rede nacional de TV, Maduro afirmou que “a única coisa da qual sou dono é a Cilla (Cilla Flores, a mulher com a qual está casado)”. Na sequência, voltou a se referir a ela como sua “propriedade”.

Meses atrás, Maduro havia se referido às mulheres venezuelanas de forma geral na véspera das comemorações do Dia Internacional da Mulher. Na ocasião Maduro disse que “as mulheres estão feitas para dar a luz”. Segundos depois, convocou “todas” as venezuelanas a terem “seis filhos”. O objetivo, explicou, é “fazer que a pátria cresça!”. Depois, como se estivesse em um leilão exclamou: “Vamos parir, ora! Vamos parir!”. 

Maduro declarou que seu regime é “o reino da ternura, da igualdade e da felicidade”.