Não quero mais usar palavrinhas. Estou falando dos “substantivos do mal”: os diminutivos ofensivos. Não falo daqueles que transmitem carinho ou intimidade. Eu me refiro àqueles toda vez que ouço “inha”, “zinho” e outras terminações similares que carregam um certo preconceito, bullying e ironia.

Elejo aqui alguns exemplos.
Em uma manhã na farmácia, eu aguardava o atendimento na fila, atrás de uma senhora. Assim que ela saiu, vieram comentários: “Que senhorinha fofa!” , “Que cabelinho branco mais lindo!”, ” E a bolsinha? Uma gracinha!”. Eu quase perguntei “De qual criança vocês estão falando?”

Quando eu tiver 80 anos, se me chamarem de “senhorinha”, vou ficar muito brava, mesmo que eu tenha diminuído 10 centímetros do meu 1,70 de altura. Querem ser uma senhora! E só.

Um dia desses, eu almoçava em um rodízio de carnes. Depois de me empanturrar de comida, pedi a conta. Aí, apareceu um garçom com uma bandeja de sobremesas e disse “Que tal um docinho para finalizar?” Vai por mim: chamar doce de “docinho” não diminuirá a ingestão calórica. Fiquei firme e recusei a oferta. E não é que ele insistiu? “Que tal então um licorzinho?”

A comida – não é comidinha- é uma das maiores vítimas do diminutivo: coxinha, beijinho, biscoitinho, bolinho, escondidinho, enroladinho, lanchinho. Não se engane e nem engane um bebê. Abaixo a papinha!

O que está por trás desses diminutivos deveria ser tese de doutorado de Linguística.

No Brasil, “japinha” virou apelido genérico para pessoas de olhos puxados e é comumente usado para crianças ou idosos. O diminutivo de “japa” serve tanto para sexo feminino quanto para o masculino. Acho pejorativo.

Trago outros contextos, caso meus argumentos não tenham sido convincentes. Sabia que “escurinho” era a palavra usada para ser chamar os negros numa tentativa não-racista? Para evitar o preto ou negro, muita gente – até hoje- usa essa técnica que esconde, sim, preconceito. Pouca gente conhece, por exemplo, o verdadeiro nome um famoso atacante do futebol brasileiro, Luís Carlos Machado, conhecido como Escurinho. Não, não estou falando do século XVIII!

Diminutivos funcionam em alguns casos, mas não numa sala de depilação, por exemplo. “Por favor, você poderia retirar esse ‘pelo’ ridículo do meu queixo?

Há uma relação enorme de diminutivos depreciativos, irônicos e ofensivos. O que dizer da palavra gordinha, pela qual eu já fui chamada? E tinha uma pior: cheinha!

Mais exemplos de palavras que devemos abolir? Gripezinha, rolezinho, rasteirinha, modinha, povinho, terrinha, pombinhos, namoradinho, pegadinha, bonitinho, jeitinho, mulherzinha.

O presidente da República concorda comigo. Já viu como ele se irrita quando alguém fala em “rachadinha?”

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5 comentários
  1. Minha mae odeia esse tratamento infaNtil e pior ainda quando A pessoa faz esse “carinho” falando para o acompanhante e nao com o Idoso.
    Em portugal se usa muito O diminutivo, todo beijo é um beijInho .
    Nao precisamos de tantos inhos.

  2. Má, congordo em parte pOrque entendo que muitas Vezes o diminutivo é uma expressão de carinho, como o caso da “senhorinha”.
    Acho que todo excesSo é ruim asSim Como a banalIzaçÃo do “eu te amo”, “Linda”, “querida” e outros termOs que são usados à exaustão nas redes sociais.
    Tenho um amigo que se irritou com um motorista do ubeR que ao se despedir disse “obrigaDo querido”…
    Ele está certo ou errado? O motorista quis ser legal mas para ele bateu como una invasão de intimidade…
    O mundo está louco e as palavras batem diferentes para cada um…

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