Ter contato com inúmeras pessoas, conhecer linhas de produção dos mais diversos produtos, planejar as visitas dos compradores estrangeiros e acompanhá-los às fábricas pelo Brasil afora virou parte do meu dia a dia. (“Adeus Souvenir; viva São Paulo!”) Inicialmente sempre com a presença do Reto Hammerstein, mas em pouco tempo fiquei apta a cumprir tais tarefas com eficiência e sem sua ajuda.

Aprendi muito com Reto. Na verdade, ter sua companhia era por si só um ganho: que homem inteligente, perspicaz, fino! Dotado de uma imensa inteligência emocional, tratava todos sempre com extrema gentileza e atenção, não importando o cargo e o nível social delas. Nos restaurantes e hotéis, a gorjeta era dada logo ao chegar: “Assim seremos bem tratados desde o início da nossa estadia”, dizia.

Sabia como fazer para que os compradores do exterior quisessem sempre voltar ao Brasil: acompanhando-os não só ao visitarem novos e eficientes fabricantes pelo Brasil afora, mas também levando-os a excelentes restaurantes, a bares exclusivos e a shows de música e dança. Alojando-os nos melhores hotéis, cuidando sempre para que recebessem um serviço perfeito.

Solidão

Reto, e esta era uma tarefa exclusiva dele, organizava também, dependendo do comprador, noitadas nas boates da moda no momento e até mesmo encontros em casas de massagens só para cavalheiros. “Os melhores negócios são fechados fora dos escritórios, lembre-se sempre disso”, dizia.

A posição de todos nós do time da Arara-Export era muito confortável, pois os fornecedores nos tratavam como compradores. Assim, nos dedicavam grande atenção: limusines com chofer eram colocadas à nossa disposição quando visitávamos suas fabricas ou seus escritórios. Ofereciam-nos hospedagem em hotéis de luxo assim como convites para jantar nos melhores restaurantes.

No entanto, quando em uma reunião de negócios, a conversa era outra: uma guerra por centavos, por prazos de entrega, por eventual exclusividade. “Sempre que puder, dê uma espiada nos papéis deixados à vista pelas mesas dos escritórios onde visita. Por vezes encontramos informações valiosas…”, mais uma valiosa dica do Reto, que uso até hoje! Então aviso: cuidado com o que deixam aleatoriamente sobre suas mesas!

Sempre muito bem-vestido e sempre muito galante, Reto era muito discreto com relação à sua vida particular. Nós, as oito mulheres que faziam parte do time da Arara-Export, ficávamos sempre fazendo especulações a respeito de sua vida amorosa: gostaria Reto de mulheres ou de homens? Teria ele uma namorada? Ou… um namorado? Não sabíamos nada sobre sua vida particular! Na verdade, todas nós éramos um pouquinho apaixonadas por Reto, embora ele nunca tenha deixado a menor impressão de ter interesse por alguma de nós, além do relacionamento absolutamente profissional.

Solidão

Assim que me senti segura no meu novo emprego, aluguei um apartamento no bairro do Morumbi, novinho, ensolarado, grande. Mobilhei-o com muito carinho, cuidado e bom gosto. Tirei minha carteira de motorista, comprei o primeiro carro: um Corsa azul-celeste, já meio velho, mas, de acordo com meu irmão, excelente como primeiro carro, quando ainda não temos muita experiência ao dirigir. Ele haveria de ter razão. Usava linhos e sedas das melhores grifes do país. Viajava muito e, portanto, ficava pouco em casa. Desfrutava de uma vida de imensa satisfação profissional, mas, no fundo, me sentia muito só.

Não tinha amigos em São Paulo e não achava o fio da meada para cultivar amizades. Na verdade, nem sabia como fazê-lo. Uma deficiência que mantive até a idade adulta, talvez por não ter aprendido isto quando criança, devido à vida nômade que levava minha família. (“As muitas vidas de uma sessentona feliz”.) Sempre sentindo-me inferior aos meus colegas de trabalho, tinha medo de expor meus defeitos, tornando-me vulnerável. Eu não queria correr perigo de estragar a imagem de yuppie bem-sucedida e mulher perfeita que todos tinham de mim. Ter amigos significa ser, para eles, transparente. Teria eu, receio de tal?

Também não encontrava coragem para me inscrever em uma academia de ginástica ou algum curso onde pudesse conhecer novas pessoas. Nos finais de semana, quando não em viagem de negócios, eu viajava de carro sozinha para Ubatuba. Sozinha ia acampar, na praia Ubatumirim, no “meu” camping. Ou alugava um quarto numa pousada qualquer. Mas sempre sozinha. E sempre me envolvendo com homens inadequados, em relacionamentos que não duravam.

Solidão

Você deve se lembrar da revista “Nova”, hoje Cosmopolitan, acredito. Havia lá uma coluna de relacionamentos. Tomei toda coragem e decidi que colocar um anúncio procurando um namorado talvez fosse a solução para encontrar o homem certo. “Lobinha do Mar”, era meu pseudônimo. Explico: meu sobrenome era, quando solteira, Wolff, o que significa em português, lobo. Como amo o mar… Achei que este pseudônimo combinava comigo.

Solidão

Quantas respostas recebi! Contei umas quinhentas e poucas cartas no decorrer de algumas semanas. Acabei por jogar fora a maioria delas, pois arrebatadas de erros de português. Outras sem fotografia, com conteúdo ou fotos com aparência que não me tocaram, também foram parar no lixo. Finalmente, acabei conhecendo pessoalmente dois dos interessados, mas logo vi que eles não seriam alvos do meu amor. E entendi que essa não seria a solução.

A solidão era tanta, que, num ímpeto, numa atitude impensada e errônea, resolvi telefonar para o Saulo no Rio. (“Mulher competente, coração infeliz”) Ele demonstrou enorme alegria ao reconhecer minha voz. “Que maneiro, você voltou da Alemanha! E está em São Paulo! Semana que vem vou te visitar! Eu terminei o noivado com a Célia!”

Minha expectativa era grande: enchi a geladeira de coisas gostosas, enfeitei o apartamento com flores e comprei lingerie nova. Eu, que sempre amei minhas madeixas longas, cortei meu cabelo bem curtinho, na esperança de o agradar, pois Saulo gostava de cabelos curtos. Havia mencionado isto quando eu estive morando com ele aqueles poucos dias no Rio de Janeiro. Tinha esperança de que, agora, ele me amaria…

Quero ressaltar que esta foi a única vez na minha vida em usei um corte de cabelo curto por livre e espontânea vontade!

Saulo passou três dias comigo, mostrava-se apaixonado, muito carinhoso e dizia orgulhoso de mim, por eu estar sendo tão bem-sucedida profissionalmente. Recomeçamos nosso relacionamento e nos encontrávamos quase todos os fins de semana, sempre em São Paulo, no meu apartamento, mas nunca no Rio. Não fazíamos planos para o futuro. Eu nem pensava em futuro. Estava feliz vivendo o presente. Até que…

Segunda-feira. Saulo havia passado o fim de semana comigo e faria aniversário no sábado seguinte. Havia dito que não poderia vir para São Paulo, por motivos de trabalho. Tive então a ideia de fazer uma festa surpresa para ele, no Rio, convidando seus amigos para participarem. Sem refletir muito, acabei por ligar para seu melhor amigo, contando sobre minha ideia e pedindo seu suporte na realização da festa.

O que você acha que aconteceu? Escolha uma das opções abaixo e responda lá nos comentários, se quiser, claro. Adoraria saber qual seria a sua previsão:
A – O amigo de Saulo foi excelente ajuda para organizar a festa, que foi um sucesso.
B – O amigo me disse que Saulo já havia planejado a festa em seu apartamento e seus amigos haviam sido convidados.
C – O amigo desculpou-se, dizendo que não teria tempo para ajudar e que achava que Saulo não gostaria da ideia.

Venha ver na próxima semana aqui se você acertou, pois eu vou te contar o que realmente aconteceu…

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23 comentários
    1. Oi, Mary querida. Eu também gosto mais da lobinha De cabelos compridos. Quanto a resposta, vem ver no próximo episódio se você acertou. Eu acho que está morno. Obrigada, querida.

    1. Deisi, sua resposta não é má, mas vamos ver se foi realmente isso? Na semana que vem eu vou contar – passe aqui pra dar uma olhada! Um beijo!

      1. Andrea… e eu não gostei nada! Deixei crescer de novo… Quanto à opção… Será? Vem ver semana que vem se acertou. … obrigada, querida!

    1. Claudia, querida! Minha Resposta para você foi parar lá embaixo! Sua resposta é quente – vamos ver na próxima semana o que realmente aconteceu?

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