O conceito de crescer/superação pessoal/ se esgotou. As fórmulas que levam as pessoas a se comprometerem com seu “crescimento pessoal” se extinguiram por conta própria. Foram consumidos, geraram benefícios as pessoas envolvidas, porém alcançaram seu limite.

Mas por que declarar o esgotamento de uma noção tão cheia de boas intenções? Simples: no nosso inconsciente noções como amadurecer ou superar-se não podem ser obrigatórias e, quando são, causam o efeito oposto: as pessoas se sentem desvalorizadas, perseguindo ideais muitas vezes fora do seu alcance.

Esse problema é tão antigo quanto a cultura. Platão descobriu que a essência da transformação humana não é baseada na linguagem. O que isto significa? Que há coisas que não podem ser alcançadas apenas com palavras. Que ao contrário das fórmulas comerciais de autoajuda: “o universo não aceita não como resposta”, “mentalize seus objetivos”, “querer é poder”, “coma o mundo”, a essência do ser humano é muito mais ampla que a autossugestão, ou formulas para as relações interpessoais.

Que o interpessoal prevaleça sobre os mantras de sucesso que nos vendem tem uma origem mais profunda, que o século passado só escondeu com seus muitos recursos audiovisuais, não necessariamente comunicativos. O mesmo aconteceu com a alimentação saudável, que foi pervertida com o boom do hiperconsumo de salgadinhos, gorduras trans, salsichas e conservas promovido por uma indústria milionária desde os anos oitenta.

A questão da evolução emocional das pessoas foi mal interpretada. Nós nos “nutrimos” com conservantes e “crescemos” com fórmulas estranhas à nossa natureza emocional. O resultado é um encobrimento da subjetividade, justamente o que há de melhor no ser humano. A base de todas as nossas infinitas possibilidades mentais.

O termo “crescer” é importado da biologia celular e embora seja tentador reduzir o humano à biologia, o que é conhecido como a posição “organicista”, os resultados são falaciosos e o organicismo entrou em crise já no século XX. O que acontece com a mente das pessoas é diferente: na verdade não crescemos mentalmente e, se você preferir, regredimos com a idade, biologicamente falando. Em relação ao corpo, o estilo de vida pode ajudar a minimizar, em parte, essa decadência.

Mas, ao contrário do corpo, as emoções humanas nunca param sua luta evolutiva. Mesmo nas pessoas mais confusas ou neuróticas, porque uma neurose é sempre uma luta até a morte pela evolução emocional. A neurociência provou que a memória da infância, puberdade, juventude e idade adulta coexistem no cérebro, embora suas interconexões mudem com o tempo.

Então, quando se fala do emocional, o ser humano não cresce, mas agrega complexidade emocional e se quiser, epistemológica. Nesse sentido, ninguém tem a idade que pensa ter, mas todas as idades de sua vida estão juntas interagindo ao mesmo tempo. Soa familiar? Quando acreditamos que o passado está perdido para sempre, basta cheirar um perfume amado para despertar as musas.

O acima comentado nos abre novas perspectivas. O objetivo não é crescer como as plantas, que o fazem sem a necessidade de neurônios, mas resgatar do esquecimento a experiência emocional e aprender a administrar seu aprendizado. Que a infância coexista com a idade adulta não é trágico ou desvantajoso, mas uma fortaleza. Não existe a concepção de “adultos” como condição isolada no tempo psicológico (o tempo não existe no inconsciente humano). 

A própria palavra “adultos”, que é útil nas ciências biológicas para classificar doenças e calcular doses de medicamentos, não é útil para compreender a subjetividade integral do ser humano e seu uso, ainda hoje, é fonte de confusão.

Muitos se perguntarão o que acontecerá se dissermos adeus ao “crescimento”, essa palavra tão vendida de “desenvolvimento pessoal” e que hoje é tanto ou mais inútil que a sua “prima” a “autoestima”?

E a resposta provisória é que, se nos libertamos da obrigação de crescer, podemos voltar nossa atenção para o que importa: nos aproximar de quem realmente somos e conhecer as verdades emocionais desconhecidas que governam nossas vidas e que, essas sim, podem mudar o nosso futuro.

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1 comentário
  1. UM OLHAR SOB NOVA PERSPECTIVA, FICOU PARA MIM NESTE ARTIGO. VOU ME ABRAÇAR COM CARINHO E DEIXAR ESSA ESSÊNCIA SEM IDADE FLORESCER EM MIM. gOSTEI! OBRIGADA.

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