Machos fazem filhos. Cuidar já são outros 500. No mês do Dia dos Pais, me vem à lembrança a omissão do pai das minhas filhas bem como os relatos feridos de amigas mães solteiras. Não por viuvez ou opção. Pior. Por abandono.

Ouvimos histórias às pencas, de brasileiras com pouca escolaridade, a maior parte com certidões de nascimento capengas. Ano passado mais de cem mil crianças nasceram no Brasil e não tiveram o nome do pai registrado. Falta o progenitor. E quando o registro é mono, crianças têm dificuldade de acesso à herança, plano de saúde e é claro, à pensão alimentícia.

Nas rodinhas da elite, madames cariocas inventam várias saídas para esse desleixo. Desde a etiqueta de Mulher Maravilha envergada tipo broche até a opção tecnológica de comprei o esperma na prateleira pois nunca quis um pai para o meu filho. Verdade ou não, vejo situações ainda tão desequilibradas entre a maternidade e a paternidade.

Sempre soubemos que nosso fardo era maior. Engravidar, gerar, parir, cuidar. Mas nessa equidade de tarefas, tudo ainda é gogó. Os homens dizem que agora trocam fraldas; colocam para arrotar; fazem adaptação na escola, mas o fato é que só dão as caras no Natal, Páscoa ou puteiro. Aliás isso ainda existe? O pai ainda aquece o piruzinho do filho através da iniciação sexual mais primitiva? Tempus horribilis, diria.

Mas o que eu quero debater aqui é a nossa obrigatoriedade de sermos o pau da barraca. Porque? Porque só as mulheres estão ali? Firmes, estoicas, inabaláveis. O que não muda é o choro aflito no banheiro, são os joelhos dobrados na Igreja; é a angústia de se ver sozinha nesse mundão, tendo que dar de comer para as nossas bocas.

Experimenta “largar” seu filho. Se você é homem continuará sendo um bom profissional, um bom amigo, um cara legal. A mulher é demonizada caso se recuse a criar seu filho. Piranha, louca, má. Essa cultura machista se valeu, e muito, da romantização do afeto feminino às crias. Segregaram as mulheres em cozinhas, quartos, salas – num apartheid doméstico – conveniente ao homem. Viramos serviçais.

E mesmo hoje, em 2022, essa balança é desigual. Dirão: as novas gerações estão revendo esse conceito e dividindo mais as tarefas de cuidadores. Será? Quando o Flamengo joga é ela quem vai pra geral? O sol está a pino em Ipanema, é ela quem vai dar um tibum na praia? Ah, uma massagem agora ou um retiro em Petrópolis? Sei não. Eles simplesmente vão e a gente fica com mil minhocas na cabeça e desiste.

É sobre isso que eu escrevo. Sobre esse cativeiro moral. Quero uma revisão dessa paternidade. Quase uma CPI. Passar e repassar os quereres e deveres de cada homem que usa seu equipamento em vão. Fazer é fácil já diziam. Criar, nem tanto. Que a sociedade brasileira reflita se precisamos povoar o mundo com nossos descendentes ou se seria uma grande sustentabilidade parental não procriar. Menos filhos e mais atitude. Quase uma vistoria do papel do pai brasileiro na intimidade.

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