Cenário 1: Estou sozinha em Berlim fazendo um curso durante o fim de semana. A sensualidade típica de sábados à noite toma conta de mim. Ligo para meu marido. Conto para ele que estou com vontade de sexo. Ele: “Você não tem o telefone daquele homem que encontramos outro dia no clube? Liga para ele! Depois me conta. Com detalhes!” Liguei, em meia hora estávamos nós em momentos muito eróticos na cama do quarto do hotel onde eu estava… Duas horas depois, já sozinha, liguei para meu marido e dei meu beijo de boa noite. Cansada e com sono, disse que contaria tudo quando voltasse para casa. Feliz e satisfeita, adormeci.

Cenário 2: Estávamos novamente no nosso clube predileto, aquela mansão linda, com excelente jantar, whiskies de ótima qualidade, serviço impecável e clientes de bom gosto. Quando lá vamos, muitas vezes usamos os espaços reservados ao sexo a dois, por livre arbítrio. Pois, só o fato de estarmos naquele ambiente sensual, já é o bastante para aguçar nosso erotismo. Mas nesta noite… meu marido sentiu-se atraído pela dama de um casal presente. E logo sumiu com ela para a suíte, voltando depois feliz e carinhoso, muito carinhoso. Eu havia ficado com o marido dela no bar, saboreando um drinque e conversando sobre Deus e o mundo. Bom…

“Se você ama alguém, deixe-o livre. Se ele voltar, é seu. Se não, nunca foi.”

Meu marido e eu nos conhecemos online, há treze anos, em um site em que muitos homens, poucas mulheres e inúmeros casais estão à procura de aventuras eróticas. Desde então somos um par. E vivemos, desde o início, um relacionamento aberto. Estamos casados há seis anos e queremos envelhecer juntos.

Não caímos na cama no nosso primeiro encontro, como quase sempre acontece com usuários de sites para encontros sexuais sem compromisso. Jantamos e conversamos sobre tudo, como qualquer casal, porém com uma diferença: falar abertamente sobre sexo foi imediatamente natural na nossa comunicação. O que é sexualmente importante para mim, para ele. Nossos desejos, nossos fetiches, nossas fantasias, nossos valores.

E logo ficou claro que temos um ponto em comum muito importante: nós dois acreditamos que amor e atração sexual são dois sentimentos independentes um do outro e que podem coexistir. Estamos convictos de que um amor pode ser muito profundo, mesmo sem atração sexual. E que atração sexual é possível, mesmo sem amor.

Somos curiosos, sedentos de novidades. Amamos o jogo da sedução. Provar do sabor, do cheiro, das ações e reações de outras pessoas e viver aventuras nos dá uma sensação de vida da qual não queremos abdicar. Quase sempre juntos, numa imensa cumplicidade sensual, que só aumenta a chama da nossa paixão. Mas também cada um por si, dando liberdade ao outro e saboreando o momento da volta, para os braços do amor verdadeiro, do cúmplice da vida.

Acreditamos que liberdade, sinceridade e diálogo são essenciais para que um relacionamento aberto possa ser um relacionamento satisfatório, bem-sucedido e feliz. Assim como valores: alguém adepto à monogamia jamais estará feliz num relacionamento com alguém convicto de que somos feitos para ter vários parceiros sexuais. E vice-versa.

Pude perceber, após ter conhecido muitos casais adeptos ao relacionamento aberto, que existem inúmeros modelos deste tipo de ligação, divergindo este de casal para casal. Uma coisa em comum: costumam conversar abertamente entre si sobre o assunto e apreciam o fato de poder fazê-lo sem tabus. São extremamente tolerantes, sem preconceitos sexuais. Respeitam casais que pensam de forma diversa da deles. Abominam a mentira e a infidelidade. Estabelecem suas próprias regras, fazem pactos para proteger esse amor generoso e especial, às vezes usando palavras ou ações como códigos pessoais para serem usados em determinadas situações.

Entre casais adeptos a uma relação aberta, um pacto muito comum: caso um deles se sinta atraído de forma arrebatadora por uma terceira pessoa, antes de se apaixonar perdidamente e atingir o “point of no return”, conversar imediatamente sobre o fato com o companheiro e decidir, juntos, sobre o futuro.

Essencial é nunca mentir e sempre comunicar necessidades, desejos, insatisfações e medos.

Todos os anos, meu marido vai com alguns amigos a uma festinha de confraternização em uma casa de massagens luxuosa das redondezas. Enquanto seus amigos usam de grande imaginação inventando mentiras para suas mulheres, meu marido diz: “minha mulher sabe para onde vou e quer que eu me divirta”. Seus amigos o admiram.

“Mas… você não tem medo de que ele se apaixone por uma outra mulher?” você há de me perguntar. E minha resposta vem de imediato: não. Nunca me senti tão segura em um relacionamento! Sei que meu marido jamais encontraria uma mulher melhor que eu. E indo mais longe ainda: se você fizer a mesma pergunta para ele, tenho certeza de que sua resposta seria idêntica. E ele está certíssimo.

Veio a pandemia, tudo mudou. Nenhum encontro sensual com terceiros. Sim, sentimos falta do ambiente erótico do “nosso” clube. As férias de verão na cidade nudista de Cap D’Agde, no sul da Franca, onde nos surpreendemos ao encontrar por lá muitos casais brasileiros, cancelamos. Dois anos mais velhos, fomos forçados a nos aquietar. Sim, nos vemos mais acomodados e apreciando muito nossos momentos sensuais a dois. O que virá, o futuro há de mostrar.

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24 comentários
  1. Susanne.. que delícia ver sua história compartilhada. E é compartilhando que a gente inspira e encoraja as pessoas a terem momentos felizes, não é? beijos da sua colega do time Inconformidades.

  2. Texto corajoso e incrível como sempre! Super interessante ouvir esse relato de relacionamento aberto, experiência essa que nunca tive mas acredito que funcione para mtos casais que tenham maturidade suficiente para tal! Me encheu de curiosidade! Bjos

    1. Não existe “careta”. Ser apegada é, também, amar! Sou muuuuuuito apegada ao meu marido, mas nem um pouquinho ciumenta! O único jeito de não sofrer: sinceramente plena! Obrigada por me seguir aqui!

  3. Penso que o futuro será assim, pessoas livres para ir e vir, sem as convenções construídas ao longo dos tempos pelos seres “humanos”. É um futuro distante, mas acredito que chegará. Que bom que encontrasse o caminho do que te faz feliz. ?

    1. Mas estudos mostram que os jovens – pelo menos aqui pela Europa – estão mais monogâmicos, dando mais valor à instituição „casamento“, família. Vamos ver o que o futuro trará. Na minha opinião, o mais importante: respeito e sinceridade! Obrigada por me acompanhar aqui!

  4. Vc é fantástica! Que coragem e audácia escrever experiências tão íntimas . Ahhhhh se pudéssemos dividir nossas questões privadas sem a sensação -falsa- de proprietários que o amor teima em ter!!!
    A M E I ?

    1. Como me escreveu uma amiga:
      „Quem faz não conta e quem não faz morre de curiosidade.“ Eu decidi contar e talvez inspirar ou libertar uns e outros…
      Você sempre aqui. Obrigada!

    1. Deva, querida. Motivo de escrever sobre isto foi ver o tema abordado recentemente numa live, mas muito superficialmente. Tema tabu, situação bem desconhecida de muitos. Resolvi mostrar como funciona, que tudo pode ser normal, desde que com respeito, é só uma questão de perspectiva. Obrigada por estar sempre comigo.

    1. Estou surpresa em ver como esse texto tão aberto, abordando um tema tabu tão desconhecido está sendo assim aceito com respeito e tolerância por todos. Obrigada pela parte que te toca. Obrigada por sempre me apoiar e seguir aqui também!

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