Outro dia resolvi fazer as pazes com o meu corpo. Definitivamente. Estamos nesse vai e vem emocional há quase cinco décadas e eu realmente precisava colocar um ponto final no desencontro que foi a nossa história até agora. Dar um basta nessa mágoa que ainda hoje tenta nos envolver e seduzir. Me despedir do que fiz da imagem que tínhamos um do outro.

Não fui uma hospedeira carinhosa, confesso. Ou honesta. Pior, meus maus-tratos perturbaram tanto o nosso relacionamento que talvez o tempo perdido não possa ser compensado ou curado completamente. Talvez. Castiguei tanto as possibilidades de acordo entre nós, tentando esquecê-lo, ou transformá-lo, acusando-o de ser o único culpado por termos que abrir mão de viver tranquilamente, que a nossa paz quase não aconteceu. Rivais do mesmo time.

Acordar para o absurdo da minha covardia foi o que nos reuniu naquela tarde de verão em frente ao espelho, admirando quem havíamos nos tornado, nossos cinquenta anos desenhados nele tão delicadamente. Foi ali que nos libertamos.

E para esse nosso recomeço nos prometi, finalmente, o que nunca tivemos enquanto acreditei apenas no que ouvia, e não via, aceitando calada a farsa da impossibilidade da celebração das nossas formas. Quando perdida me escondi até mesmo do prazer que sentíamos, ou proporcionávamos, como se fosse indigno, menor, errado.

Embebedar-nos das cores que nunca usamos, abusar de tudo o que é ousado, descarado, deixar o máximo das nossas curvas à mostra, fazer do nosso nu a mais sexy expressão da beleza de sermos quem somos. Será tudo e tudo ainda vai ser pouco.

Porque a partir de agora nada mais nos será tirado, tolhido, ou imposto.
Porque estaremos felizes, juntos, até o fim.

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