Adoro o mês de março, e não é só por conta da agradável redução gradual das elevadas temperaturas de verão, ou pelo surgimento dos deslumbrantes céus estrelados e temperaturas noturnas amenas; nem mesmo por celebrar nesse mês o milagre que foi ter trazido ao mundo meu filho ariano, companheiro no gosto pelas artes, menino de sabedoria incomum para sua idade, de personalidade forte, mas também sensível, meu Davi, anagrama de vida, que bem representa o mais forte sentimento transbordado no agradável e inesquecível dia 23 do celebrado ano de 2006.
Março, ainda, é o mês inteiramente dedicado à celebração das conquistas políticas e sociais da luta pela igualdade de gênero, já que no dia 8 se comemora mundo afora o Dia Internacional da Mulher e, por essa razão, o mundo volta os olhos e a atenção às questões afeitas à alma e condição feminina.
Minha proposta desse mês, além de render homenagem a todas as mulheres importantes na minha vida, que me inspiraram e continuam me inspirando, apoiando e incentivando, serve também como alerta e por que não, busca criar uma nova rede de apoio, afinal #juntassomosmaisfortes.
Um brinde a todas e cada uma de vocês que, generosamente, e com muita sororidade, prestigiam, com amor e empatia, esse espaço maravilhoso no qual me vejo rodeada de pessoas interessantes e inquietas, mas acima de tudo, inconformadas.
Esse mês, como forma de agradecimento, e com a intenção de fortalecer e apoiar o incansável trabalho de todas as muitas fadas sensatas (adoro essa expressão) que conheço, tanto as que escrevem comigo aqui no Inconformidades 45+, quanto aquelas com as quais convivo, e que me inspiram nas leituras e nos diversos espaços de troca de informação de qualidade, tanto famosas quanto anônimas, e que, corajosamente, expõem suas angústias para reflexão conjunta, visando o empoderamento feminino, nadando em águas sempre tormentosas!
Entro também nessa corrente positiva de iniciativas de propositura afirmativa, afinal, #estamosjuntas!
Além de uma sólida rede de apoio, que ajuda a identificar nossos próprios comportamentos atípicos e que algo não vai bem no âmbito doméstico, certo é que a informação de forma clara, e trazida por meio de mecanismos de fácil acesso, é o instrumento mais precioso para se combater a questão da violência doméstica e equidade de gênero.
Em primeiro lugar cabe lembrar que, para algumas mulheres, há muito afastadas do seu círculo de convívio, e até mesmo da sua própria família, resta apenas a busca de respostas de forma solitária, sem autonomia. Por isso devemos olhar com atenção para nossas vizinhas, amigas, colegas de trabalho, para todas as mulheres que convivemos. Pode ser que elas estejam precisando da nossa ajuda.
Observado isso, trago aqui algumas dicas práticas de empoderamento feminino, e também de comportamentos que facilitam a identificação da violência muitas vezes tão sutil que se torna quase invisível, tudo como forma de prevenção, enfrentamento e ruptura de qualquer ciclo vicioso e negativo de violência doméstica:
- Busque sempre sua independência e autonomia financeira – não deixe de exercer seu ofício por imposição de ninguém, a menos que essa seja uma decisão pessoal e jamais te leve a uma indesejada dependência financeira com quem mantenha relacionamento afetivo (essa dependência pode criar um ciclo vicioso muito mais difícil de ser rompido);
- Procure sempre fortalecimento pessoal através do autoconhecimento e priorização de atividades que lhe tragam prazer e conforto mental; não hesite em buscar ajuda, procure sempre uma escuta qualificada, converse com alguma advogada de confiança, invista em sessões de psicanálise, faça yoga, meditação, qualquer esporte para liberar endorfina;
- Mantenha uma rede de apoio com pessoas de seu relacionamento íntimo para que sempre possa desabafar, trocar experiências e encontrar afeto e acolhimento, em eventual fase de necessidade;
- Desconfie de ciúme exagerado e tentativa de controle de sua vida, mantendo-a sempre sob seu exclusivo controle, com sua desejada independência emocional e auto estima;
- Em qualquer relação é importante, além de autonomia, a divisão justa de despesas de acordo com a capacidade financeira individual, e não a divisão meio a meio das despesas de forma automática e aleatória, especialmente se algum dos dois na relação receba mais que o outro com seu exercício profissional; ou seja, a divisão deve respeitar a desproporção dos recebimentos;
- Todos seus pertences exclusivos ou de propriedade comum, independente do valor, devem estar disponibilizados para seu uso e caso rendam frutos, também é seu direito que sejam prestadas informações sobre seus rendimentos (aplicações financeiras, imóveis locados, ações em bolsas de valores, distribuição de lucros societários, empréstimos, quaisquer atos de alienação ou aquisição patrimonial entre outros exemplos);
- Tenha sempre sob seu cuidado e conservação seus documentos pessoais como passaporte, carteira de habilitação, cartões de banco, e bem assim seus objetos de uso pessoal como o seu celular, sempre procure se lembrar que autonomia e individualidade é o pressuposto principal para um relacionamento afetivo saudável;
- Nunca se cale ou tenha vergonha de expor sua dificuldade. Acredite, embora as pessoas não costumem expor suas fraquezas e dificuldades, todas passam por momentos difíceis e provavelmente, dentro do seu círculo pessoal, existem outras pessoas que já passaram pela mesma experiência.
Finalizando, hoje são muitos os canais de informação e as ferramentas disponíveis para orientação e fortalecimento das mulheres, e esse espaço aberto neste canal tão rico, é mais uma interessante via no caminho desse desejado e necessário empoderamento feminino.
A proposta é sempre a de um esforço conjunto de todas, buscando maior autonomia, empatia e mais união, é a de dar as mãos umas às outras, e quebrar, de uma vez por todas, esse ciclo de rivalidade enraizado culturalmente, e continuar trilhando, juntas, esse caminho do acolhimento, empatia e sororidade. Um dia, unidas, venceremos.
“Toda mulher leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração.”
Clarice Lispector