Sou do tempo em que ser engenheira, médica, advogada era um must. Mas tanta coisa mudou. Aliás, ter chegado aos 56 anos e ver esse rosário de novas ocupações tem sido um misto de encantamento com perplexidade.
Tinha parado no dog walker – caminho de sobrevivência para muitos cariocas que perderam renda e se agarraram na coleira alheia para andar com os pets das madames de Ipanema e do Leblon. Depois veio o consultor financeiro para endividados. Profissão das mais requisitadas neste #brasildemerda com tantas perdas – humanas e vis.
Mas descobri lendo uma matéria sobre o seriado da Netflix, “Bridgerton” –top ten dentre os telespectadores brasileiros– que existe a profissão de coordenador de intimidade. Fiquei bege. Como assim? É um coach de corpo, misto de advogado com terapeuta corporal.
No roteiro, os atores recebem, literalmente, um guia de onde mãos, lábios, dedos, partes íntimas irão se fundir umas nas outras – pré-simulando um coito, um beijão de língua, uma mão boba na bunda e sei lá mais o quê.
Achei estranho esse cuidado, mas depois pensei: com tantos abusos nos sets –envolvendo atrizes novatas ou super divas– faz todo o sentido esse tipo de ajuda profissional contra a mão boba. Os movimentos #metoo, #meucorpominhasregras, #mexeucomumamexeucomtodas gerou um novo código de conduta de ética em muitas profissões. Se isso é um empata-foda da naturalidade como os atores vão encenar, fazer o que?
Mas prefiro mil vezes o combinado do que o desabado. E nas minhas andanças cariocas, penso que a profissão de coordenador de intimidades poderia estar presente no BRTs, metrôs, ônibus e trens que a mulherada daqui está exposta.
Eu mesma já virei a mão na cara de um sujeito que tirou o bilau pra fora e quis brincar no meu play. Mas podia ter levado uma facada, um tabefe que quebrasse meus dentes ou mesmo sofrer um curra coletiva. Neste quesito, as brasileiras ainda perdem de lavada pra seus pares gringos. Uma pena.
1 comentário
Kika,
Não sabia mesmo dessa história de “coordenador de intimidade”, mas sim, é necessário! Infelizmente não há coordenador de intimidade no dia a dia…Minhas mãos na cara do infeliz que fizer isso, podemos dizer que esse é o tipo de coordenador. Vou te contar uma história que aconteceu comigo quando eu tinha uns 18 anos: eu estava saindo do curso de vestibular a caminho de casa; quando eu ia virar a rua, um homem saiu do carro correndo ( nessa hora eu pensei que ia ser ou assaltada ou sequestrada) e mostrou as partes íntimas pra mim. Fiquei em estado de choque e sai correndo gritando. O pior é que antes de chegar em casa, parei no comércio para beber água de tão nervosa que eu estava. Ouvi algo que nunca pensei que pudesse ouvir de um estranho: “Mas o que você fez?” Como assim eu fiz? Tenho essa história até hoje como algo que nunca vou entender ou superar.