“Assunto estranho esse de ISTs na maturidade… Minha médica veio com essa história ontem. Disse que preciso usar camisinha com novos parceiros… Fiquei sem palavras. Nunca peguei uma IST na vida, não vai ser agora com 57 que isso vai acontecer, né?”, diz Amélia, recém-separada de um casamento de 23 anos, a sua nova amiga do trabalho.

Assim como Amélia, estudo observacional no Brasil em 2005 constatou que 9 em cada 10 mulheres, entre 56-65 anos, desconheciam a importância do uso do preservativo e não o usavam. Exagero? Provavelmente não… Preocupante? MUITO!!!!

Outro estudo mais atual, realizado em Botucatu-SP em 2015, testou aleatoriamente idosos de 60 a 75 anos para Sífilis, Hepatite B e HIV. O que se observou? Que aproximadamente 4% dessa população tinha uma IST (infecção sexualmente transmissível, sem necessariamente apresentar algum sintoma) e não sabia.

No Brasil, a infecção pelo HIV é de notificação compulsória. O que significa isso? Que quando alguma pessoa testa positivo para o vírus, o profissional de saúde responsável pelo teste precisa obrigatoriamente notificar o caso para o Ministério da Saúde. Com isso, temos números que representam melhor a realidade. Mas é aí que fica mais assustador.

Segundo o Ministério da Saúde, na faixa entre 50 e 59 anos houve aumento de 41,6% nos números de pessoas infectadas entre 1998 e 2010. Um aumento de 15,6 para 22,1 casos em 100.000 habitantes. Já na faixa acima dos 60 anos, esse aumento foi de 42,8% no mesmo período. Passou de 4,9 para 7 casos em 100.000 habitantes. Ou seja, parece que estamos de olhos fechados para o problema, e ele está cada dia mais perto de nós.

Além dessas citadas acima, existe uma variedade de infecções sexualmente transmissíveis, desde a candidíase (sim, às vezes, ela é transmitida sexualmente), trichomoníase, herpes genital, HPV, clamídia, gonorréia, dentre outras menos comuns.

Voltando ao tema dificuldades com a camisinha, a resistência ao seu uso pode estar associada ao constrangimento em adquiri-lo, ao desconhecimento de como usar, ao medo do parceiro de perder a ereção efetiva ao colocar a “vestimenta” e ao conceito equivocado de que serviria apenas para evitar uma gravidez.

Outra questão, é que com o advento das pílulas como o Viagra e o Cialis, os homens com mais de 50 anos estão transando mais e, às vezes, com múltiplos(as) parceiros(as).

Sem camisinha? Sim! Num número expressivo de vezes… ou seja, estamos correndo mais risco para usufruir da nossa sexualidade sem saber. Nos preocupamos com pílulas para aumentar a nossa libido e acompanhar esses parceiros, sejam usuários da pílula azulzinha ou com os mais jovens, mas nos esquecemos de colocar o “cinto de segurança” ao embarcar para dar uma volta nesse “veículo” chamado sexo. Meninas, é necessário apenas uma volta para a gente se ver às voltas com medicações para controlar infecções sexualmente transmissíveis. Entendem?

Pior, às vezes, são as infecções sem cura, como o HIV e a Hepatite B. Ou seja, precisamos falar sobre isso. Nos consultórios médicos, no café com as amigas, nos happy-hours e dentro de casa com os parceiros e parceiras. Falo disso pois há grande tabu sobre o assunto, e com isso, as infecções sexualmente transmissíveis correm soltas, sem controle.

Qual a solução?
Resposta da Amélia: “Meu parceiro não vai usar a camisinha, eu não o conheço suficientemente para pedir que a use, tenho vergonha, vai achar que eu sou rodada, melhor não transar, então, ou vou correr o risco mesmo…”
Nããããoooo!!!!!

Se até hoje não aprendemos a usar a camisinha de forma natural nos nossos relacionamentos, está na hora de aprender! Pode começar com um papo sobre cuidados com a própria saúde, sua e do parceiro(a). Pergunte quando foi a última vez que ele(a) foi ao médico para checar se tudo estava bem. Se os exames de “rotina” estão em dia. Não é preciso vasculhar o passado de ninguém, apenas testar se hoje existe alguma infecção. Sem julgamentos nem constrangimento.

Depois, pode-se argumentar que o uso da camisinha vai proteger os dois…igual a máscara em tempos de COVID-19. Melhor prevenir, certo?

Outro ponto é a qualidade e variedade de preservativos que existem hoje no mercado, para pênis grande, pequeno, com textura, com sabor, os que aumentam a sensibilidade, retardam a ejaculação, camisinha feminina e por aí vai. Pode ser uma boa propor uma pesquisa de “produtinhos”, a internet facilita isso, e vocês experimentarem cada dia uma diferente. Vai lá e pesquisa, e depois volta aqui para me contar as novidades.

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