“Se pudesse, o que mudaria em você?”, foi o que li, na mensagem compartilhada que recebi logo cedo de manhã. Me pareceu tão simples. Fácil. O que mudaria? Nada, escrevi sem pestanejar. Segura do que construí. Não preciso mexer nas peças que consegui encaixar com tanta dificuldade.

Mas a pergunta não era “o que você faria diferente” ou “o que mudaria na sua vida”. Ela queria saber o que ainda não estava bom. O que, em mim, para mim, ainda não estava suficiente. Apesar de todo o meu trabalho para conseguir o conforto que sempre quis. Dos fantasmas que empurrei para debaixo do tapete. Os que não assumi. Eram deles que a pesquisa pretensamente inocente falava. Foi quando levei um susto. E apaguei, letra por letra, aquela resposta mentirosa.

Porque sim, quero mudar tudo, as vezes nada. Ser levada pela correnteza, carregando comigo as minhas convicções – para quem sabe soltá-las pelo caminho – e deixar que percebam que estive sendo uma e várias durante esse tempo todo. Tempo demais entre a paz e a verdade, sem saber o quanto estou disposta a sacrificar a primeira pela outra.

Gostaria de me livrar da necessidade que tenho de deixar quietos os meus medos e insatisfações. Entender o que me impede de colocá-los para fora, tornando a minha entrega pouco valorizada, meus desejos invisíveis, inaudíveis, como se tudo fosse barato.

Queria ser mais leve. Não acreditar sempre e imediatamente nas minhas impressões, influenciada pela suposição que tenho do olhar de fora. Certezas tão incertas. Não me importariam mais as críticas, duras, implacáveis, as minhas, cerceando a espontaneidade do que carrego em mim.

Quero mostrar quem eu sou, mais e sempre, as minhas falhas, aquelas das quais me arrependo, as que fingi esquecer, as que me fizeram mais sábia. Tirá-las do posto equivocado onde as coloquei, covarde, para que percam finalmente o peso e a importância do seu significado.

Acima de tudo, e se me fosse a única concedida, apagar a memória da ansiedade no meu corpo seria a minha melhor benesse. Poder fracioná-la em pequenas doses até que o seu veneno se perca dentro de mim como um bom vinho, familiar, permitido. Como se nunca tivesse me imobilizado ou corrompido. Ver a sua influência castrada, confinada ao prazer de entorpecer a minha alma sem rasgá-la. Seria o meu último muro de pé.

Ilustração: Tyler Spangler

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