Uma tarde dessas, uma amiga me chamou para um café. Na verdade era só um pretexto para desabafar: “Eu quero me separar. ” Fiquei muito surpresa. E aquelas fotos do instagram? Tão lindos e felizes.

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Enquanto esperávamos o nosso pedido chegar, ela deu detalhes. Não estão mais sintonizados. Talvez nunca estiveram. Transar não é a única coisa que deixaram para trás.

Já não se sentam à mesa juntos, o horário de dormir não coincide, não trocam olhares e não usam mais os apelidos criados no início do namoro, no Carnaval de 2006.

Ainda comemoram datas, mas só aquelas inevitáveis: os aniversários dos dois filhos e de alguns familiares. De vez em quando, frequentam eventos juntos, aqueles que julgam ser obrigatórios.

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Já na metade da xícara do espresso, ela soltou: “Não quero ter a vida da Francesca”. E desabou a chorar.
“Que Francesca?” perguntei, curiosa.
“A Meryl Streep!”
Soa familiar, não?
Minha amiga foi descrevendo “As pontes de Madison”, filme de 1995, que fui me lembrando aos poucos.

As primeiras cenas mostram os filhos de Francesca relendo o diário encontrado depois da sua morte. A trama se passa em flashback e traz a história da personagem interpretada por Meryl Streep.

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(Atenção: spoiler a seguir, cuidado!). Uma mulher casada que se apaixona por Robert (Clint Eastwood), um fotógrafo da revista The National Geographic que está na cidade para registrar as pontes cobertas do condado de Madison.

Juntos por quatro dias, eles vivem um romance avassalador, mas que Francesca toma a difícil decisão de não levar adiante.

Ainda sob lágrimas e soluços, minha amiga pergunta retoricamente: “Por que Francesa fez essa escolha? Seria medo da paixão? Fica claro que ela se arrependeu para o resto da vida! Apesar de tudo, o marido dela era bom e a respeitava.”

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Eu arrisquei um palpite: “Talvez isso bastasse para ela.”
Assim que chegaram mais dois cafés, continuei. “O que você faria se fosse a Francesca?.”
“Eu fugiria com Robert.”, respondeu ela.

Fiquei em silêncio, e minha amiga passou a enxugar as lágrimas. Ela não conseguiu terminar a segunda xícara. Pedimos a conta. Ao se levantar, ela me olhou e, com muita segurança, falou: “Eu não tenho um fotógrafo me convidando para fugir, mas sonho com um. Devo esperar por ele ou acabar com meu casamento antes?”

Minha amiga é uma mulher financeiramente independente, jovem e bonita. Entendi pela conversa que considera o marido um pai dedicado, profissional competente (como Richard, o cônjuge de Francesca no filme), mas que não lhe dá a mesma atenção e cuidados dos primeiros tempos. Não há romance e sim amizade – e ela não gostaria de perder isso.

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Por que tantas “Francescas” e “Francescos” abrem mão de viver novas paixões? Claro que fui rever o filme e uma frase da personagem de Meryl Streep explica sua decisão:

“(…) o amor não obedece às nossas expectativas. Seu mistério é puro e absoluto. O que Robert e eu tínhamos não poderia continuar se estivéssemos juntos. O que Richard e eu compartilhamos desapareceria se fôssemos separados.”

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8 comentários
  1. A primeira vez q assisti este filme n gostei muito do final, era uma outra época em minha vida. Hoje em minha atual situação ele é um dos preferidos. E faz todo sentido. Este é o mistério da arte, consegue dizer e expressar o q as vezes a gente ñ enxerga ou ñ consegue.

  2. Lembro exatamente do vazio que senti quando Francesca decidiu ficar, decidiu pelo que conhecia, mesmo sabendo que não era feliz. Talvez porque eu fosse jovem senti o vazio, talvez porque senti a tristeza de Francesca em decidir pela felicidade alheia e não pela sua. Isso me faz pensar que Francesca e sua amiga são filhas do mesmo patriarcado. Uma independente financeiramente e outra uma mãe que cuida da família é não tem seu próprio sustento. Ambas, contudo, com o vazio de não sentir mais amor. Será isso?

  3. Vivi uma situação semelhante. E bem na época do filme. Eu tinha um casamento morno. Tinha 29 anos, cheia de vida e planos, me apaixonei perdidamente por outro. Como sempre, conversei com meus pais a respeito.
    Meu pai questionou : E se for fogo de palha? Vc vai acabar um casamento de quase 8 anos? E se? E se…
    Eu apenas disse que depois dessa grande paixão , de qualquer forma, eu não poderia voltar para “aquele” casamento e que tb não teria vocação para ter um amante. Não tinha filhos, o que tornaria esta decisão menos difícil. Mesmo que fosse algo temporário. Não foi… Hoje , ele é meu marido, amante, companheiro e pai da minha filha. Há 22 anos.
    Esse filme me marcou muito, pq aquela dolorosa decisão (qdo assisti ao filme) estava me rondando na época.
    Mesmo que não tivesse dado certo,atravessar a ponte me fortaleceria de qualquer forma . Me tornaria decidida a viver!!

  4. Este filme é lindo ! Mas , na época tb temos que pensar que ela abdicaria do papel de mãe . Muitas mulheres da geração da Francesca ficaram em casamentos por questões legais , financeiras , jurídicas ( perderiam a guarda dos filhos ) e até religiosas . A frase pinçada do filme é perfeita . No dia a dia esta linda paixão permaneceria ? A saudade que ela teria dos filhos ? Conheço uma que “ fugiu “ e depois se arrependeu e não foi “perdoada” nem pelo marido nem pelos filhos ( que se sentiram abandonados ) . Enfim , sem moralismos vida de mulher sempre foi difícil . Os homens sempre foram
    Mais livres ! O ideal seria “fugir “ para si própria e escolher ficar ou sair de um casamento por si , sem precisar de algum “ fotógrafo “ para se realizar . Depois , livre e feliz , poder viver quantas paixões queira , sem dependência emocional . Mas são poucas que conseguem né ? Bjs

  5. Nunca assisti o filme, com certeza irei procurar. Muito importante essa perspectiva que você pescou, Maisa! Um não existe sem o outro, sejam pessoas ou sentimentos. Tudo interligado! 😉

  6. Nossa , Ma , amei esse texto . Esse filme é um dos meus prediletos ! Que coisa, né ? Ninguém se conforma com a decisão da Francesca! Mesmo com a explicação racional ! Beijos

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