Acho que sou da última geração que teve uma infância livre. Quando eu tinha nove anos, minha família saiu de São Paulo para morar no interior e então, o que já era bom, ficou ainda melhor! A área de permissão para brincar ganhou os limites do bairro e a gente passava o dia na rua… Fora todas aquelas brincadeiras deliciosas, tinha piscina quase diariamente e várias festas juninas por ano. Uma infância rica de aventuras e claro, perigos na maioria das vezes fantasiosos, mas que traziam fortes emoções e em muitos momentos, medo.

Foi em um desses episódios que me encontrei entre a tensão e aquela vontade de fazer xixi, que uma amiga me contou que tinha um mantra de proteção para todos os momentos que ela sentia o perigo eminente. Naquela confissão íntima de duas amigas de uns 10 anos de idade, ela me passou seu mantra e, a partir de então, é mesmo que me protege até hoje.

Foi também no interior que fui estudar em um colégio de freiras. Não que em casa meus pais fossem super religiosos, íamos a missa no Natal e na Páscoa, mas o colégio era bem estruturado e walking distance da nossa casa. A partir de então, aulas de religião ministradas na maioria por uma freira fofa, faziam parte da grade escolar. Foi nesse mesmo ano que fiz minha primeira confissão na preparação para a Primeira Eucaristia.

Achei um pouco esquisito ter que contar sobre minha vida e comportamento para uma pessoa que não me conhecia e que só reforçava a culpa ao invés de aliviar. Mas, tenho sorte de ter uma mãe carola moderna e logo na primeira oportunidade, me liberou dizendo que a confissão podia fazer ali mesmo no momento da comunhão em um papo direto com Deus, sem intermediários. Ufa! Agora a culpa era só eu comigo mesma…

A religião seguiu paralela na minha vida, mas nunca gostei tanto de congregações. Sou muito sensível e a energia da fé me comove, por isso acabava preferindo ir à Igreja sozinha em momentos em que estivesse praticamente vazia. Porém, há alguns anos, passei pelo momento mais difícil da minha vida e participei de uma batalha espiritual em grupo, fortíssima e que sou grata até hoje. Era o momento certo para viver aquela experiência e também para começar a entender como eu gostaria de afinar a minha espiritualidade.

Nesse tempo entendi que amadurecer é se libertar de padrões, preconceitos e também religiões. É abrir um canal direto com seu Deus interior. Pedir pouco e agradecer muito. Se aproximar da natureza e deixar a espiritualidade crescer dentro da gente através da conexão com o todo. Continuo com meu mantra, agora ainda tenho um Salmo que rezo todo dia, várias vezes ao dia… para agradecer, para pedir ou só por rezar porque é muito lindo.

Também estudo Cabala, tenho letras e sopros espalhados pela casa onde afino a sintonia da minha vibração através de respirações. Medito. Quando perco alguma coisa (todo dia) não tem pra ninguém se não, meu São Longuinho. E se passo em frente a Igreja São José é espontâneo e verdadeiro um sinal da cruz com agradecimentos no nome de cada um da família e principalmente, aos que não estão mais entre nós.

Brinco que sou ecumênica. A minha espiritualidade independe da religião e cada vez mais vejo sentido na frase que minha professora de Yoga repete toda terça e quinta: “Que a gente consiga cada vez mais alinhar pensamentos, palavras e ações. Isso sim é viver em paz e andar de mãos dadas com Deus.

Amadurecer é maravilhoso, inclusive espiritualmente!

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1 comentário
  1. É isso aí Ana Lúcia querida!!
    Espiritualidade madura não deixa prá traz as nossas açoes concretas na vida real e os resultados que construímos, não?
    Adorei seu último texto do ano e desejo que venham muitos outros assim inspiradores em 2022!!
    Obrigada por compartilhar.
    Lídia

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