A adolescência é o primeiro momento das maiores mudanças das nossas vidas. Das mais intensas e reais dores, das maiores perdas, dos grandes amores, do tudo ou do nada, apesar de, quando adultos, a colocarmos no limbo das lembranças. O regaste do adolescente que fomos e, principalmente, de como nos sentimos naquela época, nos aproxima do maduro que estamos nos tornando hoje.

Mesmo sem perceber, a revisitamos, na nossa própria pele ou na pele dos nossos filhos. Fazer as pazes com a nossa rebeldia adolescente nos transforma em maduros mais serenos. Ou ainda mais rebeldes, com causa. Nas duas etapas passamos por uma importante mudança de pensamento. Na maturidade, acrescentamos à essas mudanças a busca do conhecimento de nós mesmos.

A adolescência assusta, a maturidade também. Quem sou eu, como e para onde vou são perguntas constantes nessas duas fases da vida. Na primeira, a plasticidade do pensamento perde força e chega a ser quase impossível para o adolescente perceber alternativas às situações difíceis. Na segunda, nos acomodamos ao nosso universo, zona de conforto, seja ela financeira, afetiva ou emocional e, encontrar saídas possíveis do lugar em que nos colocamos é tão duro que muitas vezes escolhemos ficar nele. Às vezes uma doença nos atravessa nos forçando ao movimento.

Na primeira metade da vida vivemos três grandes lutos. O do corpo da criança, dos pais idealizados e da identidade infantil. Fazendo um paralelo, na segunda metade, também revivemos os mesmos lutos: o do corpo jovem, dos pais que precisam de cuidados e/ou da dor da perda dos mesmos e da identidade vivida até então que, num determinado instante, parece não fazer mais sentido. Paramos de nos reconhecer; assustados, recusamos as mudanças, depois, as afastamos e só com muito auto-carinho as aceitamos.

E claro, hormônios! Entram em ebulição e depois em decadência.
A fertilidade da vida, escolhas, trabalho, lugar ao sol.
A infertilidade física, a busca pela fertilidade mental, novas escolhas, novos parceiros, aposentadoria ou um novo trabalho com um propósito de vida que faça sentido, lugar à sombra, água fresca. Ou vinho, ou gim ou negroni.

Passamos a vida aprendendo a construir as mais diferentes máscaras, colocando os mais variados filtros físicos e emocionais, vivendo papéis para lidar com o nosso mundo que demoramos metade da vida para construir. Para depois, desconstruí-lo.

E esse vai e vem que parece mais um quebra-cabeça pode ser sofrido, mas ao mesmo tempo, bonito. Passar por mudanças consciente das mesmas só nos faz crescer. Entender os sentimentos que nos assolam e poder acolhê-los só nos engrandece. A possibilidade de fazer escolhas conscientes nos faz cuidar de feridas mal cicatrizadas e nos possibilita ir ao nosso mais profundo e honesto encontro.

A adolescência da maturidade é a descoberta de que podemos nos tornar arquitetos do que estamos destinados a ser.

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