Por @rafaellanunes e @diariodeumcloset
– Não esquece de trocar a calcinha pra ir no médico!
– Não sai com calcinha velha, e se você for atropelada?
Já escutou alguma dessas frases? Nós já ouvimos muitas vezes, e quando a Rafaella levou esse assunto pros stories dela muitas mulheres se identificaram. Foram tantas que conversamos e esse texto nasceu.
As mulheres têm o que a escritora Naomi Wolf, em seu livro “O Mito da Beleza”, chama de “terceira jornada”: não basta termos que cuidar da casa e trabalhar fora, também precisamos cuidar fortemente da nossa aparência. Segundo a autora, quando, entre 1960 e 1990, o número de mulheres no mercado de trabalho americano aumentou enormemente e se tornou uma ameaça ao status quo masculino, intensificou-se a necessidade desta “terceira jornada”, onde a mulher não só gasta tempo como também dinheiro.
Os cuidados com o corpo são eternos: cabelos, maquiagem, pele, peso, roupa, e a nossa virilha, que nós duas chamamos carinhosamente de ppka.
Vulvas precisam estar depiladas na medida certa, e existem vários tipo de cortes de pelos diferentes. Mulheres não podem ser peludas, é anti higiênico, dizem por aí (curiosamente só os pelos das mulheres são anti higiênicos). Além dos pelos em formatos aprovados as virilhas também precisam estar vestidas apropriadamente para cada ocasião.
Uma roupa de escritório pede uma calcinha que não marque, não tenha cor, talvez uma calcinha bege. Mas uma calcinha bege é um crime hediondo na hora de namorar! Pode se tornar a culpada de uma brochada! E o réveillon? Todo um mercado se forma em torna desta data. Quer dinheiro? Calcinha amarela é o ideal. Paixão? Uma vermelha vai resolver todos os seus problemas. Aaaaahhh, amor é o seu desejo? Aposte no rosa. E por aí vai.
Claro que a calcinha PRECISA ser nova pra mágica funcionar. Agora, pergunta se algum homem se preocupa com a cueca que usa? Pergunta se homem atrela suas conquistas à cor da cueca… Claro que não! Mulheres têm a seu dispor lojas especializadas em calcinhas. A Victoria Secret, por exemplo, durante anos investiu fortunas em desfiles monumentais.
Achamos facilmente uma enorme quantidade de modelos, e tipos: Calcinhas de renda, cetim, malha, tecidos tecnológicos, lisa, estampada, tudo junto e com mais opções de cores que uma cartela pantone. Temos calcinha pra ir ao médico, malhar, namorar, trabalhar, não parecer que estamos de calcinha, dormir. Pera aí… e a roupa íntima masculina? hahahahaha!! A boa e velha cueca de malha e modelos com um número bem limitado de cores.
Nós, autoras deste texto, não temos nada contra calcinhas bonitas, inclusive gostamos muito. Nosso ponto é que usamos as nossas calcinhas porque gostamos. Não é por causa de médico, cara metade, colega de profissão; usamos pelo nosso prazer, e nossos pelos são como queremos que eles sejam. Acreditamos com força que se estivermos estiradas no asfalto quente, recém atropeladas a última coisa que vamos pensar é na calcinha que estamos usando e acreditamos que a equipe médica que nos atender também não vai ligar pra isso.
Liberem suas ppkas, virilhas, vulvas ou seja lá o nome que vocês queiram dar, da ditadura que paira em torno desta parte do corpo feminino.