Eu sempre ouvi que a medida em que vamos envelhecendo, ficamos chatas e cheias de manias. Como assim? Por aqui, só consigo perceber que com a idade vou ficando mais exigente com o que serve para minha vida. E bem mais criteriosa com o que permito ficar nela. E não é por falta de flexibilidade ou resiliência. Muito menos por não ter conhecido pessoas muito legais. É simplesmente por acreditar que não preciso (e nem mereço) me ajustar sozinha ao desejo do outro.

Para as relações serem prazerosas, felizes, duradouras e, principalmente, para terem lealdade, ambos precisam ter o mesmo objetivo. Querer, ceder, abrir mão, cuidar, precisa ser objetivo mútuo, e não unilateral. E também não pode ser um objetivo só da mulher.

Parece bobo falar sobre algo tão óbvio, mas tem um monte de gente que ainda acredita, por exemplo, que nós mulheres depois de uma certa idade devemos nos contentar com qualquer pessoa que se interesse por nós, justamente para não ficarmos sozinhas. É o famoso “pé torto para o chinelo velho”, conhece? E se eu apenas não quiser ser o pé (ou chinelo) de ninguém? E se acreditar (como acredito) que é o encaixe das mãos que vai guiar por uma boa caminhada conjunta?

Tem muita gente legal e disposta a se relacionar por aí. Mulheres e homens. Mas eu, aqui, só posso falar por mim. E por mulheres com quem convivo. Claro, sem procuração de nenhuma delas, apenas por ouvir muitas vezes que as pautas não mudam muito.

Com o passar do tempo, nós mulheres, aprendemos cada vez mais a olhar para nós mesmas. Algumas vezes até com mais egoísmo do que nos foi ensinado a fazer, o que é ótimo. E desenvolvemos cada vez mais certezas sobre o que gostamos – e o que não. Paramos de acreditar que é válido nos contentarmos com pouco. Aprendemos a conhecer nosso corpo muito mais e melhor e a entender o que nos dá prazer. E sabemos, a medida em que o tempo passa, o que e quem se encaixa.

Outra coisa, muito significativa, é que nós temos ainda mais certeza de que conversar é um estimulante poderoso. E aí entra outro ponto bem relevante. Buscamos nos relacionar com pessoas que tenham conteúdo e que saberão desenvolver uma conversa e sustentá-la por mais tempo do que um jantar. A sensualidade, o charme, a sedução estão muito mais associados à mente do que à beleza.

Nessa fase, já sabemos se gostamos, ou não, de acordar com alguém ao lado da gente, se é legal alguém dividindo a cozinha, o quanto de tempo queremos para nós mesmas. Nós realmente nos conhecemos tão bem que sabemos o que vai durar sendo bom. E sabemos com precisão o que não cabe na vida da gente.

Foi depois dos meus que 40 vivi uma das melhores relações da minha vida inteira. Um relacionamento maduro, com respeito ao espaço de cada um, com momentos deliciosos juntos, e com muita conversa boa por horas inacabáveis. Um relacionamento que foi infinito enquanto durou. Não por ser chama, mas por ser brisa. Aquela suave que traz frescor nos dias muito quentes, sabe?

Então, qual o motivo de tanta gente ainda se preocupar com a nossa suposta infelicidade, ou com nosso estado civil? E qual a razão pela qual muitas de nós ainda não estarmos cientes de que não precisamos nos acomodar e aceitar o tal chinelo velho, para evitarmos o rotulo de chatas?

A resposta, você deve saber tão bem quanto eu. A nossa cultura machista e etarista ainda não está pronta para assimilar que uma mulher de 45 anos, hoje, não parece ter 35, ou se comporta como uma mulher mais nova. Ela apenas tem 45, na versão mais atual da idade. Mais cheia de vida e de energia.

Nossa geração está mudando os conceitos de idade. Aqueles conceitos que foram difundidos por anos e que definiram o que era liberdade, individualidade, desejo, sexualidade, carreira e tudo o mais para mulheres “velhas”. A mulher de 40, 50, 60, 70, que somos, ainda não cabe no imaginário comum. E fica mais fácil continuar apegado ao estereotipo do que revisar seus próprios conceitos.

E é por isso que para tanta gente, ser exigente, criteriosa, ou que ter prioridades e saber o que quer ainda ganha esse rotulo “super generoso” de ser chata e cheia de manias. Até quando?

Forto da obra de @alia_pop

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