Até entrar no climatério eu nunca tinha pensado na complexidade do significado da menopausa. Seguia a minha vida previsível indiferente às transformações que até então pareciam ser razoáveis; usava diu e não menstruava há 15 anos, TPM inexistente, libido equilibrada na corda bamba. Ignorava sua proximidade óbvia e iminente, pois não me interessava esmiuçar algo tão mal explicado, sintomas que alguns diziam ser terríveis, outros comentavam com pouco caso, dando a impressão que esse zum zum zum talvez fosse um exagero de quem já não estava lá muito bem.

Na casa da minha infância e adolescência o assunto raramente era abordado. Uma palavra ou outra sobre o fato das “regras” da minha mãe terem “parado de vir” aos 40 anos, uma conversa aqui e ali sobre a polêmica do fazer ou não a malfadada reposição, e só. Apesar de ter sido criada por três mulheres. Nada de fogacho, oscilações de humor, lágrimas, dores, cansaço, e se houve impacto em suas vidas sexuais eu nunca vou ficar sabendo. Mesmo que estivessem vivas eu não perguntaria. Esse é o tamanho do tabu que envolveu a minha geração numa névoa de mistério sobre as circunstâncias do corpo e da sexualidade da maturidade.

Porque no passado aprendemos que as questões essenciais depois de uma certa idade deveriam se restringir às “ites” e “oses”, sem lugar para o prazer e a vitalidade, induzidas a acreditar numa velhice inerte e assexuada, enquanto líamos nas revistas dos meus 20 e poucos anos uma infinidade de técnicas da prática amorosa (voltadas para as recém-chegadas) mas nenhuma linha àquelas que recusavam aposentar a liberdade de usufruir a plenitude dos seus corpos. A juventude sempre foi vista como um trunfo e elixir.

E um dia percebemos que elas, maduras, agora somos nós. No melhor ato das nossas vidas, despreocupadas do olhar alheio, seguras das nossas ideias, desejos e identidades, desbravadoras de novas escolhas, confortáveis na pele que habitamos, donas também das nossas aflições.

De lá para cá conseguimos a duras penas devolver à menopausa o seu lugar de direito, tirá-la do papel de bicho-papão, sentença de fim de jogo. Conquistamos algum entendimento sobre a força e beleza do passar do tempo, uma revolução que vi crescer nos últimos dois anos e que só foi possível através de uma rede feminina de apoio e informação, fonte da minha educação. O fruto dessa semente bem plantada mudou o nosso rumo.

Não temos mais medo da mudança. Nem do ressecamento vaginal, da osteoporose, a queda de cabelo, prostração, barriga pochete, esquecimento, das consequências e realidade da queda hormonal. Para elas teremos certamente solução, alívio, ajuda profissional. O que queremos, acima de tudo, nessa brevidade de existência, como qualquer humano, é saúde e encantamento. Para poder gozar (também a vida) no final.

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