A menopausa é a última menstruação da mulher e seu diagnóstico geralmente é realizado com a história da paciente de que não menstrua há 12 meses. Ela é precedida pela transição menopausal ou pré-menopausa que é um período que se inicia, geralmente, após os 40 anos e que dura em média quatro anos. Essa fase vem acompanhada de todos aqueles sintomas que a gente está cansada de saber: irregularidade menstrual, ondas de calor, insônia, irritabilidade, secura vaginal etc.

É muito comum, também, entre as “menopáusicas”, a queixa da diminuição da libido que muitos gostam de correlacionar com a queda dos níveis de testosterona no nosso corpo.

Nós mulheres produzimos testosterona naturalmente em nosso corpo cuja produção começa na puberdade, e tem seu pico aos 30 anos de idade. Há quem diga que a “testo” é um hormônio feminino, pois tem várias funções naturais no nosso corpo, como no nosso cérebro e nos nossos genitais. Ela, sendo bem simplista, nos ajuda a fantasiar sobre sexo e, por isso, nos ajuda com a libido.

Após o pico dos 30 anos, inicia-se uma queda gradual da produção desse hormônio. Aonde eu quero chegar com tudo isso?

No seguinte ponto: a queda dos níveis de testosterona no nosso corpo não é abrupta e ela vai evoluindo à medida que envelhecemos, atingindo seu nível mais baixo após os 60 anos de vida quando produzimos 10-20% do que produzíamos aos 30 anos. Ao contrário do que se pensa, ela não acompanha a queda do estrogênio e progesterona na menopausa que é mais inclinada e vertiginosa, sabe? E, por causa disso, não poderia ser a única culpada pela diminuição da libido… Sim, porque muitas pessoas depositam na queda dos níveis de testosterona toda a questão de falta de desejo na menopausa, e não é bem assim.

Então, vamos detalhar outros aspectos da sexualidade feminina nessa fase para entender o lugar da testosterona na perda de libido.

Na menopausa, com o estrogênio em queda, há a diminuição da irrigação de sangue nos nossos genitais, o afinamento de todo o revestimento deste órgão e o aparecimento da vagina seca, com diminuição da lubrificação da mulher na hora do sexo e, por consequência, dor. Além disso, ocorre uma maior demora na resposta ao estímulo sexual. Para esclarecer melhor: precisamos de mais estímulo e mais tempo para chegarmos ao orgasmo. Então, nesse ciclo de vagina seca, sexo com dor e dificuldade de obter prazer, podemos observar a diminuição gradativa do interesse da mulher em sexo.

Outro ponto a se observar, nessa fase, é a mudança do metabolismo do corpo com ganho de peso e maior acúmulo de gordura na região abdominal, e com isso, um golpe na nossa autoestima. Nessa fase, portanto, a mulher pode ver diminuída a vontade de tirar a roupa e ficar nua diante do parceiro(a), com medo de ser julgada e perder o status de “gostosa”. Ela pode querer evitar ao máximo essa exposição e, por vezes, isso vai se refletir na cama com o parceiro(a).

Culturalmente, o imaginário popular coloca a mulher madura na “geladeira” e a mulher jovem no pedestal de fogosa, boa de cama e mais hábil em satisfazer o parceiro(a) na cama.

Quando envelhecemos, perdemos o posto da mulher desejável no pensamento de muitos homens e mulheres, e com isso, podemos ser facilmente excluídas da cena erótica. Se o parceiro(a) não tiver interesse genuíno nessa parceira, e vice-versa, o bicho pega. Eu atendo muitas mulheres nessa fase. O que vejo, muitas vezes, é que se o seu parceiro(a) ama a sua mulher e ela, o seu parceiro(a), e juntos querem ter prazer, os ajustes são bem mais simples de serem feitos para colocar a libido da mulher de volta aos trilhos.

Além disso, tem a “fase de vida” na menopausa. Geralmente estamos entre os 45-55 anos, fase essa que consome nossa energia de várias formas. Seja no trabalho, com filhos adolescentes, casamento de longa data muitas vezes em crise, responsabilidade financeira, pais idosos necessitando de cuidados e, com tudo isso, uma boa dose de stress.

Sem falar nos desequilíbrios na saúde, física e mental, que pode acontecer em qualquer fase, mas que vai aumentando à medida que envelhecemos. Seja uma hipertensão, o diabete, um câncer, uma depressão, um luto, o uso de medicações que interferem na libido, dentre outros problemas, que podem aparecer e jogar um balde de água fria na nossa libido.

Portanto, resumir o tratamento da diminuição da libido na menopausa com a reposição de testosterona é muito superficial e tem grandes chances de não funcionar. É claro que os níveis de “testo” no sangue estão mais baixos nessa fase do que quando tínhamos 30 anos, e muitas vezes, uma pitadinha dela junto com a terapia hormonal convencional com estrogênio e progesterona pode ser uma mão na roda. Entretanto, contar só com ela para melhorar e sustentar a nossa libido é o verdadeiro castelo de areia que, logo ali, vai desmoronar.

Então por onde começar?

Cuide da sua saúde. Vá ao médico e fale sobre as suas dúvidas e dificuldades. Procure terapia se estiver triste e desanimada. Exercite-se. Perca peso, não para se adequar aos padrões, mas para ter mais saúde e se sentir bem com o seu corpo. Reavalie as suas relações, converse muito com seu parceiro(a) e espere que ele(a) esteja ao seu lado, te apoiando, no caminho que você escolher para ficar bem. Deixo vocês aqui com uma mensagem final: a libido é uma energia de vida e ela só acaba no dia da nossa morte. Pode ser que a sua esteja escondida naquele quarto da bagunça que evitamos acessar, mas se está te fazendo falta, porque não se reorganizar para achá-la. Bora lá?

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3 comentários
  1. Obrigada por compartilhar seu conhecimento, achei sensacional. Minha ginecologista me prescreveu testosterona e não funcionou,lendo aqui pude compreender todo o contexto que envolve a perda de libido e me reconheci em vários pontos.

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