Acabei de voltar do Congresso Mundial de Menopausa em Lisboa e muito se falou sobre saúde cerebral. Aliás, 2022 foi o ano eleito pela International Menopause Society (IMS) como o ano do cérebro da mulher na menopausa, como forma de enaltecer e estimular os estudos sobre esse órgão essencial para a vida.

Com o advento do climatério, inicia-se o processo de aposentadoria dos nossos ovários, e, com isso, a queda na produção de hormônios como o estrogênio e a progesterona. Essas mudanças acabam por atingir todos os órgãos do nosso corpo, e, dentre eles, o cérebro.

Já sabemos que existe uma predominância de receptores de estrogênio, progesterona e testosterona em regiões especificas do nosso cérebro, em especial um lugar chamado Hipocampo (uma área bem no miolinho) e outro chamado córtex pré-frontal (mais ou menos na região da nossa testa) que são áreas conectadas e responsáveis pela memória verbal. Com isso, vemos algumas atividades cerebrais serem impactadas de forma negativa e criando sintomas que chamamos de névoa mental.

A função cerebral mais afetada nessa fase é a memória verbal que é a memória para aprender e lembrar de palavras para a gente se comunicar bem e com fluidez. Sabe quando queremos contar sobre o último capítulo da novela para uma amiga e esquecemos o nome das personagens? Ficando assim, uma história truncada, que às vezes nem conseguimos terminar?

Um grande estudo americano, já mencionado em outros textos meus, o estudo SWAN, avaliou mulheres na perimenopausa e pós-menopausa e observou que este sintoma aparece quando a mulher ainda tem menstruação, ou seja, na perimenopausa, e que ele costuma ser leve e sem grande comprometimento das atividades do dia a dia ou de trabalho.

O estudo SWAN mostrou, ainda, uma tendência de melhora dessa memória após a menopausa, mesmo em mulheres que não fizeram terapia hormonal. Mas não se sabe bem como isso ocorre. Estudiosos acreditam que o nosso cérebro aprende a conviver com a falta dos hormônios e aumenta suas conexões nervosas para compensar o problema.

Outros sintomas comumente encontrados nessas mulheres foram a dificuldade de manter a atenção e de velocidade de processamento. Este último sendo a dificuldade de tomar decisões ou de necessitar de mais tempo para resolver um problema.

Em geral, esses sintomas são leves e, como eu já mencionei antes, melhoram na pós menopausa. Entretanto, como toda regra tem exceções, em 10% das mulheres com queixas de névoa mental podem ter sintomas severos a ponto de interferirem nas atividades do dia a dia e de trabalho, podem persistir na pós-menopausa e, por isso, necessitarem de um acompanhamento médico mais especializado.

Bom, e o que se pode fazer para prevenir ou mesmo tratar a memória afetada na perimenopausa? Terapia hormonal ajuda?

Prevenir é o melhor dos caminhos e cuidar da saúde do cérebro tem relação com hábitos saudáveis. Estudiosos orientam a leitura, alimentação equilibrada (dieta do mediterrâneo), não fumar, praticar atividade física (principalmente a aeróbica), dormir bem, cuidar da saúde mental (por ex. depressão piora a nossa memória), manter atividades sociais, fazer ginastica para o cérebro com jogos, cuidar da saúde cardiovascular (por ex. tratar uma hipertensão) e evitar traumas na cabeça. Fácil? Até que é e não custa tão caro.

Sobre a terapia hormonal, o buraco é mais embaixo, e por mais óbvio que pareça, os estudos científicos ainda não mostram que as atividades cerebrais melhoram apenas pela reposição de hormônios.

E essa memória impactada na transição menopausal é um sinal de desenvolvimento de Alzheimer no futuro? Na grande maioria dos casos, não! Só precisaremos ficar atentos com aqueles 10% de mulheres com quadros mais severos e persistentes, pois essas, sim, podem fazer parte do grupo de mulheres com risco de desenvolver problemas cognitivos no futuro.

Para concluir, a névoa mental pode assustar e incomodar muito as mulheres que passam pela transição para a pós-menopausa, entretanto, a mensagem que precisa ficar é que, mantendo hábitos saudáveis, a tendência é da nossa memória voltar ao normal com o tempo e tudo ficar bem.

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