Confuso né? Mas tão comum. Síndrome de impostora. Auto cancelamento. Baixa auto-estima. Sabotagem. Sei lá! Só sei que rola na maturidade um zumbido no ouvido, espécie de pernilongo do mal que vira a gente do avesso e destrói nossa entrada no Olimpo do merecimento.

A gente sonha, rala, coloca o tijolo um por um, edifica, constrói e na hora de adentrar o nosso palácio, leva um estabaco logo na portaria. Não entra. Não comemora. Não orna. Não contempla. É só mágoa, daquela tipo Exu encarnado na face.

É tão comum esse banzo anti-vitória mas confunde porque a pessoa lutou muito para conquistar aquele desejo. Foi lá e fez e na hora de usufruir, panica. Eu que já gosto de um melodrama, de um “meu mundo caiu” acho que vira e mexe tenho esse sentimento. E não é bobagem. É perverso e só quem pode reverter essa vibe da coitadinha é você mesma.

Tarefa número 1: se sentir incrível. Tarefa número 2: se manter incrível. Tarefa número 3: assumir que você é genial. Loucura? Pra quem é econômica em bajulação, assusta. Mas não é que o universo conspira?

Agora que minhas filhas cresceram elas viraram gratiluz e estão me levando para o caminho de abraçar árvores, me perdoar e confiar no Pai Celeste. Até banho de louro terei de tomar. Acordam já com aplicativo do bem e vão dormir besuntadas de óleos essenciais. Por vezes zombo quietinha.

No meu tempo era apertar um, colocar Santana aos berros e filosofar Teilhard de Chardin. Não funcionou bem. Cresci pulando amarelinhas e me masturbando com a satisfação do fracasso.

Sempre gostei de loosers. Mais gauche, estranho, frágil, débil, me conquistava. Nas festas procurava o calado. Nas relações o bad boy. Nunca temi abismos até que entendi que me acostumei ao ruim.

Hoje, quase sessentona, voltei para o CA da vida. E recomeço me agradando, me adulando, me valorizando. Penteio meus êxitos e declamo minhas conquistas em voz alta. É um vestibular do acerto em meio a tantas sabotagens. Tomara que nessa prova eu não repita de ano. Eles estão se tornando escassos.

Envelhecer precisar trazer certezas. Mesmo que impermanentes e declaro aqui e agora nesse texto: o algoz nunca mais serei eu mesma. Doravante eu me perdoo. E você?

0 Shares:
1 comentário
  1. Kika,

    A frase “Nunca temi abismos até que entendi que me acostumei ao ruim”, me fez refletir a respeito de porque algumas de nós são atraídas para a beira do precipício, e flertam com a queda durante a vida inteira, achando que isso é coragem. Também já fui eu mesma um abismo para mim mesma, mas acredito que a maturidade, se bem aproveitada, nos leva a procurar por planícies.
    Adorei o texto!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode gostar:
Eclipse lunar
Saiba Mais

Eclipse lunar em Touro

Eclipse lunar sempre ocorre em dias de Lua cheia, quando nossos humores ficam tomados por grande expansão emocional. Alquimia pura!
Hipotireoidismo
Saiba Mais

Hipotireoidismo

Descobri recentemente que o motivo do meu cansaço e exaustão era hipotireoidismo, uma condição que é muito simples de tratar