Dias atrás eu atendi no meu consultório uma mulher de 58 anos que tinha algumas queixas sexuais. Chegou falando que tinha pouca lubrificação e, às vezes, dor na relação sexual, mas conseguia chegar ao orgasmo. No geral, estava bem satisfeita com o parceiro, com seu relacionamento e com a libido boa. Entretanto, uma das questões que ela levantou foi: até que idade eu devo me manter sexualmente ativa?

A minha resposta foi: “Você pode manter a sua sexualidade ativa e saudável pelo tempo que quiser! Sexo é saúde em todas as idades desde que seja prazeroso”. Mas vamos embasar essa conversa com a literatura médica para você entender do que se trata a saúde sexual?

Em primeiro lugar precisamos entender que sexo faz bem para a saúde. Segundo artigo “Sexualidade e menopausa” da revista Endocrinology and Metabolism Clinics of North America, em 2015, sexo em qualquer época da vida traz bem-estar e melhora a qualidade de vida das pessoas e, e ao contrário, a queda da atividade sexual com o envelhecimento pode ter impacto negativo na nossa saúde.

Em segundo lugar, precisamos entender a dimensão da sexualidade em nossas vidas. Segundo a OMS, Organização Mundial de Saúde, saúde sexual é “um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social relacionado a sexualidade e não meramente a ausência de disfunção sexual ou enfermidade”.

Ou seja, fazer sexo é algo que precisa trazer bem-estar físico: não se pode sentir dor ou se machucar na hora do sexo. Emocional ou mental: temos que sair com a sensação de que o sexo nos propiciou o sentimento de acolhimento e intimidade com o parceiro, e nunca nos remeter a abuso ou dor. Social: precisamos ter a sensação de adequação sexual e não nos sentirmos discriminados pelo tipo de orientação e/ou identificação sexual que nos encaixamos.

Portanto, usar apenas a libido ou número de orgasmos como um termômetro para a sexualidade saudável não é o caso, pois saúde sexual é muito mais ampla. Essa métrica de tesão ou orgasmos é bastante comum no pensamento das pessoas, mas o que importa de verdade é como você se sente satisfeita com a sua sexualidade como um todo.

Você pode ter menos libido, mas ter uma boa resposta a estímulos e se sentir bem com isso. Você pode ter menos orgasmos ou demorar mais para chegar lá, mas a sensação de intimidade te trazer bem-estar. Pode ter tudo, libido e orgasmos e, ainda assim, se sentir insatisfeita pela falta de intimidade, por exemplo.

Para ilustrar o que eu falei acima, trago um trecho de um artigo científico publicado na revista Medicina (Kaunas), 2019, sobre saúde sexual na menopausa, que diz: “A sexualidade humana é multifatorial e depende da integração de aspectos psicológicos, biológicos, relacionais e sociocultural. Isso é particularmente verdade quando falamos de saúde sexual feminina.

Se uma coisa não está boa, as outras não estarão também. A bem da verdade, a resposta sexual feminina é especialmente complexa por causa da inter-relação da resposta neuroemocional, dela ter intimidade no relacionamento e das dramáticas flutuações hormonais”.

Então agora chegamos no tema central da menopausa que é o efeito da falta de hormônios. Quando chega essa fase, além de termos que dar conta de um relacionamento saudável, ter um parceiro (a) ativo e com quem compartilhamos uma boa intimidade, ter saúde física e mental, sentir-se bem com o próprio corpo, de conseguir se isolar de tabus e crenças sociais, precisamos também lidar com a queda hormonal.

Essa baixa de hormônios, particularmente de estrogênio e testosterona, afeta diretamente a libido além de provocar a atrofia dos nossos genitais, e por consequência, diminuir a lubrificação na hora do sexo, o que pode gerar dor. Muita coisa, né?

Por isso, com o climatério e menopausa, vemos o aumento das dificuldades com o sexo. Segundo estudos epidemiológicos as queixas sexuais mais frequentes dessa fase, em ordem decrescente, são:
. diminuição de libido
. piora da lubrificação
. dor na relação sexual

Diante de todas essas dificuldades você pode imaginar porque tantas mulheres preferem jogar a toalha, não é?

O que eu posso dizer para vocês, do ponto de vista médico, é que, mesmo diante de desafios com o envelhecimento, podemos manter ou até conquistar uma sexualidade ativa e feliz. Para isso, precisaremos de interesse e disposição para investir em cuidados com a nossa mente, corpo e nos relacionamentos. Pode dar trabalho, mas vai valer a pena no final, eu te garanto!

Aqui eu lembro de uma paciente, no início da minha prática como ginecologista, que se casou com o amor da sua vida após anos de menopausa. Já tinha secura vaginal, mas o desejo pelo companheiro era imenso, o que disparou respostas sexuais ótimas, com muitos orgasmos, e a construção de uma sexualidade satisfatória para ela, apesar de já ter um certo grau de atrofia genital. A secura vaginal foi superada com o acompanhamento médico, muita intimidade com o parceiro e sexo.

Várias mulheres me procuram no consultório com queixa de secura vaginal e diminuição da libido na pós menopausa. É bem comum que a diminuição da lubrificação cause desconforto na hora do sexo e até dor, o que cria uma memória negativa para a mulher o que ajuda a baixar a libido.

O que precisamos saber é que existe um arsenal de tratamentos para cuidar tanto da atrofia genital como da diminuição da libido. Desde terapia hormonal, laser vaginal, fisioterapia pélvica, terapia sexual e por aí vai.

Concluindo, nós médicos podemos cuidar dos sintomas físicos e oferecermos conforto para essa mulher, que está envelhecendo, fazer sexo sem dor e com mais prazer na maturidade.

Agora voltamos a pergunta do começo do texto: qual a idade para paramos de investir na nossa sexualidade? A resposta é: não existe essa idade! Se você acredita que sexo é importante, em qualquer momento da vida, e te traz bem-estar e conexão com seu parceiro, vai lá e se cuida. Sexo faz bem e a nossa sexualidade não fica velha!

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