O nosso segredo é ele.
Porque de mim ele tem todas, ou nenhuma, navegando a minha instabilidade como se não fosse nada, como se valesse a pena até mesmo a nossa pausa.
Tudo é dele, apenas, despropositadamente.
Por me fazer amá-lo, e odiá-lo, por querer devorar a minha paz, a minha vontade, fingir que nos tornamos livres, depois estrear o nosso recomeço quando já não achávamos ter mais nada.
O familiar que me extasia e conforta, ainda, doce, quando vejo sua pele costurada em mim com o nosso suor. Vivos, vivos, porque ainda não descobrimos exatamente quem somos.
Sou eu o segredo.
Porque navego fácil ao sabor do vento, dia e noite, sem tirar as mãos do leme, alimentada pela fantasia do início estar recente em nós.
Porque ainda incendeio e acordo a nossa disposição, remontando nossos egos, peças de quem nos tornamos, nossa juventude, nossas filhas, o futuro, quando restou tão pouco daqueles que um dia fomos.
O segredo não existe.
Viveria guardado, se real fosse, na versão egoísta que eu criei dele, a que me agrada, ou a nossa, ilusória, encaixadas no formato das minhas expectativas inventadas.
É acaso, indecifrável, breve, mortal.
E a única preguiça que eu quero, enquanto valioso for o nosso amor, será não precisar ou querer colocar o meu corpo ao lado de outro que não o seu.