Hoje assisti ao documentário “Edifício Master”, dirigido pelo aclamado cineasta Eduardo Coutinho. O filme é de 2002 e conta um pouco da vida de alguns moradores deste antigo edifício situado em Copacabana.

O prédio tem 12 andares, 23 apartamentos por andar, 276 apartamentos e cerca de 500 moradores. Pessoas de todo tipo e das mais diversas origens. Algumas crianças, jovens e muita gente com mais passado que futuro.

Universo rico em histórias, colhidas por meio de depoimentos francos e espontâneos, para deleite do espectador.

Em um desses, a jovem recém-chegada de Barra de São João relata que se mudou para o Rio a fim de se preparar para o vestibular. Sente muita saudade do avô e sonha com o bolo de batata da mãe.

Em dúvida entre prestar vestibular para indumentária ou arquitetura, ela diz: “As coisas são engraçadas. Quando eu era pequena e me perguntavam ‘o que você quer ser quando crescer?’ eu sempre tinha uma resposta, sempre convicta. Hoje que eu já estou crescendo é muito difícil responder isso. Eu não me imagino sendo nada”

Esta afirmação ficou ecoando na minha cabeça depois que o filme acabou.

Que somos muito novos os 18 anos para decidir que rumo queremos dar às nossas vidas é fato. Mas o que me pegou nessa frase não foi essa dúvida, vivida por quase todos aqueles que têm a oportunidade de fazer faculdade.

O que ficou martelando foi a frase que todos nós ouvimos na infância e repetimos às nossas crianças: “O que você que SER quando crescer?”. Ser ou estar?

SER traz consigo a condição de perpétuo, imutável. Característica intrínseca. Definitivo. Acho que SER na vida só podemos mesmo SER humanos, SER filho do pai e da mãe e SER mãe e pai de nossos filhos. Nada mais.

Todo o resto é condição passageira, mutável. SER é definitivo demais.

Tenho impressão que quando declaramos SER alguma coisa – para nós e para o mundo – assinamos uma sentença definitiva. Mas por quê, se tão pouco em nós é definitivo?

Estamos em constante mutação, evolução. Passamos por grandes transformações ao longo da vida. Os anseios e necessidades da menina de 20 anos são muito diferentes daquela de 40.

É necessário e libertador aceitar que mudamos e, a partir daí, podermos nos reinventar, reprogramar.

Por isso tudo, prefiro ESTAR.

Acho mais fluido, mais leve, mais arejado. Gosto da ideia de poder mudar de ideia. De poder mudar de rumo.

Penso que a jovem do Edifício Master estaria mais confortável e menos pressionada com sua escolha no vestibular se soubesse que poderia estar arquiteta por alguns anos de sua vida e depois estar qualquer outra coisa que lhe faça mais sentido noutra fase da vida.

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15 comentários
    1. Excelente paralelo.
      Nunca tinha parado para pensar nisso.
      A lingua de shakespeare – sempre tão exata em suas definiÇões – falhou nessa.
      Estar é muito diferente de ser!
      “to be or not to be” – that is the question.
      Adorei teu ponto!!!
      Um beijo, Re

  1. Que texto bacana! Me encontrei muito nele. Já fui e já me senti muitas coisas e como você mesma disse, é libertador e de um grande alívio podermos ser, ou melhor, estarmos aonde quisermos em determinado momento. Eu hoje na casa dos 40 penso muito sobre a maneira de como eu era antes. Quando mais jovem, achava que não poderia fazer escolhas precipitadas, porque seria aquela a garantia do meu futuro. Mas não! é preferível estar. Viver de conformidade às nossas necessidades, vontades e onde a vida melhor nos encaixar. Sem medo de mudanças e nem de riscos. Porque viver é isto!
    Parabéns Rê. Mais um lindo texto! E hoje você uma ótima escritora / redatora / jornalista.
    Sucesso sempre, aonde você estiver.
    Beijos! ;))

  2. Gratidão minha linda por me colocar para Refletir …
    Eu sou centelha divina e estou Gabriela de muitas facetas , algumas temporárias e outras nem tanto rsrs
    Sinto que essa busca insessante existe pelo simples fato de não vivermos no aqui e agora e sim , sempre em busca do que um dia VIRÁ.. Assim nos tornamos ou depressivos ou ansiosos Ninguem além de nos mesmas podemos dar um basta nisso .

  3. que texto mais delicado e ao mesmo forte.
    Que libertador que é pensar que a escolha Com 18 anos nao precisa ser eterna.
    Mudamos simpliSmente
    Isso e muito libertador.
    Obrigada Renata por compartilhar
    Acompanho sua pagina COLEÇÕES.

    1. Marina,
      Com 18 anos eu achava que todas minhas escolhas seriam eternas.
      Isso colocava uma pressão imensa sobre mim.
      primeiro porque não me sentia especialmente vocacionada a uma coisa só (sabe aquele menina que diz que desde os oito anos de idade tinha certeza que queria ser isso ou aquilo??? pois é…não sou eu!).
      eu sempre quis e ainda quero “ser” um monte de coisas).
      E segundo porque, na boa, se aos 47 anos me sinto em transformação, aos 18 anos eu era pura ebulição!!! como decidir algo definitivo nesse contexto?
      Impossível, né? por isso mesmo vamos “estar” mais do “ser”…como toda a leveza que isso traz!
      Um beijo para você, Renata

  4. AdoreI renata! Sensacional!
    Obrigada por compartilhar conosco suas ideias e pensamEntos.
    É REALMENTE INCRÍVEL Como a jornada pra de Dentro nos mesmos nos tranforma e Ai mesmo tempo nos tras de volta ao nosso verdadeiro “eu”.
    Minha caminhada pelo autoconhecimento foi um divisor de aguas pra mim, um processo de cura, de gratIdao e de afirmacao de que e muito melhor mesmo “estar” do que “ser”.
    Adorei!
    Bjs
    Bel

    1. BEl,
      eu penso como você: o caminho é para dentro!!! autoconhecimento é tudo.
      É libertador saber quem somos, do que damos ou não damos conta.
      Só assim dá pra fugir do padrão pré concebido para tantas coisas (a maternidade, a vida profissional, a vida amorosa, intelectual, social) e seguir o nosso, do nosso jeito e com todos os benefícios dessa individualidade.
      Um beijo!!
      Renata

  5. Incrivel! Estamos sempre em CONSTANTE evoluÇão e hoje estou me renovando e Me reinventando entrando de cabeça em uma antiga paixÃo – a nutrição. E porquê não? Hoje estou advogada e em um futuro bem PRÓXIMO Vou ser /Estar nutricionista. Nada como o tempo e O constante aprendizado e evolução. Parabéns pelo texto e pela reflexão. Texto para ser sempre relido. Adorei!
    Bjs

    1. ma-ra-vi-lho-so!!! ainda mais se é para voltar a uma antiga paixão. Que este reencontro te traga muita alegria, te preencha e te nutra! Amei te ver por aqui. Um beijo enorme, Re

    1. Concordo com você…estamos sempre mudando. movimento é parte da nossa caminhada, né? fico feliz que você tenha gostado do texto. muito obrigada pela tua devolutiva!! um beijo, renata

  6. Eu nos meus 60 anOs, enfim, APÓS ler esse seu texto e me pegar pensativa, chego à conclu: nao sou naDa, estIve muitAs vezes e ainda estou. Novamente. E Muito PROVAVELMENTE nÃo pela ÚLTIMA vez… ObriGada Por ter-me dado a CONSCIÊNCIA disso.

    1. Oi, Susanne! que alegria ler tua devolutiva. eu também demorei um bom tempo para perceber que estou muito mais do que sou. e depois disso o passo ficou mais leve. com a certeza de que tudo (ou a grande maioria das coisas) é transitório., podemos ajustar as velas, mudar de rota. e apenas estar! um beijo para você, Renata

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Muito prazer, Renata Rea

Minha história profissional é como um romance: mudei algumas vezes de rumo, larguei tudo para trás e vou contar um pouco para vocês.