Tenho uma necessidade grande de passar pelo menos um tempinho do dia sozinha. Sempre tive, desde pequena. Talvez por ter crescido rodeada de adultos, não sei ao certo; gosto e me faz falta. Com a pandemia, esses momentos passaram a ser raros aqui em casa. Filhos adolescentes, marido, cachorro. Sim, faz parte, mas precisei me organizar de outra forma para que ir ao meu encontro pudesse ser possível.

Então resolvi prestar atenção em quais são meus pequenos prazeres diários que me seguram nessa rotina maluca. Um amigo uma vez me disse que esse é estando só o único jeito que eu descanso. Ele não deixa de ter razão, mas, mais do que isso, é a única maneira que eu me oriento.

Algumas prioridades estabelecidas dão o tom do meu dia. Acordo meia hora antes de todos, passo um café de coador, daqueles que o aroma invade a casa. Sento, paro, respiro e aí, sim, meu dia começa.

Priorizo também o meu momento de exercício físico. Não é todo dia, já foi mais; 3 a 4 vezes na semana me movimento. Musculação, alongamento e pelo menos um dia de aeróbico. Na academia do prédio mesmo. Não complico. Queria meditar, fazer yoga, me exercitar todos os dias, mas não dou conta. Já corri, fui disciplinada, mas esse meu tempo passou. Faço porque me sinto bem. E escolho os que me dão prazer. De preferência, sozinha.

Outra coisa que me faz um bem danado é passar para o papel tudo o que passa pela minha cabeça. Eu tenho a mente bem mais acelerada do que o meu corpo. Se não escrevo, esqueço. Me disseram que eu sou ar e preciso de fogo para concretizar minhas ideias. Tenho um bloquinho na minha mesa de cabeceira no qual faço anotações aleatórias, compromissos comigo mesma, uns tantos não cumpridos, sonhos, frases soltas, pensamentos interessantes, livros para ler, enfim, um banco de ideias. Vire e mexe volto nele e vejo alguns pontos anotados que caíram no esquecimento. Esse hábito tem altos e baixos, mas está sempre lá. Não deixa de ser uma maneira de revisitar minhas memórias.

Os meus momentos simples, que cabem perfeitamente na minha rotina, me alimentam, me centram, me fazem ser uma melhor companhia. Para mim e para os outros. Umas voltas com o cachorro, um café na padaria, uma taça de vinho vez ou outra também fazem parte das minhas escapadas comigo.

Na era das selfies faço o meu autorretrato analógico. Aquele que demora para ser revelado e vem com negativo. Pois é, ando assim ultimamente. Pegando meu próprio negativo, olhando contra o sol, refletindo o que quer aquela pessoa que vejo ali, contra a luz. Como diria Guimarães Rosa, “o correr da vida embrulha tudo”, e eu acrescento: então, é hora de ir ao seu encontro!

Foto: Eha, por Sirli Raitma

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2 comentários
  1. Parabéns mais uma vez Lívia. Gostei.
    Eu tb preciso de um momento sozinha todo dia. Minutos no nada. Sem pensar. Olhar. Ouvir. Tem sido difícil mas vou me adaptando a nova rotina. Bjss

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